Não estava esperando receber Nossas noites da editora e, quando vi a capa, logo me lembrei de O casal que mora ao lado, tanto pelo fato de as capas serem parecidas quanto pelo fato de ter recebido os dois pacotes no mesmo dia. Quando me deparei com as obras, imaginei que seriam histórias bem parecidas, mas estava enganada.

Nossas noites vai tratar de uma temática bem diferente, que geralmente não estamos acostumado a ler: velhice. Somos apresentados a uma história de solidão exatamente nessa fase da vida. Quantos de nós não temos medo dela? De ficarmos sozinhos, abandonados e sem ter um amparo. É o que esse livro abordará.


Addie Moore faz uma visita inesperada a seu vizinho, Louis Waters. Viúvos e septuagenários, os dois lidam diariamente com noites solitárias em suas grandes casas vazias. Addie propõe a Louis que ele passe a fazer companhia a ela ao cair da tarde para ter alguém com quem conversar antes de dormir. Embora surpreso com a iniciativa, Louis aceita o convite. Os vizinhos, no entanto, estranham a movimentação da rua, e não demoram a surgir boatos maldosos pela cidade. Aos poucos, os dois percebem que manter essa relação peculiar talvez não seja tão simples quanto parecia.

Haruf retrata esse ponto de forma delicada e sutil, explorando pontos com ternura e deixando o leitor com dó daqueles personagens. Porém, ainda que a história passada tenha sido boa e emocionante, o fato de duas pessoas, na terceira idade, estarem sozinhas e se unirem para um fazer companhia ao outro, senti que faltou elementos para me cativar. Explicar-me-ei.



Pelo fato de a história ser toda contada sem indicação de falas, o leitor muitas vezes se perde e não sabe quem está falando ou o que é fala, já que a narrativa é toda corrida. Não temos travessão, aspas ou qualquer indicativo de que há alguém falando. O que temos são apenas parágrafos e o leitor que precisa embarcar no livro e tentar entender o contexto. Esse, para mim, foi o ponto crucial para me desgostar. 

Além disso, senti que os personagens poderiam ser mais explorados em alguns momentos. Entendo que eles eram idosos e nem todas as coisas são naturais para um jovem, mas o fato é que os diálogos eram robóticos e remotos. Não sei se isso acontece justamente pelo fato de não haver travessão e pode ter me dado uma interpretação diferenciada.



A capa representa bem o que Haruf quer nos passar: a solidão. Solidão de corpos, de almas que estão ali perto, mas que não se comunicam. O medo, medo de enfrentar a solidão, o medo da rejeição, da perda. Embora haja algumas falhas no livro, consegui sentir a dó dos personagens, de sentir as suas dores e de me imaginar numa situação como essa. Infelizmente, é inevitável o leitor não refletir nisso e não se colocar no lugar daquelas vidas tão solitárias, mas que necessitam de um contato físico, de um diálogo, de uma presença nas horas tão difíceis. 


Título: Nossas noites
Autor: Kent Haruf
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 160
Ano: 2017

10 comentários:

  1. A primeira coisa que me interessou nesta obra foi por retratar a velhice, uma fase do desenvolvimento, onde todos nos iremos passar, e a solidão e um evento normativo desta fase, onde geralmente um dos parceiros falece, e por fim acabamos tendo de arruma outras alternativas como este casal fez, passarem as noites juntos. Uma pena que não tenha indicativos de falas, travessão ou pontuação, isto e algo que me incomodou, talvez texto corrido ao meu ver não cabe nesta estória. Enfim, mesmo assim pretendo me aventurar nesta leitura, espero gostar.

    Participe do TOP COMENTARISTA de AGOSTO, para participar e concorrer Ao livro "Dois Mundos", o primeiro da série "Tesouros da Tribo de Dana" da escritora Simone O. Marques, publicado numa edição linda pela Butterfly Editora.
    http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Fico triste quando vejo um livro com potencial se perder por detalhes que poderiam ser facilmente resolvidos.
    A história me encantou bastante, parece ser o tipo de livro reflexivo e gosto muito disso mas o problema com os diálogos é algo que não consigo relevar.

