Recebi Eu me possuo e comecei a ler assim que chegou. Uma leitura rápida, fácil e que tinha tudo para me agradar em todos os aspectos – mas não foi isso o que aconteceu. Iniciei a leitura bem empolgada, a história contida na sinopse prende o leitor e tem a capacidade de emocionar qualquer um – repito: mas não foi isso o que aconteceu comigo.

São pouquíssimas páginas, porém, o espaçamento e as letras grandes fazem com que o texto seja menor do que parece nessas 182 laudas. Li mais ou menos em 3 horas, tanto por curiosidade quanto por facilidade em ler. No entanto, a história não foi exatamente o que imaginei.

Logo no início da obra me senti envolvida com a personagem e queria saber o que Florence tinha tanto a nos passar. Li a sinopse antes de ter o livro em mãos e li novamente antes de embarcar na história. Para mim, é difícil acreditar nisso, mas lia gostando da narrativa da autora, no entanto, em todos os momentos me perguntava: “mas e aí?”. Eu queria mais envolvimento, mais ligação com o que a sinopse propunha, mais finalidade, mais aprendizado e eu não tinha, não achava.


Quando faltavam 22 páginas para chegar ao final, na 161, comecei a compreender qual era a lição que ela queria nos passar. Pode parecer exagero, mas a história em nenhum momento me deixou sensibilizada com o que a protagonista estava passando, não me refiro à cena do estupro, essa eu consegui sentir algo (não sou de pedra, leitor). Acontece que a forma de se abordar um assunto é necessário fazer de maneira intensa e a autora fazia os encontros de Karina de forma tão corriqueira que ela parecia trocar de homens mais do que sua própria roupa.

Não lembro exatamente a quantidade de páginas, mas foi menos de 20 e ela já tinha se envolvido com 2, 3 e por aí vai. Não é o fato de ela se envolver com muitos, mas a maneira rasa e sem embasamento, sem emoção como a autora construía tais encontros. Em um, por exemplo, ela nem conhecia o cara, o viu no bar, perguntou apenas o nome e na cena seguinte já estavam no motel. Noutro já estava no fundo do estabelecimento tendo relações.

A todo instante a autora descreve a personagem Karina como uma pessoa insatisfeita com seu corpo, se considera gorda com as “banhas saltando da roupa”. Ela descreve que a protagonista sente vergonha de ficar nua na frente dos rapazes os quais se envolve, mas não parece sentir isso, até porque ela tem tantos parceiros (inclusive mantém mais de um relacionamento ao mesmo tempo) e não demonstrou sentir vergonha disso – a não ser quando saiu com um rapaz que a amiga chama de “João sem braço” que ela mesma reflete sobre a sua vergonha, esse homem causava horror quando estava nu (pelo fato da deficiência, como Karina relata) e ela não deveria sentir isso.


Tudo bem que você, leitor, poderia me dizer que ela se envolve com muitos caras para esconder o estupro sofrido quando foi na casa de um rapaz, um conhecido da academia e que nunca tinham se falado antes. Embora relatando assim pareça que a própria menina tem culpa, nessa parte eu considero que não – ela foi imprudente; culpada não. No entanto, em parte da história, numa conversa com a avó, ela solta uma frase que me deu vontade de abandonar o livro completamente e brincar de arremesso para ver se acertava na cabeça do meu vizinho. Respirei fundo, concentrei e continuei lendo.

Outro ponto interessante que devo comentar é que, a todo o momento, a protagonista nos mostra insegura, sem voz de uma pessoa determinada, com personalidade forte, mesmo quando reencontra o cara que destruiu sua vida. Porém, quando faltam 22 páginas para acabar a obra tudo muda e parece que entra em cena outra Karina. Achei isso bastante forçado, pode ser real, mas não me convenceu e por isso a história finalizou sem emoção para mim. Ela mudou, abandonou o seu lado receoso quando escreveu a carta, tudo muda, tudo se transforma em 22 páginas, enquanto as outras 160 foram apenas enrolações, será isso? Acredito que passar pelo que ela enfrentou ao reencontrar o estuprador é o suficiente para mudar, mas não, vemos a mesma Karina. Até que uma carta muda-a completamente.

