Um legado de espiões e um legado de páginas chatas.
John Le Carré não é lá um escritor muito cativante. Ou
o seu público é bem seleto.
Em Um legado de
espiões conhecemos Peter Guillam, espião da MI6, aposentado. Desfrutando da
paz e do sossego de sua aposentadoria na França, Peter recebe uma carta
inesperadamente, convocando-o o mais depressa possível para a Inglaterra. O
motivo de tal urgência é que parentes de vítimas da Guerra Fria, época em que
ele esteve em campo junto de seu mestre George Smiley, estão a ponto de mover
um processo civil contra o governo britânico a fim de receberem uma polpuda
indenização. Velho e longe de lembrar de todos acontecimentos, Peter é
rememorado de suas antigas atividades através de documentos antigos
extremamente valiosos e confidenciais, confiscados pelos advogados do governo
britânico.
E é aí que mora o perigo.
O livro é um eterno e constante fluxo de pensamento
entre a atualidade e os anos da Guerra Fria. E claramente você não consegue
definir quem é o bonzinho e quem é o mau da história. A advocacia britânica
quer informações que possam auxiliar na defesa dos réus contra as acusações de
crime de guerra. Porém, a história é narrada em primeira pessoa por Peter
Guillam, que possivelmente é esse criminoso, mas faz parecer que os advogados é
que são os chatinhos da história.
Em quem você vai confiar?
Então, ao invés de fazer um romance mais inteiriço,
John Le Carré busca orientar o leitor a acompanhar Peter pela Guerra Fria
através daqueles documentos aos quais já houve menção. Dessa forma, a leitura
fica extremamente cansativa e enjoativa, uma vez que a linguagem do autor é
muito complexa e, cáspita!, estamos falando de um livro sobre espionagem, então
ele é cheio de abreviações, personagens que têm de dois a três codinomes, que
uma hora é chamado de um, outra hora é chamado de outro, e vira um balaio de
gato que você não entende bulhufas nenhumas.
Mas você vai levando.
Em determinada parte do livro você vai se dar conta de
uma coisa: a informação essencial que os advogados procuram é se Peter Guillam
“fodeu ou não fodeu com a informante?”. É sério! Eles querem porque querem
saber se houve troca de saliva ali entre o espião e a informante. Isso porque é
extremamente proibido, mas aí você se pergunta: e se? Que diferença isso faria
no processo? Então, meu, para de chatice e vamos ao que interessa. Só que o que
interessa está bem longe, lá pela página 150, que é quando você começa a
entender alguma coisa, se localiza no tempo e espaço e o autor para de inventar
documentos. Nesse ponto, nós já temos as informações das quais precisamos para
definir quem é o lado bom e quem é o lado mau. E você vai se surpreender quando
descobrir.
A história em si é boa. O livro tinha tudo para ser um
romance cinco estrelas, mas Le Carré dá uma forçada e fica complicado. Os
documentos inseridos dentro da narrativa são, na sua grande maioria,
desnecessários, irrelevantes, o que prejudica o desenvolvimento da leitura. Uma
das personagens tem um vício de linguagem extremamente irritante que quando ela
começa a falar dá vontade de jogar o livro no ventilador de teto e o final
também é meio de torcer o nariz, deixa bem a desejar. A literatura de Le Carré
é forte, pesada, linguagem difícil e bem elaborada, por isso que eu disse que
sua obra é destinada para um público mais seleto.
Uma vez eu li, e desde então sempre disse para meus
alunos, que você deve saber exatamente o que está falando numa resenha, pois
você pode condenar um livro a passar o resto da existência pegando pó na
prateleira. Portanto, vos digo aqui: dou três estrelas e meia pelo motivo de
não ter me sido uma leitura prazerosa. Porém, isso não quer dizer que o autor
seja ruim ou que você, caro leitor, não possa gostar da literatura e do formato
desse livro. Ok?
Título: Um legado de espiões (exemplar cedido pela editora)
Autor: John Le Carré
Editora: Record
Páginas: 252
Ano: 2017
É, não sei se iria gostar muito desse livro. Achei interessante pelo gênero e por essa coisa da Guerra Fria na história, coisa de informantes, de não saber em quem confiar e todos esses negócios. O clima da história me chamou atenção. Mas não sei se seria fácil de ler, se iria envolver. Gostei mas nem tanto assim pra ler =/
ResponderExcluirOlá, sua resenha está excelente, bem clara! Não gosto muito desse tema, mas vou anotar aqui para comprar para dar de presente para um amigo que gosta haha.
ResponderExcluirBeijos ❤
Jardim de Palavras
Oi Marcos, eu ri com a questão de troca de saliva, hehehehehe não acho que iria gostar do livro, tenho mega dificuldades com narrativas com fluxo de pensamentos.... melhor evitar esse rsrsrs
ResponderExcluirBjs, Mi
O que tem na nossa estante
Marcos!
ResponderExcluirTerei de discordar de você. Sou bem fã do Le Carré, acho as histórias dele bem construídas e baseadas realmente nos espiões durante o período da Guerra Fria. Na verdade, acho os livros dele uma verdadeira aula de história e por vezes pode até parecer mesmo um tano enfadonho, porque é como uma aula que 'assistimos' dentro da cabeça do protagonista, mas é de uma inteligência incontestável.
Desejo uma ótima semana, cheia de luz e paz!
“Que o novo ano que se inicia seja repleto de felicidades e conquistas. Feliz ano novo!” (Desconhecido)
cheirinhos
Rudy
1º TOP COMENTARISTA do ano 3 livros + Kit de papelaria, 3 ganhadores, participem!
Parece ser uma historia confusa e complicada rs. gostei dessa parte de não sabermos quem é o mocinho e quem não é, deixa a trama intrigante, mas de resto parece ser uma leitura bem cansativa não fiquei com vontade de ler.
ResponderExcluirOi, Marcos!!
ResponderExcluirPara falar a verdade nunca li nada de John Le Carré, e também achei a história bem confusa. Então no momento não leria esse livro não.
Bjos
Eu confesso que nunca tive contato com um livro que fosse essencialmente de espionagem, mas imagino que quanto menos personagens eles tiverem, mais fácil seria do leitor acompanhar a história, o que é um ponto fundamental pra qualquer livro. Até acho interessante essa proposta de flashbacks pra unir alguns fatos da história, mas eles são válidos apenas se influenciam de forma direta no decorrer do enredo. Com relação à linguagem rebuscada, eu não confesso que, apesar de estudar Literatura há algum tempo, ainda me falta paciência pra esse tipo de leitura. Na minha opinião, a literatura foi feita pra entreter e ensinar algo ao leitor, e não para deixá-lo confuso ou irritado por não conseguir compreender o livro em sua totalidade.
ResponderExcluirRealmente me pareceu uma leitura bem arrastada, muitas informações amontoadas o que com certeza me deixaria muito confusa ainda mais com esses codinomes. Mas realmente a premissa é boa, gosto muito de história então esse período vivido pelo personagem na guerra fria me agradaria bastante mesmo sendo arrastado.
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