Anyanwu é uma curandeira. É assim que ela se entende. Ela vive há muitos anos, e pode continuar vivendo pelo tempo que quiser. Tem controle total sobre o corpo, consegue sentir e curar qualquer doença, se manter jovem e saudável, engravidar e provocar abortos e modificar a estrutura corporal inteira ao ponto de se transformar em um golfinho, rs. Já o Doro, é um ser diferente. Assim como Anyanwu, ele é imortal, porque nem tem um corpo para ser morto. Doro tem apenas sua alma, digamos assim, que ele consegue colocar essa alma dentro do corpo de quem ele quiser. Quando ele faz isso, mata a pessoa e consegue assumir qualquer dom que ela possa ter, pelo menos por um tempo.

Doro tem um objetivo: ele quer criar uma raça de pessoas tão incríveis quanto ele e Anyanwu. Porém, ele não usa de escrúpulos para chegar nesse ponto. Há muitos anos ele aceitou o fato de que seria sozinho para sempre, até encontrar Anyanwu. Com ela, ele sente que pode criar coisas incríveis, mas ela não concorda e o embate entre eles é o foco do livro.

Doro é um dos personagens mais detestáveis que Octavia já criou, e aqui falo com a certeza de quem está lendo o sétimo livro da autora. Ele é um ser horrível. Ele se sente no direito de criar uma raça, como se as pessoas fossem suas propriedades. Cruza mãe e filho se achar que os dons resultantes serão bons. O paralelo exemplar que Octavia cria aqui com o racismo e período de escravidão é muito claro, de como as pessoas eram tiradas da sua terra escravizadas. Quando Doro encontra Anyanwu, ele muda ela de país porque ele quer. Ameaça-a e a leva pra longe dos seus costumes, da sua língua, da sua família. A forma deturpada que ele acha que é seu direito fazer isso é assustadora.


Anyanwu luta contra Doro com tudo que tem. Quando ela precisa ser maleável, ela usa isso ao seu favor. Quando precisa fugir, faz isso da melhor forma que pode. Quando diz não, e enfrenta o ser que ela sabe ser mais poderosa que ela, faz isso sem medo. É uma personagem cheia de coragem, dons maravilhosos e um grande amor e senso com a família. Temi por ela várias vezes e gostei muito de como ela foi construída. Talvez eu tenha ficado um pouco ressentida com o final, mas esse é o primeiro livro de uma quadrilogia, então vou confiar na autora, como sempre.

Esse é o primeiro livro da autora e dá para perceber, mas está longe de ser ruim. Tem poucos diálogos, capítulos enormes. Passamos mais de dois séculos dentro dessa história e na cabeça desses personagens. Ela discute racismo, incesto, família, liberdade. Tantos detalhes e discussões que ela fazia lá atrás, já de forma bem feita. Não é um livro fácil, nem confortável, mas, se você já leu algum livro da autora, sabe que nenhum é. Estou ansiosa para saber para onde Octavia vai nos levar no próximo livro.

Título: Semente Originária
Série: O Padronista #1
Autora: Ocatvia Butler
Editora: Morro Branco
Páginas: 384
Ano: 2021
Compre: aqui

11 comentários:

  1. Amei a resenha. Nunca li nada da Octavia e tenho muita curiosidade de ver a abordagem dela com temas tão interessantes.
    beijos
    https://www.dearlytay.com.br/

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  2. Octavia é Octavia!
    Através de tramas interessantes e com pitada de fantasia, ela discute assuntos necessários a nossa sociedade.
    É interessante ler o primeiro livro de uma autora já estabelecida e icônica em seu gênero. Pois percebemos sua evolução e maturidade.

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  3. Eu só conheço as letras da autora por conta de Kindred, que é de um carinho imenso por mim. Mas juro que essa é a primeira resenha que leio desse livro, não fazia ideia de que era o primeiro,mas sim, já peguei birra de Doro com facilidade, até pela soberba(não gosto nadinha disso)
    Com toda certeza do mundo, é um livrinho que vai para a listinha dos muito desejados!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  4. Eu ainda não li nada da Octavia! Tenho Kindred aqui e está nas minhas leituras do ano, mas não cheguei nele ainda (estou fazendo alguns desafios esse ano, então ele será lido!). Mas já conheço a autora e sei que ela usa a ficção para falar de pontos bem delicados, especialmente em relação ao racismo. Isso me deixou ainda mais curiosa pra fazer a leitura - e fico feliz que os livros dela estão saindo no Brasil, porque não sou habituada a ler em inglês. Obrigada pela indicação mais uma vez!

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  5. Eu estou me organizado para ler todos os livros da autora esse ano, já li kindred e me apaixonei pela autora e o jeito que ela escrever. Uma grande mulher.

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  6. ola
    Ainda não li nada dessa autora ,só sei que ela é super elogiada pela forma com que escreve seus livros sempre abordando questões importantes como o racismo. Ja fiquei brava com esse Doro ,que persoangem insuportavel ,mas vejo ai tambem uma critica as pessoas que pensam que podem mandar nas outras por causa de situação financeira e outros fatores.

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  7. Aaah, esse é o primeiro dela?! eu nao sabia!!
    ainda nao li nada dela, mas to tao curiosa. vou começar por kindred mesmo, mas depois quero ler todos. Bem curiosa pelos temas que ela traz, que sempre vejo na resenhas, e acho que vou gostar bastante!

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  8. Como disse o tio Ben, com grandes poderes vem grandes responsabilidades. Os dons de Anyanwu parecem muito bons, mas trarão grandes problemas.

    Danielle Medeiros de Souza
    danibsb030501@yahoo.com.br

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  9. Je!
    Já tive oportunidade de ler outros livros da autora e pelo visto, este é no mesmo nível.
    Gostei demais e espero em breve poder ler mais esse e a quadriologia.
    cheirinhos
    Rudy

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  10. Olá! Mesmo não tendo lido nada da autora (ainda), já me considero uma fã do seu trabalho e a cada nova resenha de um de seus livros fico ainda mais curiosa e empolgada para de fato começar algum livro dela e esse em especial me deixou ainda mais ansiosa justamente por esse personagem tão maquiavélico hein, que bom que para contrabalancear isso temos uma protagonista forte e determinada, só esse final que me deixou um tanto receosa.

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  11. Mais uma novidade para mim, não conhecia a autora e essa resenha me pegou de surpresa com temas bem legais. Ja quero conhecer a escrita da autora.

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