“– Não conte para a mamãe – disse ele, dando-me uma breve sacudida. – Isso é um segredo nosso, Antoinette, você me ouviu?
– Está bem, papai – respondi. – Não vou contar.
Mas contei. Eu sentia segurança no amor de minha mãe. Eu a amava, e ela, eu sabia, me amava. Ela o mandaria parar.
Mas não mandou.” (p. 55)

Parece algo surreal, mas o índice de abuso sexual infantil é alarmante, não apenas aqui no país como no mundo. No Brasil, cerca de três denúncias de abuso e exploração, por hora, foram registradas em 2014, sem contar os não notificados. O estupro está cada vez mais comum em países desenvolvidos. Numa pesquisa realizada, pode-se constatar que os Estados Unidos, Canadá, Suécia e Reino Unido estão no topo da lista de países com maior índice de estupro.

Pessoas deveriam ser fortes para não chorar... mas, o mais importante, outras deveriam ser humanas o suficiente para não fazer tanta crueldade com uma criança.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
O nome dela era Antoinette e tinha 6 anos quando tudo aconteceu. Seu pai, um crápula, abusou sexualmente dela e, agora, adulta, resolve mudar seu nome para ver se as lembranças são apagadas também. Mas é assim que ela, agora chamada Toni, se engana. E, com essa dor latente, ela decide escrever este livro com memórias de uma infância perdida.

É impossível esquecer tamanha crueldade.

É impossível apagar tantas dores.

E, nós, reles leitores, o que queremos? ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Chorar.
Chorar.
E chorar.
Chorar porque queremos salvá-la, queremos dar um mundo melhor para aquela garotinha, mas não é possível.


Abusada pelo pai, abandonada pela mãe que se recusa a ajudar, a garotinha se sente sozinha, desamparada, apenas com suas duas cadelinhas e uma galinha. O que uma menina, de apenas 6 anos, poderia esperar de uma família horrível, de uma casa quase abandonada e de uma vida perdida?

Ela só deseja a noite, que chegue a noite e o silêncio para pegar seu livro e ler, ler até não aguentar mais. E assim poder viver em outros mundos, em outra realidade bem distante da sua.

Antoinette nos ensina que nada que vivemos é tão ruim quanto realmente parece, sempre existirá alguém que está pior do que nós. Parece até clichê falar isso, parece que virou moda. Mas, nesse caso, é isso mesmo. Ninguém poderia reclamar de uma situação ruim se observasse o que essa garota, de apenas 6 anos, teve de passar.

As descrições no livro são fortes o suficiente para deixar o leitor comovido e despreparado para o que virá a seguir. Quando parece que tudo vai acabar, que todas as lágrimas serão secadas, então Antoinette engravida e toda a esperança de felicidade, de infância feliz, se vai. Ela é só uma criança, mas o que poderiam pensar? O que poderiam exigir de uma garotinha que mal tem estímulo para viver, pois é um objeto sexual pelo pai e uma escrava pela mãe?


Saber que essa história é real causa um desconforto e ficamos nos perguntando como um ser humano, que se diz ser PAI, pode fazer uma coisa dessas com a sua própria filha. A gente não quer saber de prender o desgraçado, de prender a mãe ou de tirar a menina daquela casa, o leitor deseja a morte do pai, da mãe e a morte de uma lembrança tão dura e cruel.

A gente deseja uma Antoinette renovada, que acorde sem recordar do órgão penetrando em seu corpo e machucando-a de forma desumana, do sangue escorrendo por entre as pernas, da saliva descendo em sua garganta e dos tapas ardendo sua pele. Desejamos uma infância feliz, como toda criança deveria ter. Mas o desvio da realidade nos atinge e somos despertados de um sonho. É impossível imaginar um sorriso naquela face ou uma sensação de paz em sua vida.

A capa do livro consegue passar uma dor indescritível. Um olhar triste, que demonstra sofrimento, angústia; o nome da autora, bem na região dos lábios, denota que é para se calar, não dizer nada à mamãe, conforme o título. A diagramação é simples, porém bem confortável. Revisão? Bom, essa parte eu não consegui prestar atenção de forma detalhada; grande parte da leitura foi feita com os olhos embaçados, então fica difícil indicar erros. Não lembro de ter encontrado.

É necessário estômago forte para ler este livro e um pacote de lenços para secar tantas lágrimas que hão de cair. É impossível não chorar, leitores. Sim, impossível.