Queria ter gostado da história, queria ter me prendido completamente e ter entendido os vastos relacionamentos, vulgo transas, de Karina. Não consegui me apegar a ela, pelo contrário, o apego ocorreu nas 20 primeiras páginas e olhe lá. A autora tem uma escrita que faz a leitura fluir, uma narrativa para prender o leitor e apenas por isso a obra ganha 2 estrelas, as outras ficaram perdidas nos relacionamentos de Karina.


Quanto ao trabalho estético, a capa segue uma ideia incrível e ficou muito bem feita. A diagramação está excelente, com pássaros no final de cada capítulo e com detalhes no início. Uma perfeição de arte visual, uma pena que o seu conteúdo tenha sido prejudicado. O fato de não ter me prendido na história não quer dizer que você não deva ler, afinal, a capa do livro indica liberdade, você se possui. Eu me possuo e tenho o direito de não gostar da história por sua superficialidade; você se possui e pode gostar. Depois conte-me sua opinião, vou gostar de saber.

Quotes:
“[...] Qualquer mulher sabe. As ruas não nos pertencem: obedecemos a um eterno toque de recolher. Metrôs e ônibus nos acossam enquanto nos transportam. Tribunais de Justiça nos constrangem enquanto nos defendem. E até o vento, quem diria, pode nos amedrontar” (p. 31).

“Karina parou na porta de saída. E ficaria parada até Thiago dizer alguma coisa. Qualquer coisa. Ele não diria nada? Então talvez ela apodrecesse ali, talvez se misturasse à madeira do batente, talvez ficasse por cem anos amarrada ao tronco de uma árvore que cresceria bem a li, surgindo através de alguma reentrância na parede, talvez ela se tornasse aquela árvore, talvez fosse quebrar toda a casa com seu corpo-tronco imenso, carregado de uma violência lenta, contida, porém implacável” (p. 80).

Outras fotos:







Título: Eu me possuo (exemplar cedido pela editora)
Autora: Stella Florence
Editora: Panda Books
Páginas: 182
Ano: 2016

18 comentários:

  1. Olá, Naty.
    Você citou a sinopse mas não colocou ela ali hehe. Mas fui ler na no skoob e realmente a sinopse passa uma impressão diferente do que você falou na resenha. pelo o que entendi o livro iria trazer uma mensagem profunda ao acompanharmos uma pessoa que passou por tal situação. É uma pena que não foi bem assim.

    Blog Prefácio

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  2. Hahaha. Verdade, Sil.
    É que eu não posto a resenha e, nesse caso, deveria ter colocado, né?
    Mas enfim... Kkkkk.
    Pois é, o livro é bom, para quem não se apega a detalhes de estrutura e tal. Tem uma mensagem boa sobre o estupro, mas não é tudo o que a sinopse promete.

    Espero que você leia e opine.

    Beijos.

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  3. Eu já tinha visto esse livro no Skoob e achei a capa bem interessante, mas após ler a sinopse, achei que tratava de assunto muito delicado e que o livro seria repleto de lições e emoções. Lendo sua resenha, deu para perceber que o livro não é como descrito, infelizmente.

    Beijos. (http://psamoleitura.blogspot.com.br)

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  4. Quando vi o título do livro pensei em se tratar de auto ajuda. Fui ler a sinopse e realmente dá a impressão de ser uma história delicada, sensível e com algumas lições mas diante da sua resenha vejo que não é isso que acontece já fiquei incomodada com o fato da personagem ser estuprada e dai decidir ter relação com qualquer um que vê na frente, nada errado nisso, mas não acredito que uma vitima de estupro fosse fazer isso. É uma pena a sinopse ser uma propaganda enganosa.

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  5. Oi Naty,
    Que fotos lindas, hein?
    Queria que tivesse sido uma leitura mais proveitosa, até porque a premissa é ótima. Acho que vou deixar para depois, rs.
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

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  6. Olá!
    Nossa, não gostei desse livro huahua detesto resenhas enganosas, caracteristicas de personagens contraditórias e histórias mal aproveitadas. Pela resenha tinha tudo para ser uma boa narrativa mas pelo visto... Uma pena que não seja tudo isso :(
    Bjs

