Em 2015, a Editora Seguinte publicou Os bons segredos, um livro cheio de
descrições gastronômicas que acompanha a história de Sydney, uma garota que
sempre se sentiu ofuscada pelo irmão (mesmo após ele ser condenado à prisão por
atropelar um garoto), mas aos poucos encontra aceitação junto a um novo grupo de
amigos que a enxerga como ela é.
O livro foi escrito por Sarah Dessen,
autora americana que já vendeu mais de 8 milhões de exemplares ao redor do
mundo e é considerada um dos maiores destaques da literatura jovem adulta
contemporânea.
Como vários blogueiros têm lido e
resenhado Os bons segredos,
resolvemos chamar alguns deles para entrevistar a autora. Veja as respostas:
1. Para você, o que torna Os bons segredos especial em relação aos seus trabalhos
anteriores? Você tem alguma preocupação quando começa a escrever um novo livro?
Os bons segredos é especial para mim por vários
motivos, mas um dos principais é que talvez seja o livro mais ambicioso que
escrevi nos últimos tempos. É uma história sobre família e amizade, mas também
tem um romance importante. Há várias peças em jogo, o que às vezes dificultava
a escrita. Mas tenho muito orgulho da história de Sydney.
O que mais me preocupa quando começo a
escrever é 1) não terminar; e 2) não conseguir fazer jus à minha ideia
original. Em Os bons segredos,
sinto que cumpri esses dois quesitos. Pra mim já é suficiente!
2. De quais autores você mais gosta e
quais mais te inspiram a escrever seus livros?
Eu cresci lendo muitos autores
americanos sulistas, como Harper Lee, Lee Smith e Kaye Gibbons. Eu adorava o
fato de que as histórias eram sobre cidades pequenas, mas ainda assim tinham
muitas camadas e vozes diferentes. Também amo muito A Prayer for Owen Meany, de
John Irving. É meu livro preferido, um dos únicos que reli várias vezes. Cada
vez que leio encontro algo novo, diferente e significativo. Para mim, isso é o
que caracteriza um bom livro.
3. Uma das coisas mais marcantes em
seus livros são as reflexões que eles geram. É tocante vê-la abordando temas
tão complexos e, infelizmente, reais no dia a dia dos jovens. Por isso,
gostaria de saber qual das suas histórias foi a mais dolorosa de escrever
(exatamente por causa da complexidade dos temas abordados).
Considerando a complexidade dos temas,
acho que Just Listen e Dreamland foram os mais difíceis de escrever. Os
enredos envolvem abuso sexual e violência doméstica, respectivamente. Então eu
tive que construir minhas personagens e depois fazê-las passar por uma situação
horrível. Você acaba se apegando e se emocionando. Especialmente com a Caitlin,
de Dreamland, havia dias
em que eu precisava me afastar do computador e tomar um ar. Eu sabia que ela ia
ficar bem: eu estava decidida que ela ficaria. Mas até chegar lá, precisava
passar por muita coisa. E eu tive que encarar tudo com ela, de certa forma.
4. O que mais me chamou atenção no
livro foi o comportamento dos pais de Sydney. Apesar de todos os problemas com
o filho mais velho, eles continuaram a defendê-lo e Sydney sempre ficou em
segundo plano (e por muito tempo se acostumou a isso). A atitude dos pais dela
me parecia, em muitos momentos, machista. Essa realidade é algo que você
percebe em algumas famílias? Você se inspirou em alguém ao inserir esse drama
familiar na história?
Já ouvi muita gente comentando isso
sobre Os bons segredos desde que foi lançado, e entendo
completamente seu ponto. Para mim a questão não era o machismo mas a própria
forma como a mãe de Sydney encarava a vida. Seus filhos eram suas conquistas e,
até onde ela sabia, Sydney estava bem. Estava segura em casa, sob seu teto,
indo à escola. Peyton, por sua vez, estava totalmente fora do alcance e do
controle dos pais, então eles focavam as energias nele. Isso não quer dizer que
estejam certos. Mas também não acho que seja algo incomum. Você se envolve
tanto com os filhos desde que eles nascem porque é sua função garantir que eles
se saiam bem e se tornem boas pessoas. Se você sente que falhou nessa missão, é
compreensível tentar recorrer a tudo que estiver ao seu alcance para consertar
as coisas.
5. (A pergunta abaixo contém um spoiler sobre o livro)
Em Os bons segredos, Sydney vive uma situação de abuso
que só é realmente encarada por seus pais num momento crítico, devido à
dificuldade em acreditar que alguém próximo à família poderia representar um
risco para a própria filha. Isso é bastante delicado e sério. Você acredita que
abordar esse assunto em seus livros pode ajudar meninas que estão passando por
situações semelhantes a constatar o abuso e buscar ajuda?
Isso é, com certeza, o que eu espero.
