Recentemente
tive o prazer de receber da Companhia das letras um exemplar do autor vencedor
do prêmio Nobel, Kazuo Ishiguro. Há tempos estava interessada em ler O gigante
enterrado, então, quando recebemos o Não me abandone jamais, decidi que era um
bom livro para começar a conhecer a escrita do autor.
Na
história, temos Kath, Ruth e Tommy. Se você não ler a sinopse antes de começar
a ler, não vai entender muito bem o que está acontecendo com eles, nem onde
exatamente eles estão. Mas, caso você leia, saberá que nossos três personagens
são clones. São pessoas clonadas e criadas com a finalidade de doação de órgãos
para que os humanos doentes e convalescentes possam viver mais. Esses clones
são chamados de doadores. Nossa narradora é Kath, e logo de início descobrimos
que ela atualmente é cuidadora de outros doadores. Você não sabe o que a levou
a ser cuidadora, não sabe o que aconteceu com seus amigos, mas descobre tudo
quando ela conta sua história através de suas memórias.
As
lembranças começam cedo, na escola Hailsham. Kath conta como foi que virou
amiga de Ruth, a garota mais mandona do colégio. Fala também sobre Tommy, um
garoto genioso que sempre foi hostilizado pelos outros alunos pelo fato de ter
chiliques inexplicáveis. Você também logo percebe que essas são crianças sem
pais, são crianças emocionalmente carentes, que secretamente lutam para ter a
atenção do seu guardião (professor), para se sentirem especiais. Sobre esse
assunto, elas crescem ouvindo que são especiais, que tem um propósito honroso a cumprir quando chegarem à vida adulta, porém, o assunto nunca é deixado
totalmente às claras.
As
crianças têm uma rotina bem organizada na escola: praticam esportes, tem aulas
de arte onde são fortemente estimuladas a serem criativas, possuem aulas de
sexo, de geografia e história. Mas elas também são muito vigiadas; as portas, por exemplo, são fechadas somente na hora de dormir. Quando querem fofocar,
falar de algum tema mais “proibido”, elas precisam ir a um local mais
escondido, do contrário, a escola inteira se reúne ao redor para ouvir o que
está sendo conversado, descaradamente.
De tempos em tempos, é organizado um bazar. Esse bazar é motivo de grande euforia para os alunos, pois é onde eles tem a chance de trocar suas artes (poesias, pinturas), por outros objetos: fitas cassete, estojos de lápis, objetos que eventualmente tenham algum valor emocional para o aluno. Esses objetos, ao longo dos anos, formam a coleção pessoal de cada aluno, e essa coleção é de grande estima para cada um. Kath pessoalmente, tem uma fita com uma capa um tanto quanto proibida, pois mostra uma mulher fumando (coisa que é altamente proibida na escola). Aliás, qualquer tipo de droga ou vício é totalmente proibido, pois os futuros doadores precisam ser saudáveis. Mas eu estava falando da fita da Kath: essa fita não possui um repertório muito interessante, mas existe uma faixa específica, muito ouvida por nossa protagonista. O nome da música que ela ouve sem parar é Não me abandone jamais, e existe toda uma cena que acontece em cima dessa faixa musical.
Como
mencionei acima, as crianças são altamente estimuladas a serem criativas, e
suas criações são apresentadas para a Madame. Essa mulher misteriosa recolhe as
melhores criações e as leva embora. Os alunos não sabem para qual finalidade as
criações são recolhidas, mas começam a dizer que elas são levadas para a Galeria de Madame. Tommy tem seus
chiliques constantes por não ser criativo: ele simplesmente não consegue criar
nada bom ou interessante para ir para o Bazar, ou para a Galeria.
Então, algum tempo passa, e você descobre que eles cresceram e não estão mais em
Hailsham. Foram separados em grupos e levados para o Casario. Nossos três
protagonistas foram enviados juntos para essa casa, onde acabam passando por
algumas privações. Lá eles conhecem outros como eles, vindos de outras escolas
como Hailsham, porém, não exatamente como Hailsham. Conforme nos é narrado a
convivência dessas pessoas dentro daquela casa, você percebe que nossos três
amigos tiveram privilégios que os alunos de outras escolas não tiveram, e por
esse motivo são vistos como diferentes, são vistos como muito especiais.
