Comentar Outlander é uma responsabilidade que, apesar de prazerosa, é enorme. Eu não consegui encontrar um adjetivo para resumir tudo o que eu senti durante a leitura porque foi muito além do que eu esperava.

Após ter seu casamento brutalmente interrompido pela Segunda Guerra Mundial, Claire e Frank Randall estão mais do que dispostos a reatar o matrimônio de onde pararam, entretanto, é claro que a intimidade e ligação que tinham há anos atrás não são as mesmas. O amor continua ali, mas os anos mudaram suas formas de ver o mundo. Logo, não há ideia melhor que passar uma segunda lua de mel em Inverness.

Para Frank, que sempre foi apaixonado por história e que agora se empenha em desvendar sua árvore genealógica, essa viagem tem uma segunda função: conhecer a fundo Jack Randall, um de seus antepassados influentes para o exército inglês durante o século XVIII.

O curioso é que durante essa viagem, o casal acaba presenciando um estranho ritual feito por mulheres em um círculo misterioso de pedras na colina de Craigh na Dun. Diante de toda magia e mistério que envolve o momento, Claire, que foi enfermeira para o exército britânico e é conhecedora de plantas medicinais, tem sua atenção focada numa pequena plantinha localizada perto de onde acontecia o ritual. Ela não pode pegá-la no momento, portanto, convence a si mesma de voltar na manhã seguinte para recolher a erva.


Estranhamente, quando ela volta para pegar a planta, o barulho incessante de gritos, chiados e zumbidos se faz presente, mas tudo ao seu redor está calmo demais, o que a leva a tocar numa das enormes pedras de Craigh na Dun, que, possivelmente, abriga o conflito. O grande problema é que, misteriosamente, Claire acorda segundos depois num ambiente completamente diferente do anterior. Pior! Está no meio de uma batalha em que os conflitantes se vestem de forma muito, muito equivocada para o seu século XX. Não demora tanto para se descobrir transportada para quase 200 anos antes, mais precisamente 1743 e que está no meio de um confronto entre clãs escoceses e o exército inglês.

Como se não bastasse a dura realidade que ela está presenciando, Claire logo é atacada por um dos homens do exército com a mesma e assustadoramente idêntica aparência de Frank. As pesquisas de seu marido passeiam pela sua memória e ela prontamente deduz que aquele é, na verdade, Black Jack Randall e que toda história sobre ele ser um herói tem uma segunda e mais sombria versão. Ao contrário do seu doce e compreensivo marido de 1945, o seu semelhante é um completo brutal que na primeira oportunidade tenta abusar sexualmente de Claire, ato que só não acontece porque um guerreiro escocês a resgata e a leva para uma espécie de acampamento, que logo nossa protagonista descobre ser do Clã Mackenzie.

Lá ela conhece Jamie, um jovem ferido, necessitado de cuidados médicos, consequentemente, nossa protagonista se prontifica para cuidar de seu ombro. A partir daí eles estabelecem uma relação improvável de amizade e confiança. Mas é claro que aquelas vestimentas do século XX e o forte sotaque inglês despertam a desconfiança dos membros do clã, então concluem que a mulher é na verdade uma Sassenach (“forasteiro” em gaélico) espiã e o certo a se fazer é levá-la até o castelo dos Mackenzies e arrancar toda verdade que ela, possivelmente, esconde.

Durante esse meio tempo e alguns mais a frente, Claire e Jamie se aproximam muito. Observar as interações entre esses dois no início da trama é de aquecer o coração, confesso. Jamie é (suspiro) o tipo de personagem que todo mundo quer reivindicar para a vida real de tão apaixonante, quente e compreensivo que é. Esse escocês teimoso é simplesmente diferente dos outros homens a sua volta, o que leva não só Claire, como nós também, a ter um pouco mais de curiosidade sobre esse homem.  Contudo, nada disso tirou o foco da protagonista. Ela precisava fugir e desvendar aquele mistério, voltar à sua realidade e para Frank, mas entre todas as suas tentativas de fuga, Claire nem percebeu que seu coração preparava uma armadilha para a sua mente e que, voltar ao século XX, se tornaria uma aventura muito mais complicada com o passar dos dias, com o correr da convivência com aquele povo.