Eu passei por uma situação parecida durante o ensino médio. Me envolvi com um
cara mais velho que eu conhecia e, com o tempo, percebi que ele queria ser mais
que meu amigo. Era bom receber atenção de alguém que eu considerava adulto; ser
levada a sério de um jeito que meus pais não levavam. Mas quando fiquei
incomodada com a direção que as coisas estavam tomando, não tinha ferramentas
ou maturidade para lidar com aquilo sozinha. Realmente espero que, quando os
leitores terminarem Os bons
segredos, eles entendam que alguém te deixar desconfortável é o
suficiente. Não é necessário que algo ruim aconteça para justificar que você se
afaste ou fale com seus pais ou responsáveis sobre o assunto. É o que eu queria
ter ouvido quando estava nessa situação. Sou grata por poder passar essa
mensagem através do livro!
6. Em seus livros noto sempre um toque
de esperança: por mais que existam dramas, o leitor não espera pelo pior e sim
por algo bom no final. A sua intenção é encorajar o jovem na busca pelo seu
próprio final feliz?
No sentido prático e realista, eu sei
que finais felizes nem sempre são possíveis. Coisas ruins acontecem e às vezes
não conseguimos evitá-las. Mas nos meus livros tenho controle sobre o que
acontece e gosto, sim, de deixar tudo resolvido da melhor forma possível. Como
leitora, não gosto de passar horas lendo um livro para no fim ficar totalmente
arrasada. Preciso de um pouco de esperança a que me apegar, tanto como leitora
quanto como escritora. E, pela minha experiência, devo dizer que as coisas dão
mesmo certo. Nem sempre acontecem exatamente do jeito que queríamos ou
esperávamos, mas a gente sempre acaba chegando onde deve estar, de uma forma ou
de outra. É o que espero para meus personagens e para mim.
7. Quando eu terminei de ler Os bons segredos, passei literalmente uns vinte
minutos encarando a minha pilha de livros a ler com o único objetivo de
resistir à tentação de voltar para a primeira página e começar tudo de novo. E
isso porque eu só fiquei uma semana com os personagens. Imagino que, para uma
autora que passa meses criando cada página e cada personagem, deve ser
complicado se despedir. Qual é o seu processo para dar adeus a personagens tão
carismáticos quanto os Chatham? Existe um processo ou para cada livro há uma
despedida diferente? Você já se pegou pensando nos personagens depois de
concluir um livro?
Ah, essa é uma pergunta tão legal! Obrigada!
Eu realmente sinto falta dos personagens quando termino um livro. Passo meses
diariamente com eles, ou até anos, com as revisões e tudo mais. Eles são reais
para mim! Mas, ao mesmo tempo, sempre tento deixar meus personagens onde sei
que vão ficar bem. Só assim posso partir para a próxima história. Não sou o
tipo de autora que escreve séries, então não posso revisitar meus personagens
em outros livros. É por isso que comecei a inserir pequenas aparições de
personagens antigos em livros novos. É uma forma de mostrar aos leitores que
todos ainda estão bem, felizes, que os casais estão juntos (pelo menos na minha
cabeça). Se fiz meu trabalho direito, fico tranquila de partir para o próximo
livro, porque sei que dei o meu melhor com o anterior. É como estou agora com Os bons segredos. É hora de
começar outra história. Só que ainda não estou pronta!
8. Você dedicou Os bons segredos para as garotas invisíveis. Que
conselho você daria a elas?
Eu diria que é muito provável que
vocês não sejam tão invisíveis quanto pensam. Só porque algumas pessoas não
estão te vendo não significa que ninguém está. E o que é mais importante, de
verdade, é enxergar a si mesma com clareza. Todo mundo se sente meio ignorado
às vezes: eu ainda me sinto, mesmo na casa dos quarenta. Não dá para todo mundo
ser extrovertido! Mas só você vai saber como deixar sua marca. E você vai
deixar.
O próximo livro de Sarah Dessen
publicado pela Seguinte será This Lullaby, sobre uma garota que está vendo a
mãe planejar seu quinto casamento e não acredita em relacionamentos duradouros.
O lançamento está previsto para o meio deste ano.
Fonte: Blog Companhia das Letras
Putz! Sou fã da Sarah desde que li Just Listen, livro maravilhoso, pena que a editora ID faliu e agora os livros estão smp caros
ResponderExcluirNATY!
ResponderExcluirAchei ótima a ideia da editora de colocar as perguntas feitas pelos blogueiros literários, dá mais interação.
Muito bom poder saber um pouco mais sobre uma escritora que gostamos.
“Saber é compreendermos as coisas que mais nos convêm.” (Friedrich Nietzsche)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Top Comentarista fevereiro, 4 livros e 3 ganhadores, participe!
A entrevista ficou muito boa. Goatei disso DD possibilitarem que os próprios blogueiros formulassem as perguntas. Também dá para ver que as respostas da autora emanam sinceridade.
