Existem livros que são capazes de mexer com a gente de diversas formas. Há aqueles que mexem porque causam certo desconforto, há outros que nos emocionam e existem alguns que se encaixam exatamente em O livro dos Baltimore.

Nosso protagonista é o Marcus Goldman, um grande homem que passou a sua juventude em Baltimore ao lado dos primos e dos tios – a parte bem-sucedida de sua família que ele tanto admira. É exatamente assim que se dividia a família Goldman antes do Drama: Goldman-de-Baltimore e os Goldman-de-Montclair. Os Baltimore são considerados prósperos e afortunados e residem numa luxuosa mansão. Marcus faz parte do segundo grupo, com uma família de classe média e que reside numa modesta casa.

Em 2004 algo trágico acontece e Marcus resolve chamar esse acontecimento de Drama. Este foi algo capaz de mudar muitas vidas, inclusive a sua. Após oito anos, ele decide ir para Flórida passar alguns dias se dedicando a seu próximo romance. No entanto, com o objetivo de buscar tranquilidade e inspiração, ele é surpreendido ao reencontrar alguém muito importante do seu passado, alguém que foi capaz de causar sentimentos inimagináveis. Agora, Marcus precisará enfrentar essas sensações que serão despertadas novamente e tudo poderá mudar.


Não estamos diante de uma história feliz, nem tampouco de um conto de fadas diferenciado. Existe drama na história após o inevitável (?) Drama; existem lágrimas que o tempo não é capaz de secar; existem paixões que nenhuma distância pode apagar; existem ressentimentos que nenhuma felicidade, ainda que duradoura, seria capaz de ocultar. Mas, acima de tudo, existe vontade, vontade de fazer algo por aquela família, Goldman-de-Baltimore, que teve um destino tão trágico; há o desejo, em Marcus, de contar em seu próximo livro a história dessa família. E, acreditem, vai quebrantar o mais pútrido coração.

Este é o tipo de livro que não costumo ler, mas não porque não goste, pelo contrário. É exatamente o estilo que gosto, mas que dificilmente a gente encontra por aí. São raras as vezes que nos deparamos com obras com uma qualidade altíssima. Não estou falando de uma história mirabolante, com vários personagens para deixar o leitor louco e com vários cenários. Estou falando da simplicidade na história, mas de uma narrativa carregada de maestria, bem contornada e capaz de nos prender por horas a fio.

O livro dos Baltimore é mais do que uma obra sobre um escritor, é o retrato do que as dores são capazes de causar em diversas vidas, do que as consequências de atos impensados podem proporcionar chagas que jamais serão curadas. São marcas que nem o tempo é capaz de levar, nem o vento é capaz de varrer.


Este livro fala muito sobre sentimentos reais, sobre vidas que encontramos na esquina, numa mesa de bar ou até mesmo numa conversa no WhatsApp. São personagens que sentimos o quanto são humanos, são reais e palpáveis. Quantos de nós passamos por situações semelhantes (e até mesmo idênticas) a essas? É uma ficção, mas não deixa de ser uma realidade nossa. A ficção do autor com seus personagens, mas a realidade é essa nossa que estamos acostumados a vivenciar.

Não é uma história para qualquer um, é preciso estar preparado para lê-la. É necessário ter sensibilidade para enxergar tamanha grandiosidade. Pode parecer exagero, mas este livro me arrancou diversas lágrimas e eu não queria que acabasse, não queria saber que o fim foi aquele, um fim que eu não desejaria para ninguém; para nenhum inimigo. Um final que me causou ressaca literária e até agora não encontrei outro eficaz de arrancar-me do livro – ainda estou ali, presa e remoendo a história; esse desfecho arrebatador.

Não quero falar de capa, de diagramação e nem de revisão. Hoje essa história me basta, te basta. Não vou elogiar a estética, pois o conteúdo está mais do que recomendado. Esta vai ser a obra que vou recomendar para qualquer pessoa, pois todos precisariam debruçar-se nesse enredo. É uma leitura que finalizamos e não percebemos a hora passar; mas percebemos que é capaz de nos mudar por completo. Leia hoje; agora, se possível. Finalizo esta resenha com lágrimas nos olhos e uma saudade que não cabe no peito.

