Aviso: este livro pode conter gatilhos.
Conteúdo: Violência, abuso físico e psicológico, assassinato, maus tratos com animais.

Todos sabemos que a infância é um período de descobertas, onde as crianças trazem diversos contornos de fantasia em sua imaginação, até mesmo dos aspectos mais monótonos da realidade e, assim, transformam a vida em pura aventura. Francis “Francie” Brady, o protagonista de Butcher Boy, também tem essa imaginação, porém, um pouco mais poderosa do que o normal, e ele usa para temperar não só sua vida, mas também algo a mais. Por trás da fachada de inocência, se esconde um coração lotado de dor, ódio e indignação.

No começo dessa leitura, pensei que o livro seria uma espécie de estudo de caso real sobre as características de um sociopata (já que vemos a falsidade, desrespeito pela segurança dos outros, consistente irresponsabilidade, pensamentos compulsivos e distorção da realidade). Mas não, é muuuito pior do que isso para o pequeno Francis “Francie” Brady. Ele pula direto para a sociopatia e pousa bem no meio de uma ruptura psicótica completa de proporções épicas.

O estilo de escrita - em forma de fluxo de consciência - que o autor trouxe é bem difícil de se adaptar. Não contém pontuações, e nem separação de diálogo ou pensamento, é tudo recorrente em um texto confuso. A história é contada de tal forma que o leitor não tem certeza se o que está acontecendo está realmente acontecendo. Às vezes parece que o Francie está perdido em algum lugar em sua própria mente, ou que está se lembrando de algo que aconteceu no passado e misturando tudo com o que está acontecendo no presente. Doido, não? Pois é. Talvez faça sentido, talvez não. E embora o conteúdo muitas vezes seja bem horrível, Francie Brady traz um pouco de humor em tudo.


Como não é baseado em um caso real, esse livro não é um true crime, mas sim, um fic crime. Podemos sentir a crítica social trazida perante as páginas de pura injustiça, mas também, refletir sobre como muitas crianças passaram e ainda estão passando pelo mesmo. Apesar de o autor ter tirado tudo de sua imagianação, sua base foi fortalecida por doenças mentais reais, e infâncias complicadas existentes. Tudo muito perturbador e extremamente triste.

Ao virar a última página, me vi passando por um caso grave de dissonância cognitiva. Porque, embora Francie seja sem dúvida um personagem perturbado, cruel e repreensível, ele tinha esse tipo de humor sarcástico com o qual é possível se identificar. E aí nos faz pensar: eu me relacionei com um psicopata? Mas não. Depois de saber por tudo o que ele passou e toda a ajuda que faltou, é impossível não sentir pena dele. O autor oferece ao leitor uma reflexão sobre o poder insidioso do ambiente na construção da ética infantil. Francie foi submetido a uma situação opressiva devido a sua classe social, sua condição familiar e sua religião, provando assim que as crianças, definitivamente, não ficam imunes ao mundo no qual estão inseridas. Toda a vida dele foi realmente desumana e ele não teve nenhum apoio de amigos ou família. Seja uma história fictícia ou não, me deixou com esse sentimento de vazio e tristeza, além de me fazer pensar se os fins não justificam os meios, no final das contas.

Curiosidade: o livro foi adaptado para um filme chamado Nó na Garganta em 1997. O filme tem algumas diferenças (como o final), mas no geral, é bem fiel ao livro.

Título: Butcher Boy - Infância Sangrenta (exemplar cedido pela editora)
Autor: Patrick McCabe
Editora: Darkside Books
Páginas: 208
Ano: 2021
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10 comentários:

  1. Que leitura difícil, não só pela temática abordada mas também na maneira que é escrito.
    Não conhecia esse subgênero: fic crime

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  2. Menina, se eu fiquei confusa com a resenha (imagino que tenha sido o objetivo), imagina com o livro. Que trama interessante, por mais surreal e assustadora que seja. É um livro que eu com certeza vou colocar na lista de leitura.

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  3. As vezes me da vontade de ler esses livros mas nao sei eu conseguiria passar das cenas de maus tratos com os animais. Li um livro da darkside que tinha uma cena muito pequena, rapida, mas que ja me bateu a leitura inteira.
    Mas curiosa pra ler o livro, e adorei a resenha!

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  4. Estou lendo resenhas bastante positivas desse livro. Porém, ainda estou me adaptando com a linha Crime Scene da Dark eu sou fã de "crimes psicológicos" com uma pegada mais sádica. Pretendo ler esse livro mais para frente.

    Blog literário: https://expressoliterarios.blogspot.com

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  5. Fiquei lendo a resenha e olhando meu livro ali na estante rs não sei direito ainda o que esperar deste livro.
    Tá, eu já sabia que não seria uma leitura fácil,mas não esperava algo tão intenso e complicado.
    A capa é maravilhosa, aliás, tudo da Dark é sempre lindo e eu gosto de uma bagunça pesada.
    Eu sinto lá no fundo do meu não coração, que vou gostar! rs
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  6. Olá
    O livro parece ser bem tenso difícil.
    Acho que temos que estar bem preparados para ler um livro assim .o autor trata de temas que temos que avaliar bem .
    Bjs

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  7. Giovanna!
    Gosto desses livros com cunho e doenças psicológicas, mesmo sabendo que a tristeza e até a forma cruel como é mostrada, pode nos afetar de alguma forma, ainda mais por ficarmos pensando: será que convivo com um sociopata ou psicopata...
    Acredtito que a escrita mesmo sendo diferente da que estamos acostumados, acabamos entrando na mente da personagem.
    E sendo uma criança, é doloroso.
    cheirinhos
    Rudy

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  8. Oi, Giovanna!
    Pelos seus comentários Butcher Boy não é pra mim, não curto livros com violência e abuso físico e psicológico, prefiro livro mais leves, passear pela mente do protagonista Francie deve ser um pouco assustador para quem não está acostumado com esse tipo de livro... Prefiro não arriscar a leitura.
    Bjos!

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  9. Li a resenha desse livro em outro blog, e achei um livro bem forte e que mexe com a sensibilidade da gente. Nesse momento não leria, por mais interessante que seja a história. Talvez eu procure o filme para assistir.

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  10. Olá! Mesmo se tratando de uma ficção, dá para imaginar sim, que essa história tão difícil passaria facilmente por um relato da vida real e acho que é isso que torna a leitura ainda mais intensa, não posso deixar de dizer (escrever) que para variar temos uma edição maravilhosa.

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