Pare tudo o que você está fazendo e reflita: que
país é este que estamos vivendo? Aliás, que país é este que a maioria vegeta,
enquanto os deputados, senadores, ministros, presidentes, prefeitos e
vereadores vivem?
Muitos, geralmente, não querem falar de política,
acham o assunto chato, fútil e sem necessidade alguma de ser tratado. Dentre
esses que pensam isso, muitos preferem falar de futebol, de novelas, de festas
e coisas que não consideram como desnecessárias. No entanto, se partirmos para
refletir: quem são as pessoas que pagam os jogadores de futebol? Quem paga os
presidentes das Federações? Quem é que paga as redes de Televisão, para que
estas depositem o dinheiro na conta dos atores? Quem é que paga as entradas em
festas, os cachês das bandas, as bebidas fornecidas em camarote VIP e,
automaticamente, gera lucros para as empresas dessas marcas?
A resposta está clara e a busca por ela é
conivente. Nós quem pagamos tudo isso e, mesmo gostando de novelas ou não,
mesmo curtindo futebol ou não, estamos contribuindo para que isso gere lucro a
eles. Os impostos que pagamos favorecem a todos e por que não aos políticos? Por
que não falar deles? Afinal, eles são os principais interessados em criar
taxas, já que nossos impostos aumentam por culpa de quem está no poder. Não é
mesmo?
E se você soubesse que existe um país em que os
políticos ganham pouco, andam de bicicleta, de ônibus, trem, cozinham sua
própria comida, lavam e passam suas roupas e, ainda, estão preocupados com o
bem estar da sociedade? Está pensando que me refiro a alguma obra de distopia?
Não, leitores, esse país existe e se chama Suécia.
Logo na Idade Média, os camponeses do país tinham
representação entre a nobreza, clero e a burguesia reunida no Parlamento. A
sociedade, no ano de 1960, aboliu os pronomes formais e os políticos passaram a
ser tratados como você; vossa excelência passa longe desse país. Não existe
preferência a penas especiais por crimes, eles não têm direito à imunidade. Com
isso, podem ser processados e condenados como qualquer cidadão. Ainda, eles não
possuem plano de saúde especial, apenas utilizam o sistema público.
Até o século XIX, a Suécia foi um dos países mais
pobres da Europa. A partir do século seguinte, ela transformou-se em uma das
mais ricas e sofisticadas nações industrializadas do mundo. O povo sueco busca
a transparência e visa políticos que estejam conectados às ruas, que estejam
ligados à sociedade para que a resolução dos problemas tenha mais solidez.
Enquanto isso, no Brasil...
Com grande frequência, ministro e parlamentares
voam em jatinhos da FAB – Força Aérea Brasileira. Possuem carro com motorista
particular e ganham verbas altíssimas para tudo. Enquanto na Suécia a política é sinônimo de
solidariedade, de meios para contribuir com a sociedade e buscar medidas
igualitárias; no Brasil a política é sinônimo de poder, prestígio e inúmeras
mordomias.
Os representantes têm uma vida de luxo e regalias,
porém, esquece-se que eles estão representando o povo. Logo, devem viver de
maneira condizente ao que vivemos e não totalmente oposta aos cidadãos. Se ao
menos esse luxo exacerbado fosse sinônimo de eficiência, seria até aceitável,
mas não o é. Os investimentos não representam qualidade por parte deles e,
então, a massa de legisladores continua com uma vida regada de mordomias,
enquanto a sociedade banca o banho de ouro que eles tomam.
A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou, no
ano passado, que o Brasil possui o segundo Congresso mais caro do mundo. Cada
parlamentar gasta em média US$ 7,4 milhões por ano. O país só perde apenas para
os Estados Unidos que tem um gasto de US$ 9,6 milhões. Não se nota resultados promissores por parte dos
parlamentares; pelo contrário. Estima-se que, a cada dez legisladores, quatro
respondem a inquéritos ou processos, o que dá em torno de 542 ações penais.
Se já não bastassem esses valores exorbitantes, os
deputados recebem um salário em torno de R$ 26.700 e mais R$ 38.600 para
custear as despesas referentes às suas atividades no poder. Essas contas
correspondem também a carros alugados, passagens aéreas, telefone e aluguel de
salas de escritório. Como se ainda fosse pouco, os parlamentares ainda recebem
na faixa de R$ 3.800 para pagar as diárias em hotéis para ir a Brasília.
Ao lermos esse livro, é impossível não comparar o
céu ao inferno, quer dizer, Suécia ao Brasil. A maneira como os políticos
realizam a politicagem, de forma íntegra, é estupenda e de causar admiração.
Enquanto que aqui a corrupção predomina, a ânsia por querer sempre mais e,
inclusive, a ambição e competição entre eles mesmos.
A capa em si já é bastante chamativa com o ministro
Carld Bildt indo ao seu gabinete de bicicleta, enquanto que, logo atrás,
notamos o ministro Carlos Lupi desembarcando de um avião particular. Qual a
diferença entre eles? Bem... Está mais do que clara.
A diagramação do livro é excelente, com imagens e
entrevistas em destaque. Notei alguns erros de revisão, mas não foi nada grave.
Outro detalhe da capa é que eles se dedicaram à bandeira da Suécia, o que ficou
bastante criativo, combinando ainda com a bicicleta do ministro.
Indico esse livro a todo ser que respira, é
imprescindível que todos tenham essa obra em sua cabeceira. Conhecer as
maravilhas da Suécia e as atrocidades do Brasil é fundamental para que se
busquem melhorias comparando-se a grandes países. Afinal, comparar o Brasil com
países pobres, com baixo índice de desenvolvimento e onde a corrupção é
exacerbada, isso é fácil. Mas comparar e se espelhar em um país do porte da
Suécia, essa é uma tarefa e tanto.
Parabéns para a autora Claudia Wallin que teve a
ousadia e curiosidade de escrever esse livro. Uma
brasileira que partiu rumo à Suécia e viu que era fundamental essa publicação.
Parabéns também à Geração Editorial por, cada vez mais, publicar riquíssimos
trabalhos que devem ser valorizados. Esse livro é para ser lido para ontem.
Mais que indico!
Quotes:
“O que mais me despertou a atenção para este país singular, que há dez
anos é o país onde vivo, foi a ausência de esquizofrenia nas relações entre o
povo e o poder. Em outras palavras, um povo que trata seus governantes e
representantes como cidadãos, e vice-versa. Um país sem Excelências” (p.21).
“Esta é uma sociedade que elege políticos mais próximos da realidade e
das dores do cidadão comum. Políticos que, em geral, não colocam a vaidade ou
os interesses próprios ‘na frente dos bois’, em uma sociedade que mostra que o exercício
da função pode ser digno” (p.30).
“Quero ser um indivíduo entre outros indivíduos, e não alguém tratado
como uma pessoa extraordinária” (p.31 – Fredrik Reinfeldt).
“Como todos os juízes e desembargadores da Suécia, Göran Lambertz não
tem direito a carro oficial com motorista, nem secretária particular. Sem
auxílio moradia, todos pagam do próprio bolso por seus custos de moradia”
(p.125).
Título: Um país
sem excelências e mordomias (exemplar cedido pela editora)
Autora: Claudia
Wallin
Editora: Geração
Editorial
Páginas: 344
Ano: 2014
Ouvi o vento e a música
ResponderExcluirProcurando um porto na madrugada
Ouvi a chegada de um navio
Julguei sentir uma voz amada
Meu Armando, meu amor...
Uma criança jogando lama ao meio dia
Embrenhada e perdida na alma
Com rimas colorindo pálpebras de nostalgia
Doce beijo