Quotes:
“Percebi, então, que eu não era uma criança que tentava aborrecer os pais, mas que eu tinha um pai que procurava qualquer desculpa para encontrar uma falha e bater em mim.” (p. 124)

“Ao ver minha mãe concordar com ele por meio do silêncio, notei como ela era condescendente com a tirania dele. Olhei para o rosto arrogante e complacente dele e senti uma onda de ódio tão grande que era a única coisa que me mantinha de pé ali. E me peguei rezando para um Deus em que eu não mais acreditava, para que acabasse com a vida dele.” (p. 191)

“Meu corpo enrijeceu de dor, enquanto ele me jogava no ar, e senti fios sendo arrancados do couro cabeludo. Gritei e perdi a respiração quando ele me jogou de costas no chão. Ele não parava de gritar, com a saliva acumulando nos cantos da boca e respingando no meu rosto. Vi olhos vermelhos, agora vidrados de fúria, senti suas mãos na minha garganta e percebi que ele queria me estrangular.” (p. 203)

“Peguei uma e me cortei de modo sistemático, começando no pulso e subindo cinco centímetros. Quinze cortes, um para cada ano da minha vida que eu não queria mais.” (p. 275)


Título: Não conte para a mamãe
Autora: Toni Maguire
Editora: Bertrand
Páginas: 308
Ano: 2012

27 comentários:

  1. Talvez se fosse um livro ficticioso com certeza seria um leitura mais fácil, porém a cada palavra de agustia e sufoco de uma garota que precisava de ajuda, e ver os próprios pais virando a cara para aquilo que está na frente deles e querer fingir que não estão vendo e bem complicado. Outras vezes já li livros que abordavam o mesmo assunto porém não eram tão puxados como esse, porém ainda sim quero ler esse livro, e também quero muito mudar essa realidade. Resenha incrível;

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  2. Oi Natalia, se as resenhas desse livro já me deixam, nervosa, desconfortável e revoltada, imagina lendo o livro :/ É muito triste que tenhamos histórias assim e é pior saber que essa se baseia em fatos reais e como ela existem outras. Apesar de ser importante o lançamento do livro, pois serve de alerta, nesse momento não tenho estômago e meu coração não suportaria lê-lo.

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  3. Oi, Natalia!!
    É muito triste que isso ocorra!! Como pode alguém fazer um mal tão grande para uma criança de apenas 6 anos?!! E pior essa pessoa é alguém que deveria protege-la!! Infelizmente ultimamente o que mais escuto falar e de casos assim! E de cortar o coração!! Não sei se sou forte para ler um livro assim!!
    Beijoss

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  4. Oi, Naty
    Esse livro já me ganhou! Que forte. A capa realmente já diz isso. Adorei sua resenha.
    Geralmente eu não tenho muito estômago para isso, mas eu encarro esses livros, pois acho que temos que encarrar a realidade triste. Nossa, quero esse livro.

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  5. Olá, Natalia.
    Eu me interessei em ler esse livro desde que lançou, mas não sabia que era uma história real. Acho que não leria no momento por ser bem pesado, mas é um livro que quero ler. Eu não sou mãe, mas não consigo entender como um pai faz esse tipo de coisa com sua própria filha e na maioria dos casos com consentimento da mãe. Essas pessoas são verdadeiros monstros.

    Prefácio

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  6. Queria muito ter lido esse livro quando saiu. Vi tanta gente falando bem dele. Não por ser um boa história, mas por ser tão impactante e forte. É triste demais pensar nessas coisas e ver acontecendo, saber que acontece, isso é horrível =/
    Mas acho que o texto consegue passar um alerta ao mesmo tempo que choca e comove. Isso deve ser o que acabou o tornando tão impactante e bem falado. Não sei se consigo acabar lendo no fim das contas, mas gostaria muito. Mesmo que não ache que tenho estomago pra aguentar tudo que deve ser retratado nele :S

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  7. Nat, não conhecia esse livro. Só imagino quão intenso ele deve ser. Vou colocar nos desejados, preciso ler.

    ps. amei as fotos! <3

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  8. Oi Natalia,

    Que história pesada, nossa! E pensar que infelizmente isso acontece muito mais do que imaginamos.

