1 - Vamos começar com uma pequena apresentação. Poderia contar um pouco sobre você?
R - Olá! Meu nome é Bruno Crispim e eu sou escritor. Já publiquei alguns romances, entre eles O Segundo Caçador que venceu o prêmio Ufes de Literatura. E agora estou lançando Kaito: reze por uma boa morte, meu primeiro livro fantástico, pela Editora Ronin.
Também sou professor de escrita criativa no Guia do Escritor de Ficção.
2 - O que te inspirou a virar escritor?
R - Foi uma série de fatores que, juntos, me fizeram enxergar algo que eu fazia força para ignorar. Jogar RPG na adolescência (tanto de papel quanto no videogame). Adorar ler e ver filmes. Ter um pai leitor voraz. Ter uma mãe com olhar artístico. E, finalmente, ter ficado órfão de Harry Potter. Depois dele, eu decidi que ia escrever uma fantasia para chamar de minha. Esse foi o ponto de inflexão. A partir daí, alguma coisa mudou e eu não pude voltar atrás.
3 - Você também dá aulas de escrita, certo? Qual sua recomendação para quem quer começar a escrever alguma fantasia?
R - Certo. Existe muito para falar sobre esse tema, então vou me concentrar em um problema que aflige todos os autores de fantasia e sci-fi. Faça um planejamento leve. Não perca anos nele. Isso é procrastinação.
O importante é colocar o texto no papel. Sem dúvida nenhuma ele não vai ficar bom, nem o plano vai ser suficiente para acabar com suas inseguranças. Mas escrever é uma atividade prática. Exatamente como os atletas e outros artistas.
Você só evolui escrevendo. Você só domina a sua história chegando até o final algumas vezes. Pratique. Finalize textos menores. Aos poucos o processo vai ficando mais leve.
4 - Como você enxerga o mercado editorial brasileiro?
R - O mercado é muito fechado para o autor nacional. Existe uma predisposição dos agentes, editores e leitores a acreditar que os nossos escritores não têm qualidade. Um critério que não existe quando analisamos os autores estadunidenses.
Também não existe vontade de procurar por um bom texto – algo que o mercado de lá se orgulha em fazer. Então é o escritor que precisa fazer todo o trabalho de ser notado. O melhor investimento a se fazer é escrever um ótimo texto.
5 - Recentemente seu livro foi anunciado por uma editora, a Ronin. Como foi para você ver seu livro saindo do status de obra independente para um publicado por uma editora?
R - Ah, foi lindo demais. Todo o processo foi de um match muito grande. Eles estavam me procurando e eu estava procurando eles. Isso fez a jornada mais franca e transparente. Além disso, o objetivo da Ronin é publicar a melhor versão de Kaito. Eu estou muito feliz. E duas toneladas mais leve.
6 - Apesar de ter algumas partes no Brasil, o livro se passa quase totalmente no Japão. Algum motivo específico para o Japão ter sido o foco?
R - Exatamente. Partes do começo e alguns flashbacks acontecem no Brasil, o resto é tudo Tóquio.
Ah, o que não falta é motivo! Primeiro, eu adoro o Japão. Já fui três vezes para lá e na última fiquei dois meses com a intenção de deixar a cultura me impregnar. Bebi bastante dos games e dos mangás. Lá, essa influência ganhou poder e, como resultado, o texto ficou muito dinâmico.
Além disso, eu fui para escrever e deixei o local me dizer o que escrever. A premissa nasceu no caminho (em Seoul, Coréia do Sul). Então eu deixei Tóquio me dizer o que era essa história.
7 - Falando em Japão, a cultura dos animes e jogos estão muito bem ligadas com o livro, seja com os poderes, a forma que aconteceu o apocalipse ou outros detalhes. Teve alguma obra (seja anime, jogos e etc) que tenha lhe inspirado para a escrita de Kaito?
R - Diversas obras me inspiraram. De comédia brasileira à fantasia americana. Mas duas chamam a atenção: Tokyo Ghoul e Gantz – dois mangás bem diferentes e bem complexos. Contudo, não dá para negar a influência de uma sci-fi americana: Fúria Vermelha, ela não pegou aqui no Brasil, mas que é uma febre lá fora.
8 - Na minha opinião, toda a dinâmica do livro torna ele algo bem visual. Isso me faz pensar que uma adaptação animada ou quadrinhos cairia muito bem. Você já pensou em levar Kaito para outra mídia?
R - Na verdade, Kaito era para ser uma HQ em inglês.
Eu comecei a escrever um roteiro para quadrinhos muito influenciado pela agilidade dos mangás. No mercado deles, a concorrência é gigante. Se você não conquistar o seu leitor na primeira edição, já era. Fora que as edições têm outras histórias. Você concorre com elas também.
Por isso, o primeiro capítulo de Kaito é bem visual e foi trabalhado para fisgar o leitor de imediato.
Para o sonho da HQ, só falta um desenhista. E eu estou procurando aqui e na Coréia do Sul :)
9 - E sobre outros trabalhos? Está escrevendo algo no momento? Poderia Kaito ganhar alguns spin offs? E a continuação?
R - Estou trabalhando em um spin off nesse exato momento! Um que se passa no Brasil com novas personagens. Nele vocês vão conhecer Cassandra, uma adolescente que procura pela mãe no meio do apocalipse. Mas não fica com pena não, que ela é durona e vai atrás de quem for preciso pela mãe. Até do Criador.
10 - Poderia finalizar deixando um recado para os leitores?
R - Primeiro, eu tenho que agradecer todos vocês! Kaito está recebendo uma atenção muito bonita dos leitores. Só com o carinho de vocês o livro está conseguindo ganhar novos espaços – e agora novas estantes. E esperem por mais histórias nesse universo! Vocês vão gostar do que está por vir.
E para quem ainda não conhece Kaito, vocês têm o privilégio de conhecer o livro em uma edição lindíssima.
Prometo que você vai adorar ter esse livro na estante.
Leia de graça: aqui.