Apenas um Garoto
é aquele tipo de livro que a gente lê e precisa de um tempo para absorver
depois. Pelo menos comigo foi assim. Fiquei me perguntando: o que vou escrever
sobre este livro? Sobre Rafe e toda a sua busca existencial? Cheguei à
conclusão que devo falar sobre o que observei, sobre o que senti, mas sem me
ater a opinião pessoal sobre todos os acontecimentos e escolhas. Será que isso
é possível?
Antes
de tudo, preciso dizer que este é um livro com temática homossexual. Caso você
não tenha lido a sinopse, ou não tenha percebido as dicas sutis que constam na
capa, adianto que a história é sobre um garoto gay e sobre o que isso
representa para ele, para quem convive com ele. Mas, principalmente, é um livro
sobre descobertas. Sobre ser humano.
A
história inicia com a chegada de Rafe à Natick, uma escola só para garotos.
Ele, um adolescente que ‘saiu do armário’ há bastante tempo, se vê cansado de
ser rotulado como apenas o ‘garoto gay’. Como se ele não fosse nada além disso.
Como se sua orientação sexual o impedisse de desenvolver outros aspectos da sua
vida, como se o fato de sentir atração por garotos o impedisse de se relacionar
com eles de maneira fraterna.
Rafe
passou a se sentir tolhido. Embora não tenha sofrido um bullying descarado, e
mesmo contando com todo o apoio e aceitação dos pais, dos amigos, ele sentia
que era impossível ser algo além do rótulo. Ele se sentia tão angustiado, que
resolveu mudar de escola. Ele se sentia tão oprimido por ser rotulado que
decidiu deixar sua cidade, a família, a melhor amiga, tudo isso para começar de
novo, do zero. E assim o fez.
Chegando
à nova escola as mudanças começam. Rafe se enturma rapidamente. Começa a jogar futebol, se torna atleta, amigo
das pessoas populares. Naquele novo ambiente ele se vê livre a ponto de poder
usar o vestiário sem que os colegas se sintam constrangidos. Naquele novo
lugar, ele percebe que pode ser tudo aquilo que deseja. E tudo dá muito certo,
até que duas coisas importantes acontecem. Ele se apaixona. E, concomitante a
isso, é instigado pelo professor Scarborough a escrever sobre a própria vida,
colocando-se assim na posição de refletir sobre sua existência, sobre seus
desejos e anseios, sobre seus medos e angústias. Sobre quem ele é de fato.
O
livro, narrado em primeira pessoa, mostra de maneira simples, irônica e muitas
vezes divertida, todas as angústias vividas pelo protagonista. Como falei no
início do texto, quando a gente começa a ler, é como se embarcasse em uma
jornada existencial.O
autor envolve o leitor com maestria, e é capaz de promover reflexões acerca de
diversas questões, tão atuais, tão presente nas nossas vidas. A necessidade de
ser visto e de ser aceito pelos outros, de ser considerado popular, a
dificuldade em ser rotulado de alguma maneira e a forma como nos sentimos
estigmatizados quando isso acontece. Faz-nos pensar que às vezes, a vida se
torna difícil mesmo quando contamos com suporte, com uma rede de apoio.
Imagina, então, quando não dispomos de nada disso.
Apenas
um garoto foi meu primeiro contato com a obra de Bill Konigsberg e, confesso, gostei demais. Embora seja um tema
considerado polêmico por muitas pessoas, mesmo nos dias de hoje, é retratado de
maneira muito sutil. Muito delicada. Permitindo que o leitor se envolva com os personagens,
se apegue e seja empático, independente da sua opinião sobre o tema. Bom, pelo
menos comigo foi assim. E é por isso que indico o livro, para quem gosta do
tema, mas não somente para esses leitores. Indico para quem se permite ler sem
preconceitos. Para quem se permite uma abertura capaz de acolher o outro, sua
história, sua subjetividade, mesmo que esse outro seja um personagem adolescente
de um livro de ficção americana. Mesmo que esse outro seja completamente
diferente de nós.
