HQ: Senhor das Moscas

Escrito em 1954 por William Golding, Senhor das Moscas é considerado um dos clássicos da literatura, na trama, um grupo de meninos fica preso em uma ilha após a queda de um avião. Sozinhas, as crianças criam a própria sociedade… que rapidamente se deteriora. Agora, você pode ler essa história em uma HQ primorosa de Aimée de Jongh.

Lançada pela editora Suma em setembro, a HQ conta com 300 páginas de uma adaptação belíssima para uma história terrível.

Senhor das Moscas é uma história com muitos significados, embora eu já conhecesse a trama e soubesse que inspirou inúmeras histórias, virando quase um subgênero (sociedade se deteriorando ao cair numa ilha ou num lugar remoto), nunca havia lido o livro ou visto os filmes, meu primeiro contato foi com a HQ de Aimée de Jongh.

Eu amei a história!

É claro, se você já viu Lost ou Yellowjackets ou até o filme Náufrago pode considerar a história batida ou saturada, mas é bom ter em mente que Senhor das Moscas foi o primeiro livro a levantar essa bandeira na ficção, no lugar de um paraíso idílico como em A Lagoa Azul (Henry De Vere Stacpoole), Senhor das Moscas é um inferno verde e azul.


O desejo das crianças na ilha é viver sem as regras dos adultos, se divertir é a regra principal e ao longo da narrativa vemos como pequenas coisas são o suficiente para quebrar a paz momentânea conseguida, como: o grupo de Jack e a obsessão por caçar um porco, a suposta besta, a tentativa de Ralph de estabelecer algum nível de ordem num grupo desordenado.

Uma coisa muito interessante da história é que, embora as crianças tenham uma personalidade própria, cada uma funciona como um conjunto ou uma analogia:


Ralph é tentativa da ordem;
Porquinho é a mediação;
Simon é a humanidade;
Jack é a desordem, o caos e até certo ponto a masculinidade primitiva. Sempre em busca de se provar como mais e melhor, sem visualizar a queda da rede que precisa estar unida para evitar o declínio total.

As cores e as imagens da HQ são sublimes, Aimée cria cenários em tons majoritários de verdes e azuis, causando uma sensação claustrofóbica no leitor, a sensação de que estamos presos na ilha junto com os meninos se mantém por todas as páginas, sendo interrompidas em cenas esporádicas com vermelho que transmitiam a agonia e até uma carga psicodélica na hora.


Confesso que a única parte da trama que não me envolveu tanto foi a Besta, esse ponto deveria ser mais psicológico, uma atmosfera constante de incerteza que deve funcionar no livro, mas para mim não funcionou. Em contrapartida, a cena da “revelação” da Besta envolvendo o personagem Simon (o mais sensato do grupo) foi uma das coisas mais cruas e violentas que vi. Toda a tensão e as consequências do episódio ficaram marcadas, juntamente com a sequência envolvendo o “Senhor das Moscas”: uma cabeça de porco rodeada de moscas que aparece na narrativa e faz parte de um dos momentos “premonitórios”.


Na demonologia realmente existe um senhor das moscas, é Belzebu, considerado um dos sete príncipes do inferno. De acordo com algumas passagens do Testamento de Salomão, Belzebu teria por objetivo provocar a luxúria, a destruição pela tirania, disseminar a inveja, causar o assassinato e as guerras; além de ser o demônio associado a gula. De certa forma, William Golding colocou tudo isso na sua história: a adoração a Besta começa pela gula das crianças, em busca de carne no lugar de frutas, a cada dia a inveja de Jack em relação a Ralph e seu grupo se acentua, a tirania de Jack causa mortes e uma guerra final.


Senhor das Moscas é um livro que pode ser lido do macro ao micro, com simbologias que são descobertas a cada leitura nova.

Com personagens que funcionam como um conjunto e uma analogia mais do que como personas individuais, uma ilha que representa mais que um arquipélago e um final desolador, ao mesmo tempo que “feliz”, Senhor das Moscas é uma HQ intrigante e muito bonita que vale a pena ser lida, juntamente com o livro e os filmes.

Título: Senhor das Moscas (exemplar cedido pela editora)
Autores: Aimée Jongh e William Golding
Editora: Suma
Páginas: 352
Ano: 2024
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2 comentários:

  1. Sem dúvida, podemos dizer que Senhor das Moscas é um clássico e que abriu portas para todo um gênero, tanto de livros quanto séries...
    É também uma obra densas mas que a autora soube colocar muito bem nas ilustrações

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  2. Nunca li ou assistir esse clássico,vi poucas resenhas sobre esse livro,pela sua resenha dá para entender o porquê desse livro ter se tornado um clássico.Uma trama tensa cheia de significados.

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