    Blog aboutbooksandmore.blogspot.com.br

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  9. Nathália!
    É incrível como fatos como esse acontecem diariamente e tão perto de nós que nem podemos imaginar, porque é por trás de uma fachada de 'família' onde sempre acontecem os maiores abusos.
    Chorei apenas ao ler sua resenha e fico imaginando tudo que essa garotinha passou...
    Quero ler o livro.
    “O que sabemos, saber que o sabemos. Aquilo que não sabemos, saber que não o sabemos: eis o verdadeiro saber.” (Confúcio)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de JANEIRO dos nacionais, livros + BRINDES e 3 ganhadores, participem!

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  10. Adorei a resenha, esse livro me ganhou!
    Beijokas
    dreamsdsweet.blogspot.com

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  11. Só de ler a resenha estou chocada e indignada, que tipo de pai faz isso com a própria filha e essa mãe que não faz nada, o ser humano é um bicho da pior especie, deveriam dar mais valor a própria especie e não dão. E saber que isso acontece cada vez mais entristece a gente, é uma historia de partir o coração.

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  12. Olá!
    Sua resenha me comoveu muito, imagina o livro. É muito triste saber que isso não está só na ficção.
    Estou com vontade de ler esse livro, mas já sei que vou chorar horrores.

    Amei seu blog! Já estou seguindo.
    Beijos,
    Ler Antes De Dormir

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  13. Nossa Natalia,só de ler sua resenha,e os quotes ao final,fiquei angustiada!!Nossa,não dá nem para expressar em palavras o tamanho da revolta contra esse tipo de situação,que acaba com a vida de qualquer pessoa,ainda mais com criança,roubando sua inocência e infância. Mas,pior ainda,é a mãe dela ser omissa a sua situação...nossa,além dos abusos físicos,acho que o desgaste psicológico é o que mais marca,e isso pode os transformar em adultos transtornados :/
    Interessante o livro ser uma história real,fiquei curiosa como a autora escapou dessa situação horrível,e como ela encontrou forças para compartilhar sua dor através de um livro. E verdade,a capa desse livro deve refletir bem o olhar de sofrimento da vítima :/

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  14. Não tem como não focar triste ao ler um livro desse e ver que ele não mostra mais que a dura realidade de muitas crianças em vários lugares do mundo, eu vou ser sincera e digo logo que evito livros assim porque eles me deixam com uma sensação tão ruim no peito. A primeira coisa que reparei no livro foi que a menina pediu socorro e a mãe não estava nem aí, isso é muito revoltante e nem vou mencionar o pai que foi um monstro. Eu talvez leria o livro para ver como a escritora lidou com a situação na época e como ela encontrou coragem para escrever o livro.

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  15. Eu sou tão fraca para ler ou ouvir coisas relacionadas com esse tema. Eu não posso imaginar que alguém tenha coragem de fazer coisas como essa e ainda mais com uma criança. Me deixa mal e com muita raiva, nem sei explicar.
    Eu não sei se aguento ler esse livro.

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  16. Desde que eu vi a capa desse livro eu já fiquei interessada. Realmente depois que a gente sabe do que se trata o livro dá pra perceber o olhar da menina da capa. Eu tenho feito muitas leituras que tem temáticas fortes como essa e cada vez eu fico mais triste com esse tipo de coisa.

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  17. Oi Natalia...
    Uma garota de 6 anos abusada pelo pai e abandonada pela mãe... Quanta tristeza para uma garotinha tão pequena que carregou essa dor para o resto da vida... Uma leitura realmente forte, intensa e chocante... E infelizmente uma história tão real e comum em nosso dia a dia...
    Beijinhos...

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  18. nossa que livro pesado!!!
    o mais triste é saber que mais de 70% das crianças abusadas são por pessoas próximas a ela
    e o pior é quando ainda colocam a culpa na criança
    fico impressionada com a coragem dela de expor o que ela passou quando criança
    gostaria que isso ajudasse a diminuir os acontecimentos

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  19. Desde o lançamento tenho vontade de ler esse livro. Mas, me falta coragem! Primeiro porque só de imaginar isso já fico triste! E depois porque já tive uma experiência com um livro mais ou menos semelhante com "Quarto" da Emma Donoghue. Fiquei muito incomodada com a situação no livro, e era uma ficção, sem descrições de estupro tão explícitas. E realmente, até a capa do livro consegue passar uma dor indescritível.
    É como eu disse, quero ler, mas ainda não estou preparada.

    Beijos!