A obra tem inúmeros pontos fortes que merecem destaque, um deles é a força da protagonista. A firmeza da Claire numa sociedade completamente distinta para ela, onde há preconceito, constante pressão da igreja nos hábitos das pessoas e muito machismo, afinal, se trata do século XVIII, em que a mulher era completamente subjugada, deixa o nível de orgulho por conhecer alguém tão forte elevadíssimo. Consequentemente, ver essa mulher desafiando tudo isso e colocando a cara a tapa para todos ao seu redor é envolvente, apreensivo e doloroso até.

É incrível observar o comportamento da Claire em cada situação. Em nenhum momento ela se fez de vítima, muito pelo contrário, nunca expressou ser "refém" do que estava acontecendo com a sua vida, mas sempre buscava uma solução, um modo de minimizar as lembranças e até mesmo a culpa por ter seu coração dividido. Aliás, não há personagens perfeitos aqui e é por essa razão que cada um deles são tão maravilhosos e bem construídos.

Adianto que nós não gostamos da Claire porque ela é perfeitamente forte e evoluída, ela tem seus nuances. Tem características verdadeiramente humanas que dão a ela uma personalidade real. Assim como Jamie, que apesar de ótimo em suas atitudes, ainda é um homem de dois séculos atrás, que tem alguns comportamentos surreais, mas que são culturais e típicos daquela época, não há justificativas para alguns deles, claro, mas era a realidade de tempos atrás. Há personagens que erram a todo o momento, mas simplesmente ganham o nosso coração, outros que são simplesmente cruéis e repugnantes, mas é isso um dos pontos que movimentam a história.

Não posso deixar de mencionar o quão delicioso é acompanhar essa aventura da Claire. São tantas enrascadas, umas apreensivas outras até engraçadas, mas todas muito envolventes.
O primeiro livro é dividido em seis partes e é completamente contado pela Claire. A narrativa da Diana é chocante de tão bem estruturada. Cada detalhe é citado com perspicácia. Ah, nem pense que isso torna a leitura chata ou cansativa. Na verdade, a obra ganha uma riqueza maior e o benefício é todo para o leitor. A autora nos transporta para os belos castelos escoceses do século XVIII, passeia conosco pelas paisagens e nos envolve com clãs completamente acolhedores para com o leitor. Além disso, desenvolveu um romance que explodiu de forma inusitada, mas que foi capaz de derreter até o mais gelado dos corações. É impossível não sentir a química entre Claire e Jamie, se estão juntos é visível uma tensão entre eles e o desenrolar e enrolar disso tudo é maravilhoso. Até porque de um lado temos uma mulher cheia de atitude e convicta de si, do outro temos um escocês conservador, entre eles uma chama impressionante e uma relação que admite segredos, mas não mentiras, além de quase 200 anos de costumes diferentes e um coração dividido.

Para quem gosta ou ama a Escócia, assim como eu, essa série é um prato cheio de história, cultura e costumes. Tenham certeza de que eu não expressei nem 60% da minha empolgação (hahaha), acredito que se a tivesse feito, alguns spoilers passariam. Enfim, pode ser assustador ver um livro de 800 páginas, mas é impressionante saber que todas elas passam num piscar de olhos e no final você fica louco querendo mais. Posso apostar que, assim como eu, quando terminar a leitura, você vai soltar todo ar que prendeu nos pulmões durante as páginas finais e sentir um pesar por ter que voltar para a realidade. A verdade é que Outlander não é só mais uma fantasia, ou mais um romance histórico ou uma ficção científica qualquer. É a mesclagem de tudo isso com a maestria que só um bom contador de histórias pode oferecer.

Quotes:
“Muitos dos desaparecidos serão encontrados, por fim, vivos ou mortos. Afinal, os desaparecimentos têm explicação. Quase sempre.”

“Porque onde todo o amor existe, não há necessidade de palavras.”

“Eu sou seu senhor... e você é minha senhora. Parece que não posso possuir sua alma sem perder a minha.”

“Senhor, se nunca tive coragem em minha vida antes, que eu a tenha agora. Permita que eu seja corajoso o suficiente para não cair de joelhos e implorar- lhe que fique.”


