Deslizou seus pés na areia fria, podia sentir a mistura das substâncias. O sólido da areia se encontrava com o líquido salgado do mar. Ele tinha ótimas lembranças e tristes pensamentos.
Encontraram-se ali, misturados entre as substâncias dos corpos e dos sentimentos. Ambos quentes, diferentes destinos.
Olhou ao seu lado e desfilava um casal e uma criança. Ela ficava segurando as mãos, entre eles, contente, e fitando o cachorrinho que estava sendo puxado pela mãe. Uma cena que era costumeira para Juliard, mas que doía sempre que a contemplava.
Sentou-se na areia, embora quente, não se importava com a temperatura. Queria mesmo era inclinar a face e deixar que as lágrimas tocassem os grãos, sem que notassem seu rosto molhado. Só queria um motivo. Juliard, todavia, foi um marido bom, buscou ser. Embora eles não tivessem casado na igreja, como sempre sonharam. Porém, devido às condições financeiras, não foi possível. Mesmo assim, havia uma união que Juliard considerava como eterna. E não foi. Ele só precisava entender a razão da separação e não conseguia, era uma incógnita. Após uma briga ela saiu de casa para levar Lili ao colégio e nunca mais voltaram.
Teve a ousadia de contemplar o casal, mais uma vez. A garotinha estava sentada no colo de sua mãe, enquanto mexia na areia. A mãe a segurou pela cintura e sentou sua filha na toalha de praia.
- Vá! Brinque, querida. Quero um castelo bem bonito.
Juliard não aguentava ouvir aquilo. As declarações de amor, as demonstrações de afeto eram demais. Ele não esquecia Caroline, por mais que quisesse. Tinha algo nela que o prendia, que o fazia querer e pensar em sua presença a todo instante.
A criança ergueu a cabeça para mostrar à mãe o tamanho do castelo que construíra. Ao erguer, contemplou aquele homem chorando, em silêncio.
- Olhe, mamãe. Ele está chorando – ingênua, apontou a criança para Juliard.
Constrangida, a mulher pediu desculpas pela atitude da filha. Juliard apenas meneou a cabeça e sumiu o mais rápido que pôde.

Caroline ergueu a cabeça e olhou os ponteiros se movendo. Eram 10h28 ainda e parecia que ela tinha dormido uma eternidade. Vivia trancada, ora dormindo, ora comendo ou apenas olhando para o nada. Não podia assistir televisão, não tinha acesso à internet e seu celular fora tomado e ela nunca mais conseguiu ir numa loja para comprar outro.
Caroline chorava baixinho, não tinha notícias de Juliard, mal podia acarinhar sua filha. Ele a mantinha presa, mas por qual objetivo? Ela só queria entender porque aquele homem fazia-lhe tanto mal.
No fundo, mesmo não querendo admitir, Caroline sabia. Ele era um psicopata. Começaram a namorar um ano antes de conhecer Juliard. Ela desconhecia seu jeito e ficaram juntos por longos oito meses, mas era hora de terminar. Ela não aguentava mais viver com ele e então ele não aceitou o fim. Procurava, seguia e, numa emboscada, trouxe-a. Roubou-a para si.
Ele não queria mais nada além daquela presença. Prendia Caroline e sua filha. Ao chegar em casa, ele forçava Caroline a fazer suas vontades, era submissa, pois ele ameaçava matar Lili.
Caroline, temendo, nada podia fazer. Não conseguia se soltar, sequer pedir ajuda. Caroline só queria Juliard, ter seus braços protegendo os seus, chorar em seu colo e tê-lo como abrigo.

5 comentários:

  1. Puxa, que história! Linda, forte e bem contada! Gostei! beijos,chica

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  2. Oi Naty! Muito bom o teu conto.Gostei muito ,Bjs

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  3. Os dois lados da moeda!
    Adorei a sua forma de escrever, muito descritiva.

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  4. Linda a história, Naty seguindo o seu blog quando poder vem me visitar beijos.
    Blog/Grupo Amigos/FanPage/ Pinterest/NetworkedBlogs/Bloglovin

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  5. Olá, queria Naty
    Sentimentos mórbidos não deixam finais felizes...
    Um conto bem real ainda...
    Bjm fraterno

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