Nenhum livro que fale sobre guerra é fácil de ser lido, um livro que fala sobre uma guerra esquecida é mais difícil ainda.
Ambientado na Malásia de 1945, durante a ocupação japonesa, “A Tempestade que Criamos” é uma narrativa crua e forte sobre as condições a que foram submetidos os malaios sob o julgo do Império Japonês, focando na família de Cecily Alcantra, uma matriarca euroasiática que ajudou o Japão com espionagem e agora se culpa pelo que causou a sua família.
Quando pensamos na Segunda Guerra Mundial, lembramos do Aliados, dos nazistas alemães, do Holocausto, até mesmo das bombas de Hirsohima e Nagasaki, mas quase não sabemos dos crimes de guerra cometidos pelo Japão - esse livro fala sobre isso.
Da promessa de uma “Ásia para asiáticos”, para a realidade das mulheres de conforto, dos campos de trabalho e do racionamento de comida, “A Tempestade que Criamos” se divide em quatro vozes: Cecily, Jujube, Abel e Jasmin. Integrantes da mesma família que sofrem de maneiras diferentes o domínio imperial.
Mãe, filha, filho e filha partilham seus pensamentos sobre as diferentes colonizações que sofreram.
O ponto que mais me marcou no livro foi a forma como a autora falou da colonização britânica e da japonesa, o processo de racialização que os malaios sofreram na mão de diferentes algozes foi, logicamente, diferente. Em uma cena forte e indigesta, Cecily narra que Jujube, aos 6 anos, chega da escola de controle britânico dizendo que eles, os malaios, eram selvagens que seriam salvos da ignorância pela religião branca: o cristianismo.
Vanessa Chan não se prende a descrições gráficas e escatológicas dos eventos, é pela tristeza, pelo sentimento de impotência diante das barbáries que a autora fere o leitor.
Na personagem Yuki, uma menina de 8 anos, apresentada pelo ponto de vista de Jasmin, também de 8 anos, é que mais se vê o quanto a guerra é cruel. Yuki é uma mulher de conforto, ou seja, ela vive em uma estação onde os soldados japoneses iam para estuprar “prostitutas voluntárias”, mas que na maior parte do tempo eram garotas retiradas à força de casa.
Chan criou um livro muito bem escrito, que revolta e não oferece conforto nem mesmo no final, mas que deve ser lido, a arte da escrita não tem como função apenas confortar, o incômodo também é um sentimento válido na leitura.
Título: A Tempestade que Criamos (exemplar cedido pela editora)
Autor: Vanessa Chan
Editora: Paralela
Páginas: 272
Ano: 2024
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Um livro denso, triste e devastador mas ainda assim, necessário....
ResponderExcluirNão sei se tenho coragem para ler
Oi, Ingrid! Aquela leitura que te faz sofrer e sangrar. Um contexto não tanto abordado e que eu desconhecia, mas que reforça os inúmeros horrores promovidos pela máquina brutal e cruel da guerra.
ResponderExcluirOlá! Toda vez que me deparo com um livro que conta um pouco mais sobre a guerra eu logo me interesso, pois é um período que desperta sempre a minha curiosidade, de talvez entender um pouco do que aconteceu nesse passado não tão distante, apesar de difícil, tenho certeza de que é daquelas leituras necessárias, essa em especial, por trazer um pouco da história que não é tão divulgada assim.
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