Quote para a vida:
“– Faça igual ao cachorro. Obrigue-se a escolher. O problema das pessoas que compram um cachorro é que não costumam perceber que não são elas que estão comprando o cachorro, mas claramente o inverso: é o animal que decide sobre suas afinidades. É o cão que adota você, fingindo obedecer a todas as suas regras para não irritá-lo. Se não houver conivência, ferrou. Prova disso é a história terrível, mas verídica, que ocorreu no estado da Geórgia, em que uma mãe solteira, completamente sem noção, comprou um Dachshund malhado, batizado de Whisky, para animar um pouco seu dia a dia e o de seus dois filhos. Mas infelizmente Whisky não lhe correspondia e o convívio se tornou insustentável. Sem conseguir se livrar dele, a mulher decidiu usar métodos radicais: colocou-o sentado em frente à sua casa, encharcou-o de gasolina e ateou fogo. O cachorro, em chamas e uivando mortalmente, saiu correndo e acabou entrando na casa, onde os dois filhos da mulher estavam diante da televisão. A casa queimou totalmente, com Whisky e as crianças, e os bombeiros só encontraram cinzas. Agora você entende por que deve deixar o cachorro escolher.” (p. 96)

Título: O livro dos Baltimore
Autor: Joël Dicker
Editora: Intrínseca
Páginas: 416
Ano: 2017

20 comentários:

  1. Natália!
    Muito bom ver um livro que nos arrebata de forma incondicional.
    E justamente pela simplicidade do enredo, que pode acontecer com qualquer um de nós ou ao nosso lado.
    Disseca a vida do escritor (dentro do livro) e de sua família, bem como o Drama.
    Fiquei com a curiosidade bem aguçada para fazer a leitura.
    Bom final de semana!
    “A mulher é uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova.” (Leon Tolstoi)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de MARÇO, livros + KIT DE PAPELARIA e 3 ganhadores, participem!

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  2. Parece um livro muito bom. E é raro mesmo encontrar uma leitura que seja simples, sem uma história mirabolante ou cheia de personagens e coisa e tal, mas que prenda e seja bem feita e boa exatamente por ser simples. Gosto de histórias que consigo imaginar acontecendo, de ver aquelas pessoas existindo e sentir que os dramas da história são reais, uma coisa que mexe com a gente e você consegue ver existindo por aí. Iss é bem legal.
    Uma boa dica de leitura, ao que parece =)

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  3. Oi.
    Adorei como começou a resenha e concordo existe livros para todos os momentos né, alguns mexem realmente com nós como pessoas, e trazem um certo conforto.
    Eu não sei se teria sensibilidade o suficiente para entender a verdadeira mensagem que o livro quer passar, essa parece ser uma história incrível que adoraria desfrutar, por isso esse vai para minha lista com certeza.
    Bjs.

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  4. Oi, Nath!!
    Existe livros que realmente mexem com nossas emoções tanto para o bem como para o mal!! Não sei se leria a esse livro pois normalmente não tenho costume de fazer esse tipo de leitura. Mas sem dúvida fica a indicação!!
    Beijoss

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  5. Pela resenha fiquei bem curiosa para ler esse livro, que parece ser maravilhoso e muito emocionante, fiquei imaginando que tragédia que aconteceu, deve ser bem triste e mexer muito com as emoções do leitor, foi pra minha listinha de compras.

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  6. Oi Nahty, acredito que essa histórias que trazem personagens palpáveis, são as que acrescenta experiência de vida ao leitor, sem que ele tenha de fato vivido determinada situação. Fica difícil imaginarmos isso com um livro surreal. Por mais que esses não seja o estilo literário que eu mais goste, fiquei interessada por ele.
    Beijos
    [SORTEIO]Baile Literário
    Quanto Mais Livros Melhor

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  7. Fiquei bem curiosa para ler o livro com a sua resenha!
    Já vi esse livro em algum lugar, mas não lembro a onde foi!
    Quero que minhas emoções sejam mexidas!
    kkkkkk
    Beijosss

    https://minisaiajusta.blogspot.com.br/

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  8. Não conhecia a história e honestamente não parece ser o tipo de leitura que costumo gostar mas vc falou tão bem dele que acho que merece uma chance, preciso mesmo abrir meu coração para outros gêneros :)

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  9. Estou bem surpresa com a resenha. Nunca ouvi falar do livro e não esperava tudo isso, Esse Drama que aconteceu com o personagem me intrigou pois pode ser qualquer coisa e talvez até algo que também acontece com o leitor. Esse quote me deixou bem tensa na verdade, e mostra que realmente a sensibilidade é essencial para esta leitura

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  10. Oi Natália. Vou confessar: esse livro não tinha me chamado a atenção. Não lembrava de já ter visto esses dois outros livros do autor "por aí".
    Sua resenha me fez ficar um pouco mais atenta à obra, pois gosto demais de personagens humanos e verossímeis, além de situações que vivemos em nosso cotidiano. Não gosto muito de fantasia justamente por fugir demais disso.
    Adorei esse quote que você escolheu, apesar de ter ficado boquiaberta com o desfecho da história.

