Ela entrou no bar com seus longos cabelos ruivos, encaracolados; a pele branca, com sardas, levemente realçando sua beleza. Mais parecia uma deusa, mas estava cabisbaixa, impossibilitando-me a visão de seu olhar.
Sentou-se ao meu lado, sem notar a minha presença, e pediu uma dose de vodka. Podia jurar pela minha vida que uma mulher com aquele encanto e descrição perfeita, não passaria por aquela porta. Era mais fácil acreditar que nasceu um dedo na mão do Lula, completado o que lhe faltava, ou que Cicarelli sensibilizou-se e fez uma doação ao Presidente. Nada, nem as coisas mais escabrosas me dariam a certeza que uma deusa entraria nesse bar e saciaria a sede dos meus olhos, como homem.
Eu queria chegar nela, abraçar; agarrá-la em meus braços, mas como? Levaria um fora só de pensar em abrir a boca. Qualquer tentativa seria inóspita.
Ao dar o primeiro gole, o telefone tocou. Ela chorava desesperadamente e dizia que estava tudo acabado, que não tinha mais jeito e a qualquer momento iria se entregar.
“Se entregar
pra quem?” Foi o que pensei. Não fazia sentido.
Demorou alguns instantes na ligação e estava decidida em qual atitude tomar. Pela suas falas, a outra pessoa, do outro lado da linha, tentava deliberadamente resolver o caso, convencendo-a.
- Não adianta! Acabou! Chega! – falou ela, desligando o celular.
“Mais um copo”, foi o que ela pediu.
Levantei-me e, tomando coragem, fui até ela. Enquanto completava meus passos, dois caras, com roupas pretas e um boné, sem identificação alguma, passou pela porta e veio em minha direção.
- Hemily, você está presa! – disse um deles, apontando a arma próximo da cabeça dela.
“Hã? Mas como assim?” – Pensei.
Ela virou-se, e o pranto era nítido naquela face transparente e incrivelmente bela.
- Você está presa por tráfico de drogas.
Nada saía de seus lábios. Estava estática e chorava tanto que minha ansiedade estava demais, mas mesmo assim fui voltando para o meu lugar, aos poucos.
- Seu namorado morreu, como você já sabe. Os caras forçaram-no a falar quem era o cúmplice dele, mas ele morreu em silêncio. Nos ligamos a você e encontramos droga na sua casa. Você está presa!
- Cumprimos nossa promessa que se um morresse, o outro se entregaria – respondeu ela, aos choros. – Sabia que vocês me encontrariam em qualquer lugar. Só quis me despedir do meu amor bebendo o que ele mais gostava. Sinto o gosto da bebida e lembro-me do gosto dos nossos beijos.
Enquanto ela falava os policiais não davam a mínima atenção. Algemaram e levaram-na para bem longe de mim.
Agora vejo que meu sonho da mesma maneira que chegou, foi levado, carregado e obstruído. Pelo menos não deu tempo de tornar-se um pesadelo em minha vida.
Então fico aqui esperando a realidade entrar por aquela porta e não uma aventura de beleza que poderia destruir-me.

Natalia Araújo, 04/05 - 20h34
Pauta para
Bloínquês - Musical. Tema: Em itálico.

20 comentários:

  1. Ah, que é isso, eu adorei o texto ^^ Como sempre!

    "Então fico aqui esperando a realidade entrar por aquela porta e não uma aventura de beleza que poderia destruir-me."

    AMEI!

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  2. Ficou lindo maninha
    Gostei da foto!
    bjos

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  3. linda historia as dragas e as bebidas levam a nossa vida no vale.,., beijos

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  4. Nunca q eu imaginaria q a linda moça pudesse ser uma traficante, assim como o cara da história fiquei surpreso.
    bjs e boa sorte...

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  5. É...de vez enquando ela tem que entrar né? seria bom...gostei muito do texto...carregado de tanta coisas...muito para se pescar nele...muito bom!1

    []s

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  6. Você sempre surpreendendo :D
    ADOREI .
    Aaaai, me da um tiquinho de razão ? rs
    Sou 100% emoção :s
    rs Beijo florr

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  7. A aparência engana, já dizia minha avó.


    Beijos

    O texto está 10!

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  8. Sonhos da futilidade sobrevivendo "em" drogas e poder... Bom texto só pra variar doníssima hehehe beijos amada;.

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  9. post perfeito, parabéns.

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  10. Nossssssa, naty, babei! Que texto hein, que maneira de ver as coisas... bjs bjs bjs :*

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  11. sou a sua MAIOR fã, Naty! mais um texto fantástico pra sua coleção!

    beijão, linda!

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  12. Queria ser ruiva. É um charme, né?

    O gosto do amor pode ser vodka sim, por que não?

    Beijo,
    Nara

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  13. Naty,como sempre escrevendo belos textos.
    Agora vejo que meu sonho da mesma maneira que chegou, foi levado, carregado e obstruído. Pelo menos não deu tempo de tornar-se um pesadelo em minha vida.
    Então fico aqui esperando a realidade entrar por aquela porta e não uma aventura de beleza que poderia destruir-me.
    Adolei este trecho.Parabéns pelo talento!
    Bjão!

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  14. nossa, sem palavras, muito bom o texto!
    fazia um tempo que não vinha aqui, senti falta, adoro teu blog.

    Então fico aqui esperando a realidade entrar por aquela porta e não uma aventura de beleza que poderia destruir-me.

    me identifiquei muito com esse trecho,tem bastante a ver com o que estou sentindo agora.

    beijos

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  15. Incrível como a cor dos cabelos, a vodka, a morte e a dor casarem tão bem... Esse tal de amor (q tbm é droga), danado, parece sempre nos passar a perna...

    Parabéns pelo texto!

    ;*

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  16. Adorei o texto..
    E da foto também Naty :)
    Bjoo, boa noite!

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  17. Querida,

    quantas vidas viram um pesadelo com consequências sérias! Um conto bem real e um excelente alerta.


    Carinhoso beijo, linda.

    * Uma crise alérgica esta semana me colocou fora da net rsrsrsrs.

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  18. Wow!!!
    Que texto surpreendente...
    Gostei!!!

    Bjs

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