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  20. Não tenho palavras para falar deste livro, acho que li sua resenha ainda no skoob, não sabia da existência dele, acho que todos os pais, mães, irmãos deveriam ler este livro, todos devem ler, para saber que isso existe, que devemos ficar atentos a todos os sinais, que devemos ajudar e não ser como a mãe desta garota, que casos assim não se repitam, que estes agressores paguem. Eu sei o que é isso, queria não saber, mas eu sei, é doído, é para sempre. Sua resenha ficou ótima, mesmo não revelando muito do enredo me arrancou lágrimas. Não sei se lerei este livro, acho que seria demais para meu psicológico, mas é uma ótima forma de divulgação. Tenho muita pena dessa autora, espero que ela tenha conseguido viver com suas cicatrizes.
    Abraço!
    A Arte de Escrever

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  21. Que história pesada :( Pelo título já podemos perceber que não é uma leitura pra passar o tempo e dormir tranquila mas a história me pegou de surpresa. Sempre achei estupro o pior crime contra uma pessoa, principalmente contra crianças e admito que não tenho estomago e nem psicológico para ler um relato real sobre isso.

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  22. Oi Naty!
    Puxa, não sei nem o que dizer... Se ao ler sua resenha já me senti super desconfortável, imagine lendo o livro. Um verdadeiro e terrível choque de realidade! E o mais horrível, é saber que se trata de uma história real e que centenas como esta estão acontecendo agora e a gente não pode fazer nada! Nenhuma criança no mundo deveria passar por isso, nenhuma criança deveria ser privada de cuidados e amor do amor da sua família!
    O pai da Antoinette era um monstro psicopata, mas o que me dói ainda mais e me deixa enfurecida é que sua mãe foi negligente com o que acontecia debaixo do seu teto e preferiu valorizar e ser indulgente com o monstro que denegria a infância de sua filhinha! Eu fiquei curiosa para saber se os pais de Toni tiveram alguma punição, mas no momento acredito que não tenho estômago e nem emocional para encarar uma narrativa tão pesada e com esse teor psicológico.
    Beijos!

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  23. Ai, miga.

    Eu li esse livro ano passado e ele é muito forte mesmo...Mas o pior não é saber que é uma história real, nem ver os relatos...É saber que isso acontece com muitas crianças, sedo a maior parte meninas, e sendo que a maior parte dos abusadores é da familia da criança. Me dói tanto o peito pensar nisso. Arde os olhos.
    Enfim, um livro que eu li do mesmo tipo, mas q me doeu mais q esse foi Menina morta-viva. É horrivel a história.

    bjbj

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  24. Oi Natalia, tudo bem?
    Sinceramente, não sei se teria coragem de ler este livro. Fico furiosa de tomar conhecimento sobre essas coisas e com certeza eu sentiria nojo durante toda a leitura. É muito triste saber que infelizmente os abusos sexuais infantis estão cada dia mais fortes, e na maioria das vezes a criança fica sem saída e sem ter para quem pedir ajuda, igual no caso da protagonista.
    A história é bem forte pelo que pude perceber.
    Beijos

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  25. Oi, Natalia.
    Eu to chocada até agora com o que eu acabei de ler. Depois de ler os Quotes, o que faltava para eu começar a chorar acabou. Mesmo sabendo que isso, infelizmente é algo comum, a gente não consegue ver o quanto é horrível ate ter contato com alguém que já passou por isso. Eu definitivamente não teria estomago para ler esse livro. Não consigo nem imaginar o que mais pode estar escrito nas outras páginas, que já da um grande aperto no coração.

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  26. Esse livro chega a ser perturbador! É triste demais, realmente como você falou, a gente tenta salvar a menina mas sabe que não pode. E as coisas que continuam acontecendo com ela mesmo depois de adulta, o relacionamento com a mãe, o amor que a mãe nutria pelo pai e que a cegou para a própria filha... é tudo muito, muito triste!
    Precisamos estar atentos aos sinais para evitar que continue acontecendo esse tipo de atrocidade :(

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  27. Sempre olho para este livro na minha estante e tenho um aperto no coração. Mesmo já o tendo lido há tanto tempo, ainda me emociono só de lembrar da história.
    Realmente há de se ter estômago para degustar cada página desta história real e desnorteante.
    Na época que ele foi lançado, corri para comprar e o devorei rapidamente, torcendo para que quando fechasse o livro, tudo fosse dissolvido na memória. Mas não foi.
    Impactante e necessário sim!
    Um grito de socorro, um sinal de alerta!
    Mais do que recomendado!!!
    Beijo

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