Título: Outlander – A Viajante do Tempo
Autor: Diana Gabaldon
Editora: Arqueiro
Páginas: 800
Ano: 2016

Resenhado por: Marina Monteiro

17 comentários:

  1. É difícil expressar tudo que essa história acaba passando pra gente mesmo, não é? Gostei tanto que apurrinhei a cabeça da minha irmã pra ver a série de tv e agora influenciei outra louca a gostar do Jamie xD
    E da Claire também né! Meu Deus, o que essa mulher faz ali é um negócio que fiquei impressionada quando li, porque ela se jogou na época como se fosse dali. Tem aqueles momentos estranhos e tudo mais, mas ela se adaptou tão bem e conseguiu fazer as coisas tão certinho que foi legal demais acompanhar a jornada dela por outra época. Quando as coisas davam errado eu ficava pensando comigo mesma que se fosse eu já tinha morrido lá quando ela se encontra com o Jamie pela primeira vez. Ahh, não durava um segundo! Mas a mulher é tão forte e destemida que enfrenta as coisas de um jeito que dá inveja e faz o coração tremer de emoção.
    E nem preciso dizer que amei a cultura apresentada, o quanto me ensinou sobre história e me fez conhecer uma forma de vida que nem imaginava. Não sabia quase nada desse país e depois de ler esses livros da série a gente fica até se achando o especialista xD
    É legal o quanto a autora conseguiu passar a ideia de estar naqueles tempos e mostrar a cultura, o clima de como era, aquele sentimento selvagem e difícil dos tempos e a luta pra sobreviver e etc. Mas também faz com que a gente imagine o quanto o pais consegue ser bonito e dá vontade de conhecer mais dele mesmo. Fiquei totalmente apaixonada. Essa série é maravilhosa, tanto os livros em si como a série de tv que fizeram. Vale a pena conhecer essa história.

    ResponderExcluir
  2. Oi, Marina!
    Admiro a força da Claire, acho esse um ponto bastante forte na trama de Outlander, não gosto de personagens que se fazem de vítimas... mas sempre tive receio de iniciar a leitura dessa série, falam muito da escrita detalhada da Diana e sinceramente não curto escritas desse tipo, mas se você diz que isso não tornar a leitura chata ou cansativa vou arriscar a leitura caso eu tenha a oportunidade de ler... Então, valeu pela dica!
    Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Oi!
    Só vejo elogios para essa série, mas por enquanto não posso me aventurar por ela porque é enooooorme e tenho muitos livros na fila esperando para serem lidos.
    Amei demais o fato da protagonista ser assim tão forte, pois não gosto de protagonistas bobinhas e submissas. Personagens reais também ganham meu coração pois ninguém merece pessoas perfeitas e utópicas.
    Quero ler, sim, com toda a certeza!

    ResponderExcluir
  4. Oi.
    Eu quero muito ler essa serie, mas confesso que o que realmente me deixa relutante é a quantidade de páginas, adoro o Jamie pelo pouco que acompanhei da série no Netflix ele é um amor, já estou apaixonada sem nem ler, Outlander está na minhas meta para esse ano, espero ter coragem para enfrentar essa leitura.
    Bjs.

    ResponderExcluir
  5. Natália!
    Não apenas gosto dos romances ambientados na Escócia, como amo o tema viagem no tempo.
    Já li várias resenhas sobre o livro e os outros da série, mas confesso que a sua foi a mais completa, trouxe detalhes que em outras não tinha visto e ainda deu explicação como ela conseguiu ir para outra época, que é uma das minhas maiores curiosidades.
    Obrigada!
    Desejo uma semana abençoada!
    “A simplicidade é o último degrau da sabedoria.” (Khalil Gibran)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de MARÇO, livros + KIT DE PAPELARIA e 3 ganhadores, participem!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Foi a Mari que resenhou, Rudy.
      Que bom que gostou <3

      Excluir
  6. Queria ler essa serie mas acho que já comentei aqui que tenho um pouco de preguiça pq os livros são enormes.
    Parece ser uma história maravilhosa e complexa, um dia ainda crio coragem pra ler.