    ResponderExcluir
  3. Oi Natalia, tudo bem?
    Tenho uma grande dificuldade de ler livros que não tem os diálogos sinalizados assim como neste livro. Achei a premissa bem diferenciada e gostei do tema retratado ser a velhice. Quero ler um dia.
    Beijos

    ResponderExcluir
  4. Natália!
    Tremendo absurdo mesmo ter de enfrentar preconceito ainda mais da família e já com uma idade mais avançada.
    Deve ser um livro enternecedor e já imagino o quanto vou chorar ao lê-lo.
    Sinto que em sua pinião algumas coisas poderiam ser mais bem exploradas...
    Desejo um final de semana mais que tranquilo e abençoado!
    “Deus com Sua infinita Sabedoria, escondeu o Inferno no meio do Paraíso para que nós sempre estivéssemos atentos.” (Paulo Coelho)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE AGOSTO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

    ResponderExcluir
  5. Mesmo com esses poréns que não agradaram, gostaria de ler, pois é uma leitura diferente devido os protagonistas terem mais idade não é comum isso nos livros, além de ser uma idade que nós também vamos passar por isso, acho que da para se colocar no ugar dos personagens e sentir o que eles sentem em relação a solidão e deve ser uma historia fofa, pois são pessoas mais experientes que sabem bem o que quer, é uma pena essa sociedade que só sabe julgar as pessoas sem saber o que se passa com elas.

    ResponderExcluir
  6. Olá, Nathalia!

    Notei exatamente isso em sua resenha. Eles são julgados por querem estar juntos, somente juntos, sem que isso envolva namoro ou sexo. No fundo, mesmo nos achando os progressistas, que aceitam todos os comportamentos e estilos de vida, temos um preconceito que se revela nas fofocas como as que Addie e Louis ouvem sobre eles. E mesmo que se relacionem em um nível mais profundo depois, os julgamentos continuam. Pessoas que se casam mais de uma vez ainda são julgadas como safadas, não importa a idade e sem ao menos conhecer a sua história. O sexo ainda é julgado como nojento e para jovens. E se passou de 60, mesmo sendo super ativo e feliz, não pode ter outro amor porque já passou a idade de ter filhos, como se o namoro só servisse para a procriação da espécie humana e não para a formação de verdadeiros laços que unem as pessoas para sempre.
    Sim, Kent Haruf nos faz pensar que somos obcecados pela juventude pois pensamos que a vida é coisa para jovens, quando na verdade é para todos, sem limites ou preconceitos que teimamos em manter.

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  7. Acho que toda a minha vida de leituras nunca li um livro que aborda velhice. Meu deus, adorei! Deve ser bem dramático duas pessoas da terceira idade se juntar e ambos proteger um ao outro. E fiquei bem curiosa pra saber o final desta trama. Gostei muito da premissa do livro e gostaria de lê-lo o mais breve possível!

    ResponderExcluir
  8. A temàtica é interessante, pois é um assunto que não é retratado com frequência. Mas entendi seu ponto de vista, e a questão do diálogo é ruim, pois deixa a história cansativa e nem sempre da para chegar ao final.

    ResponderExcluir
  9. Oi! É realmente inevitável que qualquer um que leia o livro não se coloque no lugar dos personagens e não se sinta comovido. Achei a proposta do livro bem diferente e até incomum. O fato das falas não serem indicadas iria me incomodar bastante (acho que muitos vão se incomodar com isso), mas mesmo assim quero muito ler. Beijos

    ResponderExcluir
  10. Oi, Nathy!!
    Gostei muito da resenha, e vi esse filme na netflix mas ainda não consegui assisti. Achei bem interessante a premissa e sem dúvida deve ser difícil chegar a terceira idade e ficar sozinho.
    Bjoss

    ResponderExcluir

Gostou da postagem? Deixe um comentário. Se não gostou, comente também e deixe a sua opinião.
Se tiver um blog deixe o endereço e retribuiremos a visita.
Aproveite e se inscreva nas promoções e concorra a diversos prêmios.