Esta resenha será mais um desabafo do que uma resenha
propriamente dita, eu sei. Sei que não deveria ser assim. Sei também que vocês
iriam chorar ou, no mínimo, com aquele que possui o mais pútrido coração, se
emocionar.
Minhas palavras iniciais foram fortes, não é, caro
leitor? Desculpe se ousei chamar algum de vocês de ter um coração pútrido,
posso até ter me equivocado, mas o fato é que não quero mostrar que seu coração
é ruim ou que o meu é imprestável. O fator principal é o seguinte: não há quem
não se emocione com essa história. Não há quem não reflita. Não há quem não
sinta nada, é impossível concluir essa leitura e achar que sua vida está
absolutamente normal, que os nossos problemas são os maiores do mundo. Vamos
diminuir as coisas porque não são, não.
Vocês já ouviram falar em eutanásia? Se já não
ouviram, certamente já ouviram falar em pessoas que estão há dias, meses, anos,
décadas em cima de uma cama... Sofrendo... Sofrendo... Morrendo. Aliás, que
vida ela tem? Não se vive ali, não se respira com satisfação, apenas está
agonizando e pensando o quanto de trabalho está causando para fulano, ciclano e
beltrano. Não há vida, eles apenas vegetam. Aqueles que não conseguem andar,
mas sentem dores; não conseguem falar, mas seu coração está gritando para
acabarem com sua vida. Não porque eles são fracos, mas porque não conseguem
mais lutar contra algo que não há solução.
Aquele doente abre os olhos e o outro limpa suas
nádegas, trocam suas fraldas, dão-lhe banho, alimenta-o pela sonda e diversas
outras coisas que apenas fazem a pessoa se sentir incomodada. Não ouse dizer
que o incômodo é de quem está limpando, lavando, alimentando... Isso quem faz é
por puro amor ou porque está sendo pago para fazê-lo. Mas a gente, muitas
vezes, esquece de analisar a vida daquele doente. Como ele quer ser visto pela
família? Como ele quer ser visto pela sociedade? Como aquele que viveu 5, 10,
15 anos sendo cuidado pela família, e sequer podia levantar da cama, quer ser
lembrado? Ou será que ele queria ser visto como o herói, aquele que fez coisas
boas, que ajudou pessoas, que trabalhou duro e colocou a comida na mesa para
seus filhos?
Esse é um dos assuntos mais debatidos no país e um dos
mais polêmicos. Voltando à minha pergunta inicial... Eutanásia é o ato de
alguém tirar a vida de outra pessoa pelo fato de esta estar com uma doença
incurável e sentir dores excessivas e intermitentes. E é aqui que o livro
entra.
Nelson é o típico senhor que não suporta ir ao médico.
E, se você acha que estou exagerando, certa vez ele sentiu uma dor de dente e
pediu para que o dentista tirasse todos os seus dentes da boca para que nunca
mais fosse preciso que ele retornasse ao consultório. Esse é só um dos fatores
para mostrar que, quanto mais fugimos do problema, mais ele aparece para nós.
Analisemos...
Se Nelson foge de médico como o diabo foge da cruz, o
que você acredita que acontecerá a seguir? Neusa, sua esposa, sofrerá mais um
AVC e precisará ficar internada. Aliás, a partir disso a sua vida será toda em
cima da cama de um leito para idosos. Porém, não se engane. Após isso
acontecer, ele não visita a esposa com desgosto ou qualquer outro sentimento
repulsivo; ele deseja estar com ela em todos os momentos e, desde então, as
visitas são diárias.
Acontece que Neusa já tem 72 anos, já está num estado
deplorável. Ela não fala, mal se mexe, é alimentada e limpada pelos
funcionários da clínica e não tem uma companhia diária, porque existem horários
rigorosos de visita. Em contrapartida, Nelson tem 74 anos, não está exatamente
como sua mulher, todavia, não é o mesmo de antigamente, seu braço não faz o
mesmo movimento, seus passos já são cansados e seu corpo, assim como sua mente,
não suportam mais ver a sua amada esposa implorando com os olhos para que seja
morta.
Não estou contando uma história para boi dormir, quem
dera estivesse. Esse fato realmente aconteceu e ficou conhecido na Justiça como
“um Romeu e Julieta da terceira idade”. É difícil dizer essas palavras,
preparar essa resenha sem ter lágrimas nos olhos. Talvez para você seja fácil
lê-la, mas você já se perguntou se fosse você no lugar de Nelson? E se fosse no
lugar de Neusa?
Talvez alguns até julguem o fato de Nelson preparar
uma bomba de fabricação caseira para matar a sua esposa, mas será que esses
mesmos julgadores já se perguntaram como estava o estado psíquico desse senhor
ao notar a sua esposa tão debilitada e implorando, com o olhar, para que aquele
seja seu último suspiro?
Esse livro não é somente uma história, ele é uma lição
de como não devemos ser, de como não devemos agir, quais atitudes devemos
fazer, assim como devemos ser para agradar as pessoas que estão ao nosso redor –
essas que tanto amamos. Você já olhou nos olhos daquela pessoa querida e
demonstrou o seu amor? Já disse o quanto ela é importante para você? E, o
melhor de tudo, já agiu para mostrar que tudo isso o que você disse de fato
está em consonância com as atitudes?
