Sabe aqueles livros que te fazem querer ler até a última linha para saber o que diabos aconteceu? Junte isso a um narrador não confiável, crianças problemáticas, drama familiar e temos o plot da resenha de hoje.

O Impulso conta a história de Blythe uma mulher decidida a ser a mãe perfeita, calorosa e acolhedora que nunca teve. Porém, no começo exaustivo da maternidade, ela descobre que sua filha Violet não se comporta como a maioria das crianças. Ou ela estaria imaginando? Seu marido Fox está certo de que é tudo fruto do cansaço e que essa é apenas uma fase difícil.

O Impulso é um livro incrível, porém perturbador. Não entre nele esperando um grande suspense, ele é um drama familiar com uma pontinha de suspense. A História é feita para refletirmos sobre maternidade e toda a aura mágica que colocamos em torno desse tema. Sou mãe de dois e posso falar que mesmo conhecendo bem o assunto e suas aflições esse livro foi um soco no estomago, me perturbou e me deixou desconcertada.

“Não quero que aprenda a ser como eu. Mas não sei como ensinar você a ser uma pessoa diferente.”

Blythe decide se tornar mãe, aquele tipo de mãe que ela não teve, que cuida, dá amor e está sempre disponível para os filhos. Mas as coisas não saem conforme planejado e seu puerpério se tornou um pesadelo, ao perceber como é a realidade de uma mãe recém parida e que, acredito eu, apresentando sintomas de depressão pós-parto. A descrição que ela faz sobre como se sente no período após o nascimento nos toca profundamente, é impossível não se sensibilizar com uma mulher narrando como é sair de um período em que o mundo gira totalmente em torno do seu umbigo para o caos que é o nascimento de um bebê, quando só vivemos em função da criança, com privação do sono e de nossas necessidades mais básicas, mostrando como a maternidade é cruel com as mulheres.

Apesar de toda a confusão que o puerpério pode causar, existe uma pessoa que está ali para partilhar aqueles sentimentos com a mãe, o pai. Fox é o marido de Blythe e a pior pessoa nessa história, mas ele é um bom retrato de como os homens não enxergam seus privilégios e que o nascimento de um filho não altera suas vidas de forma significativa. Ele é um homem egoísta e mesquinho, incapaz de perceber ou ter empatia pelas dores de sua esposa, além de não validar os sentimentos dela e só aumentar a carga de culpa que ela carrega.

A terceira ponta dessa história é a filha do casal, Violet, e aqui eu acho que entra uma alegoria que a autora fez sobre a maternidade e infância. Como só temos a visão de Blythe nessa história fica difícil de saber até onde tudo que ela conta é verdade, porém, não dá para deixar passar que a menina tem sim seus problemas. Acredito que a autora escreveu uma criança não convencional para nos fazer questionar sobre a inocência infantil e a aura pueril que colocamos na infância e maternidade. Apesar de serem raros, é possível, sim, que crianças apresentem traços de psicopatia desde novas, além de diversas condições neurodiversas que fazem a vivência da maternidade ser diferente para cada pessoa. Por esse motivo é tão importante para a mãe, que está imersa nesse mundo, ter seus sentimentos e preocupações validadas e ouvidas pelo outro cuidador.

“Eu me lembro de um dia me dar conta de como meu corpo é importante para nossa família. Não meu intelecto [...] não a pessoa construída ao longo de 35 anos. Só o meu corpo.”

A junção desses três personagens nos leva para uma história de drama familiar muito bem construída, com personagens odiáveis, todos bem próximos da nossa realidade. Impossível passar pano para todas as atitudes de Blythe, nossa vontade é de entrar no livro e dar um sacode nessa mulher, e esse é o maior trunfo da narrativa, tudo o que ela nos faz sentir ao longo da leitura. Apesar de ser um livro pesado, gosto da forma como a autora aborda os assuntos, além do final que ela dá à personagem principal. A última linha é pura histeria e o ápice, na minha opinião. Leitura mais que recomendada.

Título: O impulso
Autora: Ashley Audrain
Editora: Paralela
Páginas: 328
Ano: 2021
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8 comentários:

  1. O Impulso ganhou um certo hype, não muito mas teve.
    Acredito que ela aborda a maternidade real com cores mais fortes, justamente pra causar essa sensação de soco no estômago e dar uma vibe de suspense.
    Curiosa pra saber como é Violet...
    Me passa a impressão que a gente finaliza o livro em dúvida se Blytje está certa ou se os traumas e medos dela, a fizeram enxergar a filha com outros olhos

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  2. Esse livro é no mínimo, impactante. Lendo agora a resenha,senti vontade reler. Não fui uma boa mãe rs posso ter criado uma filha muito honesta, cuidadosa, mas sei que falhei muito e assumo isso sem vergonha nenhuma.
    Estes dias disse que nasci para ser avó, mas não para ser mãe. Os olhares tortos comeram solto. Mas eu nem ligo rs
    Esse livro dá um nó no estômago, pela realidade, a maternidade nada embelezada pelos comerciais na tv!
    Uma super indicação com certeza.
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  3. Acho muito importante leituras que mostram o lado real da maternidade, que é muito romantizada. E também abordar a psicopatia na criança, já que nem todas são um amorzinho, algumas tem problemas e isso precisa ser falado.

    Danielle Medeiros de Souza
    danibsb030501@yahoo.com.br

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  4. Miami!
    Pelo que entendi desse suspense que traz um grande drama familiar, é que a mãe acabou tendo aversão da própria filha, que é criada pelo pai com todos os mimos e acaba criando asco a própria mãe, e se tornando em alguém com distúrbio psicológico, sob a proteção de um pai exacerbada.
    cheirinhos
    Rudy

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  5. Pelo jeito é uma leitura bem marcante. É mesmo difícil pegar personagens como mães, pais e filhos pequenos e tirá-los do lugar comum e sagrado que temos a tendência de colocá-los. A maternidade realmente envolve a mulher completamente, enquanto o homem não necessariamente vive tudo cem por cento. Gostaria muito de ler esse livro e já coloquei na minha lista.

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  6. Oi, Maiani!
    Gosto de suspense, mas confesso que não sou muito fã de histórias sobre drama familiar, e não curto livros pesados... Provavelmente por isso eu não me interessei pela trama de O Impulso... Bjos!

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  7. Esse segundo quote ein!!!
    Bem curiosa em ler essa historia, gosto muito do tema, ate quando traz esse outro lado.
    O livro foi falado muito qdo lançado mas agora passou entao acho que é uma boa hora pra ler rsrsrs
    espero gostar tb da escrita, de como é narrado tb que é diferente.

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  8. Não tenho muita vontade de ler esse livro.Nâo sei de onde e o porque que surgiu esse termo romantizaçâo da maternidade. A autora escolheu construir um pai que não apoia a mulher nesse momento.Mas nem todo pai é assim.

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