Em Caderno Proibido, conhecemos Valeria, esposa, mãe, filha, uma mulher que se equilibra entre o tradicional papel feminino de "mãe de família" - exatamente como as mulheres viviam nos primeiros anos do século XX (1950), em uma vida que não era dela, onde era padrão, quase que uma obrigação se dedicar exclusivamente ao marido e aos filhos. E, neste ambiente, ela sai para buscar cigarros para o marido, mas acaba comprando ilegalmente um caderno – um item que não poderia ser comercializado aos domingos –, e faz dele seu diário proibido.

"Aprender a compreender as coisas mínimas que acontecem todos os dias talvez seja aprender a compreender realmente o significado mais recônico da vida."

Em uma narrativa lenta, adentramos na vida de Valeria, uma vida entediante de mulher de classe média, que se divide entre os papéis de mãe, esposa e funcionária de escritório. Seu nome é citado poucas vezes, pois seu marido só a chama de "mamãe" –, o que, para mim, já geraria uma crise de identidade por não ter o devido reconhecimento como pessoa, já que nosso nome é extremamente importante e é um elemento de individualização da pessoa na sociedade que dá direito a sua personalidade, por assim dizer. E a sua relação com os filhos é marcada por conflitos geracionais - ainda mais por sua filha que não quer seguir os passos da mãe, quando, para mãe, é o único passo a seguir. Porém, conforme Valeria alimenta as páginas proibidas do seu diário, notamos, juntamente com ela, uma profunda transformação, e o início de sua liberdade, com consequências ela ainda não sabe prever.


Acredito que ao escrever esse livro, a autora Alba de Cespedes não estava se referindo à liberdade intelectual feminina ao falar do caderno proibido, mas sim à liberdade de expressar pensamentos e reflexões cotidianas, sendo essa nova figura feminina que surge lentamente na sociedade em evolução, uma mulher que trabalha fora de casa, ganha um salário e tem autonomia própria, não só econômica. 

Valeria atravessa duas épocas, de um lado está sua mãe, uma burguesa tradicionalista que não concebe que sua filha trabalhe ou que seu sobrinho se case com uma vendedora, do outro é sua filha Mirella, uma estudante universitária que quer se tornar advogada, uma jovem consciente de si mesma e de suas habilidades: três gerações próximas e, ainda assim, muito distantes.

Dentre profundas e rápidas mudanças sociais, e graças ao seu caderno secreto, favoritei fortemente essa leitura. Foi incrível acompanhar lentamente o mundo de certezas da protagonista desmoronar, e passar de uma vida pacífica para o turbilhão de emoções que é se descobrir, ser livre e independente, (a força e importância que um diário tem) e acredite, não foi fácil presenciar as dificuldades de viver e ao mesmo tempo de ser mulher antes de tudo, nessa leitura. Uma coisa que até hoje não está boa, porém, um pouco melhor. 


É um romance moderno, datado, que ainda hoje traz uma reflexão para mulheres e homens, que se encontram no mesmo variado leque de emoções que a personagem, as mesmas situações que vivemos todos os dias na família e na vida.

Título: Caderno Proibido (exemplar cedido pela editora)
Autora: Alba de Céspedes
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 288
Ano: 2022
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8 comentários:

  1. Quantas e quantas mulheres hoje em dia, perderam sua identidade há tanto tempo e assim,já não se vêem mais como Ana, Maria, Sofia. Perderam não só a identidade do nome, mas sua própria essência.
    Como não conhecia o livro, já fiquei encantada com essa premissa do diário secreto, de colocar no papel suas vontades, desejos e vida!!!
    Com toda certeza do mundo, vai pra listinha de muito desejados!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  2. Muitas mulheres precisavam ler esse livro e adotar um diário desses para si, pois mesmo a sociedade tendo mudado um pouco, ainda tem muita mulher parada no tempo vivendo assim.

    Danielle Medeiros de Souza
    danibsb030501@yahoo.com.br

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  3. Giovanna!
    Importante ver como o simples gesto de fazer um diário, pode mudar toda a vida de uma pessoa, principalmente que tem uma vida estritamente familiar, porém tem outros sonhos e vontades.
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Uau!!! Que livro!!!
    O primeiro ponto que me chamou atenção foi o marido a chamar de mamãe... além da perda de identidade, ela deixa de ser sua esposa para ser sua mãe... horrível.
    Esse conflito entre seguir a cartilha da sociedade é encontrar sua própria voz é um conflito que todas passamos.
    Parabéns pela resenha

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  5. Eu adoro esse tipo de livro, que aborda maternidade, individualidade da mulher, conceitos mais intimistas as vezes, e me interesso muito bem.
    Bem curiosa em ler esse livro.
    Acho que vou curtir tb!!

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  6. Achei muito interessante o contexto. Gosto desse tipo de narrativa, bem pessoal, onde os dramas dos personagens são expostos com intensidade, como desabafos. Obviamente o leitor acaba refletindo e sentindo mais intensamente as dores dos personagens e fica na torcida por uma redenção.

    Evandro

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  7. Ola
    Não conhecia o livro
    Deve ser muito interessante acompanhar a jornada de três gerações. Mas não bateu aquela vontade de ler.

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  8. Olá! Ao nos deparamos com a história da Valeria, acredito que nos deparamos também com a história de outras muitas mulheres, mesmo tendo um século de diferença entre elas, é inacreditável o quanto algumas coisas ainda perduram.

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