Iniciei este livro bem ansiosa pela leitura. Embora tenha outras obras do Dick, ao receber este exemplar da Cia das Letras já embarquei antes mesmo de ler a sinopse. Para quem não sabe, O tempo desconjuntado serviu de inspiração para dois filmes importantes: Matrix e O show de Truman. Quem já assistiu certamente perceberá a semelhança quando tiver lendo o livro.
O ano é 1959, numa pequena cidade dos Estados Unidos vive Ragle Gumm, um ex-militar de 46 anos que mora com a irmã Margo, o cunhado Vic e o sobrinho. Não há muito o que ser feito numa cidade tão pacata e com vizinhos inconvenientes. Então, Ragle é conhecido por participar, há muitos anos, de um concurso de jornal, e ganha dinheiro com isso. Nesse game, por meio de dicas, ele precisa descobrir a resposta certa. Sabe o que é mais engraçado? Ele sempre acerta. SEMPRE. Alguns ousam dizer que ele tem apenas sorte, mas Ragle se utiliza de métodos rigorosos e complexos para analisar gráficos e tabelas com intuito de desvendar a resposta correta.
O protagonista acha que está feliz vivendo essa vida pacata, até perceber que tem algo estranho acontecendo. Sabe aquela estranha sensação de que algo estava num lugar e, no dia seguinte, estava em outro? Até nos perguntamos se alguém mexeu em nossas coisas, se o cachorro tirou do lugar ou se simplesmente nós mesmos mudamos e não lembramos.
Ele sente algo bem pior que isso. Quando objetos do dia a dia começam a desaparecer e se transformar em papel, com palavras escritas (como “vasos de flores”, “barraca de refrigerante”), o homem passa a suspeitar que há uma conspiração ao seu redor. Acontecimentos corriqueiros começam a provocar dúvidas em Ragle, fazendo com que ele acredite que há algo errado com o tempo. Estranho? Pode ficar pior…
Primeiro, Ragle encontra uma lista telefônica e todos os números parecem ter sido desconectados. Depois, uma revista traz na capa uma mulher famosíssima que ele nunca tinha visto antes, Marilyn Monroe. A alternativa que ele encontra para descobrir o que está acontecendo é fugir da cidade e de todos esses acontecimentos bizarros, contudo, nem a fuga nem a descoberta serão tão fáceis quanto ele imaginava.
Um detalhe muito importante a respeito da obra é o ano em que foi publicada. É preciso ser um crítico bem observador quanto a isso, pois, se não pararmos para olhar esse fato, a nota na resenha pode cair. Ao lermos é bem óbvio que ficaremos com a sensação de ter visto ou lido isso em algum lugar. E nós lemos e vimos mesmo, é inegável. Porém, parem para pensar e analisar quem foi o autor, quem foi o copista e quem usou a inspiração de quem. Só assim poderemos captar, com mais precisão, a mágica ideia do autor.
Sobre a edição: A obra é uma edição especial em capa dura, com relevo no título e no nome do autor. A diagramação é simples, porém, proporciona uma leitura confortável. Fonte e tamanho confortáveis. Não encontrei erros de revisão.
Título: O tempo desconjuntado (exemplar cedido pela editora)
Autor: Philip Kindred Dick
Editora: Suma
Páginas: 272
Ano: 1959 / 2018