Paramos
por aqui, tem muito pano pra manga ainda nessa história e vou me limitar a
falar somente isso. A narrativa é feita pela Kath de uma forma totalmente normal,
esperançosa até, como se ela não soubesse que dentro de alguns anos ela irá
doar seus órgãos vitais e morrer, para que outra pessoa possa viver, e acho que
é isso que faz esse livro ter uma atmosfera tão triste. Você sente que a
situação toda é muito injusta, pois, afinal, são seres humanos sendo criados
para morrerem precocemente e de formas não naturais. Por outro lado, nos faz
pensar na seguinte situação: se essa solução nos fosse apresentada nos dias
atuais? Se existisse a possibilidade de termos um clone nosso em algum lugar,
onde os órgãos dele estariam disponíveis para utilizarmos quando necessário?
Nós iríamos nos importar com esse clone? Nós iríamos pensar no fato de que
aquele também é um ser humano (apesar de criado de forma não natural), com
sentimentos e emoções?
Se
isso de fato fosse colocado em prática, seria a solução para as doenças como o
câncer, para aqueles órgãos perdidos em acidentes, mas a que custo?
Conseguiríamos dormir, sabendo que alguém morreu para podermos viver?
A
narrativa é mais lenta, a escrita é bem elaborada e nós não temos ação alguma
no livro. Se você está pensando que teremos a revolta dos clones contra o
programa do governo, você está enganado. Porém, é um livro maravilhoso mesmo
assim, e entrou para a minha lista dos favoritos de 2017 com certeza. Cinco
estrelas bem merecidas.
Oi, Silvana. Quando li sua resenha comecei a perceber que já tinha visto um filme assim, e percebi que é do mesmo título haha eu não curti o filme justamente porque ele tem uma vibe melancólica, do fato de você ver pessoas que nasceram apenas para morrer ajudando outras. Eu chorei horrores no final, isso porque fiquei com aquela dó imensa dos personagens, perguntando-me o quanto o mundo era injusto com eles. Foi um filme lindo, que me fez refletir muito mas que provavelmente não veria outra vez.
ResponderExcluirBeijos
http://www.leitoraencantada.com/
Oiee, eu ainda nao vi o filme por saber que vou chorar, to adiando isso porque agora to com o emocional abalado. Mas mais para frente eu vou ver com certeza!! Beijoo
ExcluirSilvana, não é meu gênero preferido de leitura. Mas sabe que pela sua resenha, fiquei bem curiosa com esse livro? Agora quero!
ResponderExcluirBeijo!
Cores do Vício
Dê uma chance, quem sabe você gosta? Abraço
ExcluirAchei muito interessante, mas eu sou daquelas que adora uma revolta, uma justiça, quero ver o "mocinho" brigando e vencendo. Gostei do tema, mas por ser algo mais lento não sei se iria gostar do livro. Amei sua resenha. bEIJOS
ResponderExcluirCharme-se
Oie Simone,
ExcluirEntao talvez você nao goste, porque o mocinho nao vence :(
Obrigadaa
Abraço
Oi, Sil!
ResponderExcluirEu não fazia muita ideia sobre o livro, mas acabei gostando do que você apresentou. Só essa narração lenta que me deixa com um pé atrás... tem vezes que me atrapalha e me dá vontade de abandonar o livro.
Beijos
Balaio de Babados
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Apesar de lenta, achei bem interessante. Talvez você goste, um abraço
ExcluirGostei muito da resenha, não conhecia o livro mas ele me pareceu bem reflexivo. Achei genial toda a ideia dele e parece ser algo bem melancólico, costumo gostar de livros com mais ação mas acho que esse merece uma chance.