    EntreLinhas Fantásticas

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  7. Não sei se iria gostar dele, penso que não. Até porque uma coisa que gosto é de me envolver com o personagem, me identificar com o que ele sente ou ter pena, tristeza, injustiça e outros sentimentos pela história dele. Acho que ela não me passaria nada por ter toda essa contradição de personalidade. Poderia acabar é tendo raiva da menina e torcendo a cara em muita cena. Gosto quando faz sentido e ela não parece fazer muito :S

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  8. Oi Naty! Protagonistas que saem com muitos homens e inclusive com que não conhece não me incomoda, a gente lê tantos livros em que os mocinhos fazem isso e a gente nem julga, né? Mas ao parece que a autora infelizmente não soube abordar o tema. Uma pena pela sinopse parecia que tinha tudo pra dar certo.

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  9. Olá.
    Lendo sua ótima resenha, fiquei certa de que não gostaria de ler esse livro. As fotos estão muito bonitas e a capa do livro também, mas de qualquer forma, deixo passar a dica. A premissa do mesmo não me atrai. Beijos.

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  10. Oii Naty!
    O livro tá lindo, uma história triste, mas ao msm tempo mto linda, curiosa pra ler o resto e descobrir o que vai acontecer com Karina...
    A resenha taah mto bacana! Parabéns tbm pelas imagens!
    Bjs!

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  11. oi Naty! Adorei a sua resenha. Gosto muito quando as pessoas são sinceras em suas críticas. A premissa do livro realmente não me atraiu! Mil beijos

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  12. Eu não conhecia o livro ainda, mas nossa. Nem quero. Obrigada, sinceramente, pela crítica sincera. E nossa (sim, de novo) me irrita muito quando a pessoa não consegue trabalhar com o personagem proposto. Nem digo das ultimas 20 paginas (o que por si só parece q a autora só queria acabar com isso de uma vez), mas uma pessoa com auto-estima baixa não consegue ficar assim com tantos homens. Sério. Sem contar que, se ela passou por um estupro, a situação traumática provavelmente a faria evitar ficar com homens por um tempo, não procura-los.

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  13. Oi Naty,
    Está é a segunda resenha que leio desse livro, sendo que a primeira foi bem positiva. Mas preciso dizer que amei a sua resenha, pois já estava criando altas expectativas com esse livro, e agora sei que ele não é tudo o que eu esperava. Adoro ler livros que abordam temas polêmicos e reais, que passam mensagens de reflexão e superação. Mas pelo que percebi, a personalidade (ou falta dela) da protagonista impede que a história seja mais envolvente, uma pena. Como a grande maioria, fiquei curiosa em ler essa história e descobrir como a autora conseguiu tratar de um assunto tão forte com certa leveza, realmente é de surpreender.
    Beijos

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  14. Oi Naty, é uma pena que você não tenha gostado da leitura, e pelo que pude ler na resenha, acho que faltou um pouco de profundidade, tanto em relação a personalidade, quanto nas atitudes da protagonista, pelo menos foi essa a impressão que eu tive. Mas achei ótimo a autora ter focado nesse tema, apesar de achar que deve ser bem difícil de ser trabalhado.
    Ah, e a diagramção do livro é realmente bem bonita. Beijo!

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  15. Pela premissa tinha tudo para ser um ótimo livro. O assunto com certeza deve ser amplamente discutido e estar presente na literatura. Engraçado que pela resenha já não gostei da personagem Karina. Pelos quotes a escrita da autora parece ótima e o texto parece fluir. Gostei da capa do livro, bem sugestivo. Amei a produção das fotos.

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  16. Tão triste quando nos decepcionamos com um livro, não é? Principalmente quando eles tem temas fortes. No entanto, com poucas páginas como esse, acho que é meio normal que tudo seja raso e rápido demais, não teve muito tempo para desenvolver as coisas. O tema me interessou demais, principalmente por ser algo que nunca li sobre, mas... Sua opinião me deixou com um pé totalmente atrás. Quem sabe outro dia?
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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  17. Ainda não tinha lido nada sobre o livro apesar de ter gostado da resenha não gostei muito do livro achei um pouco"confuso" já que a autora descreve de jeitos diferentes a mesma personagem mas adorei a capa muito linda pena que o livro não seja tão bom :(
    Beijos!!

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  18. Oi,Nath!!
    Que capa linda mas é uma pena que a história não é tão boa assim!!
    Beijos

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