Quantos de nós não teremos uma segunda oportunidade,
um segundo olhar, um segundo toque? Esse pode ter sido seu último abraço, seu último beijo. Você não tem o poder de saber o
que acontecerá com você ou com a outra pessoa. Mas, de uma coisa eu tenho
certeza, temos o poder de deixar sentimentos nelas. Qual sentimento você quer
deixar hoje?
Não preciso nem indicar essa leitura, minhas lágrimas
já indicam sozinha. E espero que ela tenha sido capaz disso.
Outras fotos:
Título: O último abraço
Autor: Vitor Hugo Brandalise
Editora: Record
Páginas: 140
Ano: 2017
Ano: 2017
Meu Deus, mas que livro pesado! Ai, deu um treco só de ler a resenha. Não sei se teria estomago pra ler o livro porque é um caso polemico, mas nossa cara, triste...
ResponderExcluirMas ele mostra muitos sentimentos e questões que deixam um impacto na gente pelo visto. Faz pensar, todas essas coisas sobre o assunto e até nos nossos relacionamentos seja com quem for. Como agimos, o que fazemos...tem umas coisas que achei legal. Mas é um livro que me deixou até com medo de ler por quanto parece pesado.
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirNossaaaa, que arraso de resenha!! Mas que tema forte, já fiquei agoniada aqui e ainda nem li o livro... fiquei muito impressionada e gostaria de ler o livro, apesar de já achar que vou sofrer também. é um assunto complicado, né..
agora, mudando de assunto.. achei uma gracinha as suas fotos! como você conseguiu fazer ele ficar paradinho assim? ^^
beeijo
https://lecaferouge.blogspot.com.br/
Amei a sua resenha. Esse livro deve ser bem reflexivo
ResponderExcluiros relatos de uma jornalista
Nat!
ResponderExcluirEstou aqui bem uns cinco minutos pensando em como comentar essa resenha...
O livro é incontestavelmente reflexivo e profundo, afinal aorda um tema muito questionado e questionável, não resta dúvida. É um livro que toca nosso coração e falo isso, porque mainha vive em cima de uma cama há mais de 15 anos, devido a 3 avcs e agora ainda tem a Alzheimer para agravar, e, ainda assim, apesar de tudo que falou em relação ao que o paciente pode ou não estar sentindo, ela tem uma atitude totalmente contrária do que imaginamos...ela ri de si mesma, ri de coisas que nem entendemos, mas quando vemos, ela está lá, rindo, falando sozinha, batendo palmas e eu de longe, chorando por conta da situação dela, sabe? Ver uma pessoa que teve uma vida ativa e intensa, ser reduzida a pensamentos fugazes, a imobilidade física e a dependêcia de outrem, é doloroso, mas ela está lá, mostrando sua felicidade e isso dá uma força para nós, sabia?
Então, acredito que tudo é questão de ponto de vista, de como nossas experiências de vida, nos levam a encarar uma situação de limitação extrema como essa...mas, independente disso, como o tema é eutanásia, a questão é: quem tem ou não o direito de decidir a hora que outra pessoa deve morrer? E aí poderíamos passar horas conversando sobre o alívio da dor, sobre o sofrimento, sobre vários aspectos, mas principalmente sobre a questão relacionada à crença da vida...
Fato é que, quero poder ler o livro.
Desejo uma ótima semana, cheia de luz e paz!
“Que o novo ano que se inicia seja repleto de felicidades e conquistas. Feliz ano novo!” (Desconhecido)
cheirinhos
Rudy
1º TOP COMENTARISTA do ano 3 livros + Kit de papelaria, 3 ganhadores, participem!
Não li ainda nenhum livro que aborde esse tema, deve ser uma leitura tensa e conflituosa além de muito triste, tentei me colocar no lugar dos personagens que situação difícil e complicada, deve acabar com as nossas emoções. Essa leitura é importante assim podemos ter uma ideia melhor de como é viver uma situação dessas e as atitudes na hora do desespero.
ResponderExcluirOi, Naty!!
ResponderExcluirSem dúvida esse livro tem um tema bem forte e com alta carga emocional. Não lembro de ler algum livro com o tema da eutanásia, mas é muito complicado decidir algo desse tipo.
Bjos
Oi Naty!
ResponderExcluirTalvez seja o fato de eu estar grávida e mais sensível, mas sua resenha me fez chorar muito. Não sei se leria o livro, mas com certeza vou buscar mais sobre a história de Nelson e Neusa. Eu acho que se me encontrasse na situação de Nelson faria o mesmo.
Beijos!
Nerd Fox
Com certeza uma leitura forte e sensível ao mesmo tempo, impossível mesmo não se emocionar. Creio que esse assunto ainda vai ser muito debatido mas só quem passa mesmo pela situação é que sabe o que sente. Há claramente uma divisão de opiniões sobre esse assunto e sempre fico emocionada lendo sobre isso e vendo as decisões que foram tomadas. Leria mas não me sinto preparada no momento!
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