Ele despiu-se desconfortavelmente. Retirou o invólucro do pacote ao redor do seu corpo. A pele, em atrito com o conteúdo, arrancou-lhe pedaços e deixou devidamente ferido. Ao tirar, sentiu um ardor arrepiando-lhe a epiderme. Foi até a banheira e mergulhou seu corpo, com a água já na temperatura ideal, sem medo das dores que as espumas causariam em seu ferimento.
Os pensamentos traíam sua imaginação e ele era obrigado a refletir mediante todas as coisas que vieram a surgir, nestes três últimos dias de trabalho.

Vestiu-se, agora, confortavelmente. Sentou-se na ponta da cama e abriu o pacote que estava de fácil acesso.
Examinava coisa por coisa. As fotografias, as cartas, o cheiro. Era tudo uma farsa, ele caiu feito “patinho” numa lábia quase perfeita – se não fosse descoberta a tempo.
A campainha tocou. Escondeu rapidamente o pacote, e foi atender a porta.
- Olá, benzinho. Como foi no trabalho hoje? – ela o fitava com um olhar impenitente. Um vestido longo, com um corte até o meio da coxa. O salto pontiagudo, rubro, chamando atenção para as pernas sinuosas.
- Entre, meu amor. Estava esperando por você.
- Mas não disse que viria – ela curvou-se e largou os sapatos próximos à cabeceira.
- Você aparece aqui todo dia, benzinho. Logo estava à sua espera. Até tomei banho para... – ele foi interrompido por um beijo acolhedor, arrebatador, destruidor. Foi jogado com força na cama. Ela arrancou-lhe a blusa, beijou seu corpo, acariciando o tórax e deslizando sua língua até a região do umbigo.
Ele virava os olhos de prazer. Olhou o relógio em seu pulso e os ponteiros marcavam a hora exata para fazer o que tinha de ser feito, não podia ser adiado.
- Espere um instante, benzinho – disse ele, tentando desvencilhar-se daquelas curvas atraentes, daqueles lábios ardentes e daqueles cabelos macios. “Ah, como são macios”, ele pensou.
- O que há?
- Preciso te mostrar uma coisa. E é muito importante, preciso que você fique sentada.
- Mas o que é?
- Eu amei você, mulher. Amei como um homem de valor. Amei como uma mulher mais desejaria ser amada. Eu amei seus olhos, quando brilhavam de felicidade ao me ver; amei quando você sorria encantada, quando eu trazia um presente, depois de um dia cansativo no trabalho; amei seu corpo quente, quando fazíamos amor seja onde fosse; amei você. Amei!
- Você não me ama mais, benzinho? Eu o amo mais do que tudo.
- Eu amei quando você aceitou ir para outro país pra estudarmos juntos; amei sua pele quando roçava na minha pedindo o que eu mais queria te dar. Eu te amei na mais absoluta certeza e ainda a amo.
- Então o que há?
Ele pegou o envelope, jogou no colo dela as fotos, as cartas de amor e disse:
- Olhe isso aí. Você é uma cachorra, uma vadia. Eu lutei tanto por você e você me traiu. Sua cadela miserável.
Ela chorava, soluçava forte e gritava:
- Eu amo você, Matt. Eu o amo e não faria isso com você.
- Não adianta me enganar, sua trambiqueira. Olhe as fotos. É você, não adianta mais.
Ele pegou o instrumento gélido nas suas costas, preso na calça, e esticou o revólver.
- Eu vou matar você! Você nunca, nunca me mereceu e não merece essa vida. Você me fez sofrer, me magoou e eu só te fiz o bem.
- Não faça isso, Matt. Por favor. Eu não fiz nada, eu juro – ela gritava, aos prantos.
Ele fechou os olhos e atirou no meio da testa.
Um tiro. Uma morte.

Depois de dez minutos o celular dele toca:
- Cara, tenho uma informação pra você.
- O que foi, amigo?
- Acabo de descobrir que não era a sua mulher a amante do nosso maior inimigo.
- Como não? Mas ontem eu recebi um telegrama. Havia cartas, fotos, o cheiro dela estava ali.
- Não era. Eles armaram tudo. O Lincoln armou pra cima da gente. Ele escolheu uma moça que parecia com sua esposa, fez máscaras, usou apliques, fez uma transformação nela. Contratou-a para tirar essas fotos.
Ele começou a soluçar desesperadamente. Não sabia o que fazer. Fitou-a, o sangue rolava, os olhos entreabertos dela trouxeram mais dor em seu coração.
- O que foi cara? Por que está chorando?
- Eu matei. Eu matei a minha mulher. Eu vou acabar com o Lincoln e isso não é mais questão de dinheiro, é questão de família. Questão de honra. Ele acabou com a minha vida e agora eu vou destruir a dele.

