Tinha vontade de ler algo de Michel Bussi desde a obra
O voo da libélula. Quando a editora
Arqueiro lançou Ninfeias Negras não
pensei duas vezes e o solicitei, sabia que não me decepcionaria – eu não podia
estar mais convicta disso.
A obra vai contar a história de três mulheres completamente
opostas. Elas vivem no mesmo vilarejo: Giverny. A primeira é má; a segunda,
mentirosa; a terceira, egoísta. As três não têm a mesma idade. A primeira tem
mais de 80 anos e é viúva, a segunda tem em torno de 36 e nunca traiu o marido,
a terceira está prestes a completar 11 anos e todos os meninos de sua escola
querem ser seu namorado.
Pouco sabemos sobre essas três mulheres. A primeira é
dona de um belo quadro, a segunda se interessa por artistas, e a terceira pinta
muito bem. A garotinha de 11 anos procura encontrar seu pai, a segunda busca um
grande amor, e a terceira, a mais velha, sabe coisas sobre as duas.
O que mais impressiona é que muitas pessoas atravessam
o mundo para passear por algumas horas em Giverny. O motivo é bem simples: por
causa dos pintores impressionistas. Esse vilarejo é famoso por ter sido um
local imortalizado por obras de Claude Monet entre 1883 e 1926, considerado um
dos maiores nomes do Impressionismo com seus jardins, a ponte japonesa e as
ninfeias no laguinho. Foi em Giverny que ele pintou a tão conhecida série
Nenúfares.
Ainda que elas sejam bem diferentes, há uma coisa em
comum: o desejo secreto de ir embora desse lugar. Por que elas desejam tanto ir
embora de Giverny? É difícil manter-se num lugar que você se sente aprisionado,
ainda que haja um belo jardim para admirar, existem grades que prendem essas
três mulheres. E um segredo, um grande tormento que parece não ter fim.
É nesse mesmo cenário que um respeitado médico é
encontrado morto. Ele foi assassinado com uma facada no coração, teve a sua
cabeça esmagada e, ainda, o seu corpo foi encontrado submerso num lago. Ao seu
lado havia um cartão-postal com a reprodução de uma das Ninfeias de Monet e uma
mensagem de aniversário com a seguinte frase: “O crime de sonhar eu consinto
que seja instaurado.” Os investigadores se veem presos a um crime que nada é o
que de fato parece.
É preciso observar vários detalhes no decorrer da
leitura. O nome da terceira senhora não é mencionado no livro, ainda que ela seja a narradora de grande parte da história. Já as outras mulheres
têm seus nomes revelados, a segunda se chama Stéphani e a terceira é a pequena Fanette.
Assim como existem outros elementos que é preciso ficar atento para captar, do
contrário, o leitor ficaria perdido e sem entender os fatos.
Quando estava faltando mais ou menos umas 30 páginas
para acabar o livro, comecei a me desesperar, pois o que estava sendo revelado
era tão estranho que eu pensei: “Será que estou entendendo isso certo? Preciso
ler novamente essa parte!” E li, mas não era esse o problema. A questão é que o
autor foi tão, mas tão criativo que me deu uma vontade desesperadora de gritar.
Como estive tão cega durante o tempo todo? Como? Por quê?
Tudo é muito estranho e misterioso. Enquanto lia eu
tive diversas ideias e tentei planejar várias possibilidades. No entanto, absolutamente
nada do que pensei foi o que de fato aconteceu. O desfecho foi algo tão
arrebatador, surpreendente que, quando finalizei a leitura, fiquei embasbacada
com a qualidade da escrita de Bussi. Ele sabe fazer um bom suspense, daqueles
que não queremos largar por nada.
Eu acertei quem cometeu o assassinato, mas isso não
tirou a grandiosidade da obra de forma alguma. Os detalhes foram tão bem
feitos, tão ricos que em certos momentos parecia com as descrições de Dan Brown
pois,
convenhamos, o cuidado, a inteligência e a perspicácia do autor são
incontestáveis, assim como a de Bussi. É difícil falar desse livro sem
elogiá-lo demasiadamente. Parece puxa-saquismo ou falsidade, mas não. A obra é
deslumbrante mesmo.
Não é necessário nem elogiar mais nada, mas ainda não
acabou. Essa capa é indescritível e a diagramação segue o padrão excelente da
editora. Ah! Sem falar no kit enviado pela Arqueiro, uma caixa linda, bem
resistente e com detalhes em cima e nas laterais da tampa. Além da caixa veio
um marcador e um botton. Eu não poderia ficar mais realizada, não foi apenas a
estética que foi perfeita, a história seguiu o mesmo ritmo.
Quem não leu Assassinato
no Expresso do Oriente, de Agatha Christie, pode pegar um spoiler neste
livro, mas certamente não vai entender e nem vai saber que se trata de um. Para
quem já leu, possivelmente vai sentir saudade da história – foi o que aconteceu
comigo.
Para finalizar esta resenha, quando concluí a leitura
de Ninfeias Negras já passava das 4
horas da manhã e eu fiquei a noite toda devorando o livro para descobrir o
desfecho. Quando terminei minha única vontade era lê-lo novamente, não apenas
pelo fato de já estar com saudade da história, mas para ler o início tendo
ciência desse final esplêndido. Eu preciso fazer isso e será breve.
Quotes:
“Bonita ou não, a questão não é essa! Não é assim que
funciona. É uma imbecilidade querer que sua mulher seja a mais linda do mundo.
O que isso quer dizer? Não é uma competição! Sempre vai haver em algum lugar
uma mulher mais bonita do que a que vive ao seu lado. E, mesmo que você consiga
casar com a Miss Universo, um dia ela vai acabar envelhecendo. Seria preciso
pôr a nova Miss Universo na sua cama todos os anos, é isso?” (p. 82-83)
“Estou
explodindo! Estou explodindo dentro da minha cabeça, só eu consigo ver, mais
ninguém, mas estou explodindo! Juro que estou! Mãe, pode deixar que eu lavo a
louça. Pode deixar que eu guardo os talheres. Pode deixar que eu passo a
esponja na mesa. Pode deixar que eu passo pano em todo lugar. Pode deixar que
eu pego a vassoura, varro e guardo depois. Pode deixar que eu faço tudo o que uma
menina deve fazer, tudo mesmo, sem reclamar, sem chorar, qualquer coisa.
Qualquer coisa. Contanto que me deixem pintar. Só quero que me deixem pintar.”
(p. 124-125)
Outras fotos:
Título: Ninfeias Negras (exemplar cedido pela editora)
Autor: Michel Bussi
Editora: Arqueiro
Páginas: 352
Ano: 2017