O assoalho do carro limpo, os bancos de couro brilhavam o reflexo daquela procura da troca de olhar; o cheiro de tutti-frutti incendiava aquele cenário em que ambos estariam próximos.
Ela entrou no carro, com as maçãs do rosto coradas pela vergonha de estar próxima mais uma vez de quem ela queria estar sempre perto. Insegura em beijá-lo, apenas sorriu fitando se nos lábios dele haveria a reciprocidade. É claro que sim.
Fechou a porta num estalo que mais parecia uma batida feroz de alguém irritado. Sem jeito ela se desculpou pelo destrato. O fato é que o carisma dela era tanto, porém, ficava abaixo das pilhas e pilhas do nervosismo e da vergonha. Sem jeito, ele sorriu e deslizou a mão no joelho dela, demonstrando preocupação por ela se sentir constrangida. Ambos apresentavam vergonha, ela demonstrava com seu olhar confessante; ele, por sua vez, demonstrava em seu suor frio e em sua fala quase gaguejante.
A vontade que ele tinha era de beijá-la, sentir seus lábios molhados e seu corpo quente junto ao dele, mas o desejo era interrompido pelas impossibilidades apresentadas. Ao notar seu corpo atraente; tua face, embora não tocada, era notória sua maciez; os cabelos longos e sedosos bailavam com o balançar dos ventos e os fios beijavam de leve sua boca carnuda. Ela, com o dedo indicador, levemente desprendiam os fios, enquanto deixavam os lábios entreabertos, isso o enlouquecia.
Por mais que ele estivesse fazendo um favor a Juliety, de apenas levá-la em casa, o que ele queria de verdade era percorrer o mundo com ela ao seu lado. E era bem isso que ela almejava também.
Ele seguiu o destino pedido, com cinco minutos depois, eles já estavam em frente a casa dela. Kennedy desligou o motor do carro e a fitou com promiscuidade. Ficaram por um minuto em silêncio, embora quisessem ficar quietos, mas não dessa forma.
Juliety interrompeu a ausência de som e agradeceu o favor. Movido pela coragem ele tocou seus cabelos e perdia seus dedos deslizando sua mão por entre eles.
- Não é necessário agradecer – respondeu ele, com um olhar pidão que ela reconhecia muito bem.
De repente as gotas do céu começaram a molhar o vidro do carro e aquela chuva forte foi aumentando por um longo período.
- Preciso descer, antes que a chuva piore – disse ela, mas almejando ficar.
- A tendência é melhorar, já se passou dez minutos e não custa nada esperar mais uns cinco.
- Não quero incomodar você mais do que já incomodei
- Você só me incomoda quando não me deixa fazer as coisas a você, isso é o meu prazer, faço com satisfação.
Ela sorriu e seus lábios não foram tão reveladores a ponto de demonstrar o contentamento de seu coração.
O telefone dele tocou, ele atendeu, ficou alguns instantes conversando. Ela virou o rosto, ficando de costas para ele, observou as gotas da chuva batendo na janela do carro; o clima quente, o ar embaçado, Juliety levou sua mão direita ao vidro, com o dedo indicador começou a escrever uma letra, mas no meio do caminho, desistiu. Ela queria escrever o seu sonho naquela janela, o sonho dela era a realidade de outra pessoa que falava com ele ao telefone, constantemente ao seu ouvido e o sentia como quisesse e quando quisesse.
Enquanto Juliety tentava escrever a sua vontade num vidro embaçado, a outra pintava a realidade de uma vida com o brilho da presença de Kennedy.
Sem demonstrar reação alegre, ele desligou o telefone e estava pronto para beijá-la. Juliety desceu do carro e agradeceu pela última vez. Sem dar tempo de ouvir a resposta, ela fechou a porta e prosseguiu com destino ao portão. Kennedy reagiu, abriu a porta, desceu e disse:
- Ei!
Sem pestanejar ela só virou parte do rosto
- O que há com você? – ele indagou
- Não há nada, só está tarde – respondeu ríspida.
Ele se aproximou, tocou sua cintura e abraçou-a:
- Há coisas que você precisa saber – disse em seu ouvido.
Ele a beijou, selou um beijo misturando o molhado de seus lábios com a límpida água que insistia em cair do céu. Ela queria, queria bem, queria mais, porém, interrompeu o beijo e disse:
- E há coisas que você precisa se desprender pra ter o que deseja – virou as costas.
Ele já sabia o que era. Ela o queria, ele a queria, mas um muro os afastava e só ele, somente ele, poderia desmoroná-lo.

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