ResponderExcluirOlá Maíra,
ExcluirEsse livro é incrível, estou torcendo pra você gostar. Abraços
Ainda não conhecia o livro, mas só a resenha já me deixou com muita vontade de ler! Uma pena não ter ação, eu já tava esperando uma reviravolta hahah mas mesmo assim parece ser uma leitura muito interessante!
ResponderExcluirUm beijão,
Gabs | likegabs.blogspot.com ❥
Oi Gabriela, tem reviravolta nao hehe mas é um livro bom mesmo assim :) abraços
ExcluirOi, não conhecia sobre o livro, mais gostei muito de sua resenha e da forma que você abordou. Abraços!
ResponderExcluirwww.historiasdaiza.blogspot.com
Ola Izabel,
ExcluirObrigada :)
Silvana!
ResponderExcluirGosto dos livros no estilo, onde podemos repensar uma sociedade tão cruel como a nossa, mas ainda assim, saber que algumas pessoas, mesmo que de forma ficcional, conseguem superar seus problemas e s tornam adultos equilibrados e produtivos.
Não li nada do autor ainda, mas preciso.
Bom domingo!
“A melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.” (Desconhecido)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA dezembro 3 livros + 2 Kits papelaria, 4 ganhadores, participem!
Quero ler esse livro achei interessante e diferente, quando comecei a ler a resenha logo veio em mente se fizessem isso na realidade mas como tudo tem suas consequências não seria uma boa ideia. Deve ser uma historia que mexe muito com as nossas emoções e faz com que torcemos para os clones, fiquei bem sentimental com eles, isso só lendo a resenha imagina o livro rs.
ResponderExcluirAhhh gente! É esse o tal livro do filme que vi faz tanto tempo e não tinha visto o livro! Que show *-*
ResponderExcluirParece bem parecido com o que vi, o clima é o mesmo pelo menos e do que acompanhei naquele filme se o livro conseguir passar as emoções deve ser bem forte. A ideia é muito doida né? Tão...nossa cara, achei horrível. E a vida dessas pessoas? E os sentimentos delas? Não valem nada? Foi uma história que odiei ver por tanta coisa ruim que me deixou, mas também amei. Agora deu vontade de ler o livro. Vou marcar na lista.
Por conter spoilers, não prossegui a leitura da resenha, mas já ouvi falar desse livro e pelo que deu pra perceber, esse, é um livro triste, sofrido mesmo! Quero muito ler!
ResponderExcluirOi, Silvana!!
ResponderExcluirAcho interessante a proposta que o autor coloca no livro, mas ao mesmo tempo chega ser bem cruel. Não sei por que mais lembrei de um filme que abordava esse mesmo tema criar clones como doadores de órgãos.
Bjoss
Eu acabei vendo o filme e é realmente emoção do começo ao fim!
ResponderExcluirAcredito que as letras do autor sejam feitas para mentes apuradas, simplesmente isso. Não é uma leitura que vá agradar a todos, até por trazer este lado mais melancólico da vida, com narrações mais contidas e lentas!
Que é lindo, isso é sem sombra de dúvidas. Só é preciso estar aberto ao diferente!
Beijo
Uau, uma história que nos leva refletir mesmo. Pensar que os clones foram criados só para morrerem doando seus órgãos mas por outro lado estarão salvando vidas. É difícil não se apegar com os clones e acho que isso deixa tudo ainda mais triste. Fiquei muito curiosa com essa premissa, essa escola e todo o mundo em que eles vivem. Nunca li nada parecido e pretendo fazer essa leitura
ResponderExcluirOi, Silvana. Quando li sua resenha comecei a perceber que já tinha visto um filme assim, e percebi que é do mesmo título haha eu não curti o filme justamente porque ele tem uma vibe melancólica, do fato de você ver pessoas que nasceram apenas para morrer ajudando outras. Eu chorei horrores no final, isso porque fiquei com aquela dó imensa dos personagens, perguntando-me o quanto o mundo era injusto com eles. Foi um filme lindo, que me fez refletir muito mas que provavelmente não veria outra vez.
ResponderExcluirBeijos