Resenha: A caçadora de dragões

8.5.19

Resenha: A caçadora de dragões

Eu não leio nada com dragões já faz um bom tempo. Geralmente eles estão na história, mas não são o foco, é apenas mais um animal fantástico inserido. Em A caçadora de Dragões, temos uma mitologia novinha para esses animais tão incríveis.

Nossa história é contada por Asha, filha do rei de Firgaard. Desde pequena, ela sempre aprendeu com sua mãe histórias antigas. E essas histórias atraíam os dragões, inimigos do seu povo. Quando ainda era pequena, ela saía durante a noite para contar essas histórias e atrair os dragões, até o dia que atraiu o maior e mais feroz, chamado Kozu, o primeiro dragão. Com medo, ela decidiu não falar mais com o dragão, e, em um acesso de fúria, Kozu queimou toda a cidade e matou milhares de pessoas. Asha foi obrigada a conviver e crescer com isso em sua consciência. Para se redimir, se tornou a Iskari, temida e evitada pelas pessoas, que tem como missão exterminar todos os dragões existentes.

Asha é uma protagonista afogada na culpa. Além da culpa do incêndio, ela se culpa pela morte da mãe, pois as histórias são amaldiçoadas. Quando você conta, aos poucos vai morrendo, e quem ensinou todas as histórias antigas a ela foi a mãe, que morreu no processo. Seu pai fez de tudo para que ela fosse aceita novamente pelo povo, criou a posição de Iskari, a caçadora de dragões, apenas por causa dela. Então, tudo que ela faz, é pensando nele e em sua aprovação. Isso faz com que o senso de justiça que ela tem fique pendente sempre para o lado do Rei, o que é absurdo de se presenciar algumas vezes. Ela tem um irmão, que acaba se envolvendo com um escravo, e mesmo quando esse escravo ajuda, ela em um momento difícil e ela se aproxima dele, a culpa e lealdade que tem com o pai fazem ela tomar decisões em que a empatia é colocada de lado. 

Ela está prometida para um comandante da guarda do Rei, quando seu pai lhe faz uma proposta: caçar Kozu, e, se ela conseguir matar o primeiro dragão, está dispensada do casamento. É por essa tarefa que conhecemos mais sobre as lendas e sobre a personalidade dela. Tem muita coisa que ela não conhece sobre si mesma e sobre o reino e a forma que as pessoas a tratam. Ela tem poucos dias até o casamento, e precisa sair escondida para tentar cumprir a tarefa todos os dias, mas tantas coisas acontecem e pessoas surgem na sua vida, que a história toma um rumo totalmente inesperado. 

Eu gostei bastante da forma como a sociedade funciona, livros com escravos me incomodam muito, tem que ser bem feito. A mitologia criada em cima dos dragões e dos escravos é bem interessante. Os capítulos são intercalados com Asha lutando e descobrindo coisas, e a narração das histórias antigas, que são tão importantes para o mundo. Eu amei muito a mitologia dos dragões, da forma como eles são chamados. Eles gostam de ouvir histórias, histórias sobre o passado, sobre o Antigo, que é a divindade presente nesse mundo, e eles se ligam aos humanos pelo voo e por essas histórias compartilhadas. 

Eu gosto quando o pano de fundo de um livro de fantasia é longo, passando por muitos anos e gerações, e é o caso desse livro. Não espere algo extremamente complexo e um sistema de magia sofisticado, pois não é. É um livro leve, ótimo para quem curte dragões e romance. As cenas de luta empolgam e eu curti muito a protagonista e o seu desenvolvimento. Asha começa extremamente culpada, mesmo tendo se passado vários anos desde o incêndio, fazendo de tudo para afastar as pessoas e agradar o rei, sendo egoísta em muitos pontos. E ao longo do livro abre os olhos para as situações que o povo vive, e sobre sua própria identidade. 

Senti falta de expandir a visão que ela tinha, não vimos nada da cidade, dos outros povos que vivem distantes, da cultura dos demais. Entendemos o motivo para a divisão que existe, mas o livro dá a entender sobre a cultura dos povos distantes, mas não sabemos de fato sobre eles. Mas o próximo livro, pelo que vi, vai nos trazer mais sobre isso. Também não sabemos muito sobre o irmão, eles têm um relacionamento conturbado, mas Asha tenta manter todos à distância, acreditando que atrai morte, então eu entendo esse afastamento. 

Para quem estava lendo muitas fantasias complexas, foi um descanso ler algo tão leve e gostoso, com uma escrita tranquila e mitologia nova. Esse é o primeiro livro de uma trilogia, mas a história se fecha nesse mesmo, e o próximo traz uma nova protagonista que conhecemos nesse livro. Recomendo bastante a leitura se gosta de fantasia leve e sem muita pretensão. É divertido, empolgante e muito gostoso de ler.

Título: A caçadora de Dragões

Autora: Kristen Ciccarelli

Editora: Seguinte

Páginas: 398

Ano: 2018