    ResponderExcluir
  7. Bem explicada a resenha ainda não li esse livro, pois a série esta na minha lista de compras esperando uma boa oferta rs. Mas estou assistindo a série e gostando. É difícil não gostar do Jamie ele é um fofo, situação difícil a da Clare voltar para o marido ou ficar que dilema, já até me coloquei no lugar dela rs.

    ResponderExcluir
  8. Já ouvi falar da serie deste livro e fiquei muito curiosa para ler, agora ainda mais, a resenha está incrível e me deixou com vontade de ler o mais rapido possivel, mas acho que vou assistir o seriado primeiro.

    Visitem meu blog!
    garotaeraumavez.blogspot.com.br
    Obrigada!

    ResponderExcluir
  9. É impossível mesmo resumir tudo o que sentimos durante essa leitura deslumbrante ♥
    Li recentemente esse livro e estou completamente apaixonada pela série! Fazia tanto tempo que esse livro estava na lista de desejados e estava criando tantas expectativas, que quando finalmente iniciei a leitura ao mesmo tempo queria ler rapidinho como também não queria que acabasse nunca kkkk
    Amei que romance tem uma construção histórica real, na guerra entre os ingleses e escoceses. Além disso, amei que o livro trás muitas reflexões de como a mulher era tratada 200 anos atrás. A Claire é uma guerreira nata, e o Jamie só suspiros durante o livro inteiro kkk.
    800 páginas foram poucas, quero mais, muito mais! Até ter o segundo livro em mãos não resisti e acompanhei a adaptação da série, que está tão perfeita quanto ao livro. Um romance emocionante, cheio de drama e questões políticas, em um cenário deslumbrante, é uma leitura mais do que recomendada.
    Beijos

    ResponderExcluir
  10. Oi, Naty
    Sou doida para ler esse livro. AS 800 páginas não me assustam.
    Assim como você também amo tramas que se passam na Escócia, ainda mais um livro com tantos elementos históricos. Diante de sua empolgação fiquei ainda mais curiosa pela obra. Espero não demorar para fazer a leitura.

    ResponderExcluir
  11. Oi Naty, tudo bem?
    Esses livros estão fazendo o maior sucesso né, estou louca para começar a ler.
    Beijokas
    Quanto Mais Livros Melhor

    ResponderExcluir
  12. Estou super doida para ler esse livro!
    Amo romances meio de época!
    E tem série que eu tbm quero ver!
    Ahhh!
    Acho esse livro lindo. Tenho que comprar!

    ResponderExcluir
  13. Olá, Marina.
    Eu quero muito ler esse livro e me apaixonar pleo cenário, pelo casal, pela história, por tudo. mas só de pensar quantos livros já tem lançado e que o preço não é tão em conta assim, eu já fico desanimada hehe. Mas sem dúvida é um livro que lerei um dia. Amo livros do gênero e até agora não vi nenhum comentário negativo sobre ele.

    Prefácio

    ResponderExcluir
  14. Ola, tudo bom?
    Eu tenho esse livro, mas ainda não o peguei para ler, nossa ele é gigante hahahaha e por causa de tempo estou preferindo os menores, porém pretendo ler, sempre vejo muitos elogios, e espero gostar da leitura, não sei nada sobre a Escócia, mas gostaria muto de conhecer.
    Beijos *-*

    ResponderExcluir
  15. Oi, Marina!!
    Adorei a resenha!! Devo confessar que vou assistir a série para depois ler os livros!! Pois. fiquei bem assustado com o calhamaço que é esse livro !!
    Beijoss

    ResponderExcluir
  16. Jesus amado, 800 páginas! Eu não tinha ideia que esse livro era tão grande, ainda mais porque depois tem tantas continuações, que devem ser igualmente grandes, imagino. Confesso que não li a série e nem assisti, mas acho a premissa interessante.

    Beijos,
    Amanda Almeida

    ResponderExcluir

Gostou da postagem? Deixe um comentário. Se não gostou, comente também e deixe a sua opinião.
Se tiver um blog deixe o endereço e retribuiremos a visita.
Aproveite e se inscreva nas promoções e concorra a diversos prêmios.