1° Lugar - Edição Musical
1° Lugar - Edição Conto/história

13 comentários:

  1. Querida,

    Amei, como sempre, o seu texto. Forte! Acho que foi ele quem acabou com a sua vida, a sua honra e a sua família num gesto impensado e brutal. Ele foi o seu pior inimigo.


    Beijos com carinho e linda semana, Naty!

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  2. que tenso! eu hein! detonando nos contos, hein?

    ainda lembra que existo ou quer se vingar de mim também?

    abração!

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  3. Como sempre seus textos trazem uma densidade de sentimentos...
    Gostei do que li!!!

    Bjs

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  4. Caríssimos amigos
    (no plural pois é extensivo aos seus leitores)

    É com grande alegria interior que estou comemorando os 500 seguidores em meu Blog:

    http://espiritual-idade.blogspot.com/

    200 seguidores em meu Blog:

    http://espiritual-poesia.blogspot.com

    200 seguidores em meu Blog:

    http://espiritual-mimo.blogspot.com

    A Vitoria é nossa!!!
    Pegue os seus mimos por lá... Vc os merece...

    Excelente feriado com as bênçãos do Alto...
    Com gratidão, carinho fraterno e amizade
    SE DEUS É POR NÓS... QUEM SERÁ CONTRA NÓS???
    Orvalho do Céu
    P.S. Naty querida, não gosto de escrever contos de suspenses mas admiro quem o sabe fazer e ainda é premiada... Parabéns!!! Bjks

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  5. Oi =) pra quem não lembra eu sou a Amanda Romero do Keep Breathing e estou reabrindo o blog. Fiquei um tempo sem escrever por falta de tempo, mas quem escreve sabe que quando não se coloca essas palavras pra fora a mente vira um furacão.
    Tem post novo (http://amanda-romero.blogspot.com/2011/06/o-problema-voce-nasce.html)
    e se gostar da uma olhadinha no resto do blog =) http://amanda-romero.blogspot.com/

    Obrigada.


    /Que texto! Que palavras fortes e sentimentos profundos. Fico me perguntando onde você achou tanta emoção pra desenrolar toda essa cena. Confesso que fiquei chocada. É raro alguém saber misturar esse fluxo de amor e ódio e fazer esse impacto entre a mentira e a verdade. Parabéns!

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  6. Putz meu que conto dahora! Normalmente é isso o que nós fazemos quando estamos de cabeça quente né? Não damos ouvidos a ninguém e sempre fazemos alguma besteira - no caso do conto uma besteira muito grande. Mereceu ter sido o 1º lugar :D Parabéns!

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  7. Querida amiga

    É como diz a canção:

    "Quando a cabeça
    não pensa,
    o corpo é quem paga
    o que vem depois..."

    Amar é confiar.

    Vida plena em teus dias.

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  8. Nossaaa... q medo Oo
    hohohohoh
    Saudades, minha amiga! Qto tempo! Realmente tenho passado tempos longe dos blogs... Mas sempre que dá passo pra ver as novidades! Adoei seu texto como sempre!
    Passa lá, tem postagem nova! Tentarei estar mais presente!
    BeijO*-*

    http://evesimplesassim.blogspot.com/

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  9. amei, simplismente amei.

    to passando aqui, para matar a saudade do seu blog, e dizer que ando sentindo sua falta, no meu .. beijos!

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  10. Ótimo conto, Naty, como sempre.
    E o livro, quando sai?

    Um abraço!
    Que seu fim de semana seja de paz!
    Wilson

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  11. Caramba! Me arrepiou. Adorei! *-*
    Tô seguindo.

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  12. Primeira visita!

    Gostei do continho, muito bem escrito. Cenário bem desenhado, cenas fortes. Intenso, bom, gostado!

    Beijos

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  13. Você me lembra a Agatha...
    Não me canso e repito Naty.
    Tu tem talento!

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