ResponderExcluirAntes desse livro nunca tinha ouvido falar da autora, mas comecei a ler várias resenhas positivas do livro e fiquei com muita vontade de ler. E agora com essa entrevista fiquei com vontade de ler os outros livros dela também, gosto de livros que as histórias fogem do obvio e os livros dela parecem se encaixar perfeitamente nisso.
ResponderExcluirViiixiii...Já tinha ouvido fla nos livros da autora, mas naõ imaginava q iria me encantar tanto por ela...Tô super curiosa pra ler! Parabéns pela entrevista!Bjs
ResponderExcluirAdorei a entrevista. A autora parece saber muito bem como relatar problemas familiares em seus livros, e fazer com que o leitor acabe se envolvendo muito com a estória. É gostoso ler um livro assim. Sem contar que livros que trazem amadurecimento sempre me agradam.
ResponderExcluirBjs!
Bom eu ainda não li nem um livro da autora Sarah Dessen, mas pretendo ler Os Bons Segredos, adorei a entrevista, o livro parece ser muito bom.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAcho muito legal ler as entrevistas com os autores, principalmente para conhecermos melhor seu trabalho e seu lado pessoal. O livro Os Bons Segredos já está na minha meta de leitura desse ano, espero lê-lo em breve. Adorei a entrevista :)
ResponderExcluirConhecia essa editora quando os livros dela nem eram tão conhecidos no Brasil, e quando soube que editora seguinte ia publicar um livro dela, fiquei com altas expectativas, mas esse livro Bons Segredos não foi tão bom quanto eu imaginava, no entanto não desisti dessa autora, e espero poder ler outros livros dela.
ResponderExcluirAmei essa entrevista!! Foi bom ver essa parte em que ela esclareceu algumas coisas, principalmente sobre a mãe da Sidney. Eu realmente não entendia essa mulher. Gostei muito de quando ela falou sobre o fim dos livros, achei interessante porque sempre me vejo muito apegada aos personagens e não pensava no quanto deve ser ruim para os autores também.
ResponderExcluirQue entrevista deliciosa, estou apaixonada pela autora. Já li várias resenhas deste livro, e por isto já estou louca por ele. Amei demais a entrevista e como ela passa uma ótima mensagem as meninas/mulheres.
ResponderExcluirAbraço!
Olá,
ResponderExcluirLi Os Bons Segredos, esse mês de janeiro, e foi uma leitura muito boa. Essa entrevista foi bem montada, e esclareceu varias coisas.
www.isaaczedecc.blogspot.com
Não me dou muito bem com livros dessa autora. Acabo lendo, gosto....mas não gosto muito. Já li 3 e foram tudo assim, aquela coisa de achar bom mas não gostar tanto. Esse novo parece ser um pouco diferente e vendo ela falar sobre ele dá vontade de conferir pra ver se é melhor do que os outros trabalhos dela. Parece um pouco. Só não sei se leio :S
ResponderExcluirGente, vocês são o melhor blog da vida! Essa entrevista foi maravilhosa. A Sarah é a minha autora favorita.
ResponderExcluirBeijos
Nossa, gostei bastante da entrevista, se já tinha vontade de ler Os Bons segredos, agora ainda mais.
ResponderExcluirAinda nao li nada da autora, mas agora vejo porque ela conquistou tantos fãs ela é um amorzinho de pessoa.
ResponderExcluirOi!
ResponderExcluirMuito legal a entrevista da Sarah Dessen, ainda não li nada dela mas ouvir falar muito bem da sua escrita me deixando interessante é sempre bom poder vera cisão do autor sobre a historia !!
Eu nunca li esse livro dela, na verdade, nunca li nenhum livro dela. Mas me senti próxima da história e da personagem ao ler essa entrevista. Ela parece mesmo ter pensado em cada detalhe, desenvolvendo tudo direitinho. Sem dúvidas foi a melhor entrevista que li até hoje.
ResponderExcluirUm abraço!
Parágrafos & Travessões
Ainda não tive a oportunidade de ler nenhum livro da Sara, mas Uma canção de ninar está na minha lista a horas. Porem lendo a entrevista Os bons segredos entrou tambem ahahahah obrigada!! Na verdade, sempre que num post tem algo sobre o autor, ou até mesmo uma curiosidade sobre o livro, deixa o leitor mais próximo, uma especie de interação. É como quando se vai num show de alguma banda e tu chega em casa querendo todos os álbuns, pesquisa tudo sobre a banda, quebra uma barreira entende? Gostei do modo carinhoso com que ela falou dessa historia em si, aí não tem como não querer ler.
ResponderExcluirA escrita da Sarah é densa e fluida.
ResponderExcluirOs Bons Segredos é um livro tocante.
Amei conhecer um pouco mais da Sarah.