Alain Delambre é um sujeito aparentemente simples. Casado, tem duas filhas e 57 anos de idade. O nosso protagonista está num beco sem saída – como costumamos dizer das situações embaraçosas. Ele está desempregado há quatro anos e isso está desgastando-o completamente. Ex-diretor de RH, atualmente, Alain encontra apenas empregos inferiores e que lhe proporcionaria 45% do salário mínimo.
Ambientada em Paris, a história não poderia se
passar em um lugar melhor, marcado pelo mundo da contemporaneidade e do
capitalismo excessivo. O autor nos apresenta um cenário em que evidencia
bastante a crise econômica e nos mostra como isso acarreta na vida dos seres
humanos. Afinal, ter um bom trabalho não é garantia de estabilidade financeira
para o resto da vida. Nosso protagonista é uma prova dura disso e nos faz
enxergar diversos pontos que muitas vezes histórias comuns não têm o poder de
abrir nossos olhos.
Alain me parecia mais aquelas pessoas sem sorte em
que tudo que toca a desgraça surge e nada dá certo. Além de sofrido,
ressentido, desgastado e abandonado, o protagonista é injustiçado. Suas ações
poderiam ser consideradas exageradas, mas devido a tudo o que passou, acredito
que as pessoas acabam se prendendo a isso e errando mais do que poderia. São
nessas horas que as coisas erradas (e muito erradas) surgem, as ações são
evidentes e, as punições (talvez, quando surgem), são mera consequências.
Não sei explicar, mas as ações de Alain me agoniaram
do início ao fim e tudo o que eu queria era vê-lo bem. Ele poderia fazer o que
fosse, estaria ali torcendo para que tudo desse certo. Qual mal há nisso? Bom,
quando nem tudo é 100% legal as coisas tendem a não ser o correto a ser feito,
não é? Mas quem somos nós, caro leitor, para julgar? A simpatia que senti com o
personagem foi forte e me lembrou a torcida que fiquei pelo protagonista de Arrivederci Amore, Ciao.
Já sem esperanças de um emprego, Delambre tem seu
currículo aceito para concorrer a um cargo de Diretor de RH de uma grande
empresa. No entanto, algo estranho acontece e ele parece não ficar em seu
estado normal. Poderíamos dizer que o protagonista surtou? Ficou louco? É,
talvez... E agora o egoísmo toma conta do personagem e o que será que ele vai
fazer? Algo inacreditável...
A entrevista de emprego está prestes a começar,
porém, os candidatos precisam simular uma tomada de reféns. Estes seriam os
funcionários principais da empresa e que os candidatos não os conhecem. O teste
é simples (talvez, não se enganem): saber como os funcionários reagiriam sob
forte pressão e como os candidatos à vaga conseguem obter os seus resultados.
Cada vez mais ficava louca pelo livro e alucinada
pela loucura criada por Pierre. É o primeiro livro que leio do autor e sem
dúvidas não será o último. Fiquei com vontade de ler Vestido de noivo, também de Pierre, e que está sendo bem elogiado
pelos leitores (até mais do que este Recursos
Desumanos). É impossível finalizar essa leitura sem respirar fundo, fechar
o livro e refletir: “Caramba, como não pensei nisso antes?”.
Título: Recursos Desumanos (exemplar cedido pela editora)
Autor: Pierre Lemaitre
Editora: Vestígio
Páginas: 336
Ano: 2015
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