    Bjs

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  11. Oi, Naty
    Confesso que olhando assim a princípio não leria a obra, mas sua resenha, lógico, me ganhou. Leria por conta de tantos elogios. Fiquei curiosa para saber o porque esse livro te emocionou tanto e te arrancou lágrimas. E esse desfecho também.
    Uma ótima resenha e tenho certeza que uma ótima dica.

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  12. Olá, Natália!!
    Não tinha visto esse livro ainda, mas achei bem interessante pelo drama do autor. É uma história simples, mas que dá para entender.
    Amei a resenha e a indicação!!
    Abraço!

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  13. Naty,
    Já conhecia a obra, morro de vontade de ler, mas primeiro queria ler A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert! Amo livros desse estilo, que mexem conosco. Espero conseguir ler ambos os livros logo!

    BJS

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  14. Nossa amei a resenha, é a primeira que leio do livro, já havia ouvido falar dele antes. Fiquei super curiosa para ler e saber que drama é esse que aconteceu, e realmente livros simples são muito agradáveis quando temos uma escrita maravilhosa e sem contar que é ótimo ter a oportunidade de ler livros com personagens que poderíamos encontrar em qualquer lugar.
    Beijos *-*

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  15. Nunca ouvi falar deste livro, mas me pareceu um tanto curioso. Parece daqueles que mechem com nossos sentimentos durante a leitura. Preciso de ler um drama, é um estilo que gosto.

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  16. Oi, Natália!
    Não conhecia O livro dos Baltimore e confesso que não me interessei pela trama nem fiquei curiosa para saber do que se trata o acontecimento que mudou tudo e que Marcus o intitulou de Drama, mas curti sua resenha, ficou muito bacana.
    Abraços!

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  17. Uau Naty! Amo me surpreender assim, com uma resenha tão tocante e bem escrita de um livro que até então nunca tinha visto.
    Que livro fascinante! Amo livros que abordam sentimentos bem vividos e reias, com personagens retratados de uma forma bem humana, com dilemas do cotidiano. Fui fisgada por esse seu comentário: “Estou falando da simplicidade na história, mas de uma narrativa carregada de maestria, bem contornada e capaz de nos prender por horas a fio.” Pelo jeito é uma história que irá me emocionar muito. Obrigada pela indicação.
    Beijos

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  18. Oi Natalia, tudo bem?
    É muito bom ler uma resenha tão cheia de emoção como esta. Não tinha noção de que este livro fosse tão grandioso antes de você descrevê-lo. Fiquei muito curiosa para conhecer esta história, e com certeza assim que eu tiver chance vou fazer essa leitura.
    Preciso pontuar que as suas fotos são as melhores.
    Beijos

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  19. Olá, Natalia.
    Fiquei curiosa com sua resenha desse livro quando vi lá na outra resenha que você estava de ressaca literária por causa dele. É tão bom quando encontramos um livro assim não é? Não sei se estou preparada para ler ele no momento, mas é um livro que vou levar em consideração, já que temos uma opinião parecida.

    Prefácio

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  20. Olá, Natalia!

    É raro alguém falar de um livro que é considerado uma continuação, já que Marcus também é protagonista de A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert, sem falar do anterior. Mas acho que a história é tão boa e tão bem contada que O livro dos Baltimore acaba falando por si só.
    Considerando que o Drama ocorreu em 2004 e A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert se passa em 2008, até pensaria se haveria pistas sobre o Drama no primeiro livro de Joël Dicker, mas como me lembro que foi só depois que o Joël teve a ideia desse livro que percebi que ele talvez não tenha dado pistas. Mas mesmo assim, isso prova um ponto em relação ao tipo de drama do Drama. Ele marca tanto que uns, como o Marcus, querem esquecer e pensar que nunca aconteceu, enquanto outros vivem só pensando nele. E não importa quem você seja, esses dramas fazem parte da sua vida.

    Um abraço!

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