Como diria Vinícius Pinheiro, não é preciso ser um divisor de águas da literatura para contar uma boa história; assim foi com o personagem deste livro. Alberto Franco, um jornalista informal e roteirista em início de carreira, se envolve com uma atriz iniciante, a misteriosa Clara Bernardes.
A jovem é bastante impulsiva e tem uma personalidade
forte. Por sua vez, o protagonista não fica atrás quando o quesito é caráter
marcante. O envolvimento dos dois é algo que toca nosso jovem Alberto. A paixão
desenfreada que ele sente por ela é de deixá-lo louco e, até mesmo, cego.
Além dos dois, o autor nos apresenta uma personagem
um tanto incomum em obras: uma vidente. Ela parece saber de tudo, porém, seu
tom irônico mostra que nem tudo é o que parece. De forma veemente, ela costuma
afirmar aos clientes: “tudo já está escrito”. Todos parecem manipulados por uma
força invisível, precisam enfrentar a crise da criatividade para sair dessa
armadilha de que tudo já está destinado e não há mudanças. É necessário
buscá-las, contudo, parece que o final é apenas a solidão.
O autor faz uma referência à obra com o intrigante
filme Dogville, do dinamarquês Lars Von Trier. Nele, habitantes de uma cidade à
beira do fim do mundo se comportam como ratinhos de laboratório; a alusão que a
obra nos passa é exatamente essa. Muitos se sentem abandonados, acreditam que o
seu destino está escrito como a vidente declarou e não há mais nada a ser
feito.
Porém, Vinícius nos mostra que é necessário buscar,
incessantemente, para que sejamos melhores sempre; para que busquemos o ápice
de tudo. É uma luta para sobreviver diariamente, enquanto apenas aproveitamos o
pouco que nos resta para “viver”. Os valores são invertidos e a dignidade da
pessoa humana é deturpada. Salários cada vez mais raquíticos, humilhações dos
chefes carrascos, um labor excessivo para pagar as dívidas e tentar preencher o
estômago como der.
Vive-se de modo exaustivo, tudo deve ser feito para
ontem e o verbo viver nos é roubado constantemente. Pagamos para sobreviver,
enquanto o lazer nos é violado. Vinícius nos faz divagar de diversos modos e, a
todo o instante, pude refletir melhor sobre como vendemos, por tão pouco,
nossas horas preciosas.
Não sei dizer se estou numa fase reflexiva, mas
acredito que estou absorvendo as lições que os livros podem me passar. Esse, em
especial, é um grande meio de fazer a sociedade acordar para o que está
acontecendo ao nosso redor. Abandonado
é um trabalho que te faz se sentir solitário, usado e vendável. Não vejam isso
como algo ruim, pois esses adjetivos mostram que precisamos despertar para a
realidade e mudar. Vendemos nossas horas, nos submetemos a humilhações e sequer
reivindicamos, com medo de perder a única coisa que temos; seja trabalho,
amizade ou algum tipo de vínculo que nos beneficia, de alguma forma. Abandonado é o típico livro que não
podemos deixar de ler. Desperta aquele que dorme e não deixa dormir aquele que
está acordado.
Quotes:
“Pode parecer paranoia à primeira vista, eu sei.
Guardadas as proporções de tempo, espaço e qualidade literária, sentia-me como
um personagem de Homero, reclamando da vida aos deuses ao lado de uma bela
ninfa imortal em uma ilha paradisíaca” (p.24).
“- A revelação é algo pessoal. Cada um vê o que
precisa ser visto e sente o que precisa ser sentido, acredite. Mesmo que você
me dissesse o que houve eu não seria capaz de entender” (p.55).
“Você tem o direito de me matar. Você tem o direito
de fazer isso, mas não tem o direito de me julgar” (p.73).
Título: Abandonado (exemplar cedido pela editora)
Autor: Vinícius Pinheiro
Editora: Geração Editorial
Páginas: 186
Páginas: 186
Ano: 2015
Oi Naty...
ResponderExcluirParece um livro e tanto! Gosto de absorver as lições que os livros passam, isso é muito bom. Os livros mudam as pessoas hehe
Acho que a leitura desse livro nos acorda para a realidade. Gostei da dica.
Olá, adoro livros que parecem conter apenar uma trama simples mas tocam no fundo de nossas almas e fazem com que aprendamos algo. Fiquei curioso para ler essa obra. Beijos.
ResponderExcluirEu amo livros que nos fazem refletir, as vezes precisamos de uns tapas na cara do tipo para começar a se movimentar, esse livro parece fazer exatamente isso. Achei um livro curto mas merece uma chance.
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