A edição está bonita, como já esperamos que seja
tudo que é publicado pela editora Arqueiro. É simples, mas de bom gosto. A
diagramação agradável como costuma ser, um livro que merece um lugar na
estante, sem dúvidas.
Quotes:
“Sobre
os tipos. Não sou um tipo. Estou cansado de ser um tipo”.
“Você
sabia que as crianças LGBT são 8,4 vezes mais propensas a tentar suicídio do
que as crianças hétero? Sabia que metade das crianças LGBT são rejeitadas pelos
pais? Que 20 a 40 por cento dos adolescentes que moram na rua dizem que são
gays, lésbicas ou trangêneros, e que metade deles já se prostituiu para se
sustentar? Bem, foi esse tipo de coisa que aprendi, e o fato de não me
identificar com nenhum desses problemas fez com que eu me sentisse o cara mais
sortudo do mundo”.
“É
difícil ser diferente – disse Scarborough – E talvez a melhor resposta não seja
tolerar as diferenças, nem mesmo aceitá-las, e sim celebrá-las. Talvez essas pessoas
que são diferentes se sentissem mais amadas e menos... bem, toleradas.
“Não
acho que ser gay seja uma maldição. Definitivamente não é. Mas sabemos que sair
do armário traz um monte de coisas que tornam a vida mais difícil. Mesmo que
você tenha pais maravilhosos e uma escola que o trate bem, a revelação acrescenta
algo à sua vida. O pior é como todo mundo olha para você de um jeito diferente.
Eu fiquei cansado de ser olhado”.
“Você
pode ser o que quiser, mas não vai se sentir bem quando for contra o que é de
verdade”.
Outras fotos:
Autor: Bill Konigsberg
Editora:
Arqueiro
Páginas:
256
Ano:
2016
Oii Krisna!
ResponderExcluirGostei mto do livro! Enredo mto bom, o tema precisa ser mais divulgado, ainda falta mta informação né, as pessoas precisam se expressar mais...
A capa é uma gracinha, qro conseguir ler em breve!
Amei as fotos!
Bjs!
Aline, concordo com você, falta informação. Que bom que a literatura nos ajuda nesse sentido.
ExcluirFico feliz que tenha gostado das fotos, foram feitas com muito carinho!
Abraço
Oi, Krisna
ResponderExcluirAinda não conhecia o livro e gostei bastante da premissa. Adoro leituras que nos fazem embarcar em uma jornada existencial e levanta reflexões.
Mesmo que esse seja um tema polêmico que ainda é tratando com sutileza, tenho percebido que o mercado editorial e, claro, os autores, tem apostado cada vez mais nesses livros.
Não seria uma prioridade de leitura, mas leria o livro sem problemas.
Ótima resenha.
Olá, Leticia!
ExcluirConcordo que o mercado editorial está abrindo espaço para livros com essa temática, mas discordo que o tema é tratado com sutileza, pelo contrário. É tratado com violência e preconceito, com crimes homofóbicos tão recorrentes nas meios de comunicação. É triste.
Beijo
Tinha visto um sorteio desse livro, mas não sabia do que se tratava.
ResponderExcluirMuito interessante! Preciso achar um tempo ($$) para ler esse livro.
Parabéns pela resenha!
Jaqueline, tudo bem?
ExcluirLivro bem bacana, viu?
Beijão
Me apaixonei pelo livro no momento que vi a capa dele. A história também me encantou muito, parece ser algo que te faz pensar muito sendo você gay ou hétero. Já li alguns livros em que o protagonista era gay e gostei muito de todos, acredito que esse não vai ser diferente.
ResponderExcluirMaíra, tudo bem?
ExcluirAcho que a reflexão é, não só para o fato de ser gay, mas pelo peso que receber um rótulo carrega. Seja quando a pessoa é rotulada de gorda, magra, baixa, feia, loira burra, esquisita... Ou até quando o rótulo tem aparência de elogio, tipo nerd, CDF, linda, princesa, atleta... Levanta a questão: a gente só pode ser o que dizem que somos? Devemos nos limitar a ser apenas uma coisa, quando temos um mar de possibilidades?
Quando você ler, diz pra gente o que achou ;)
Beijo
Eu ainda não tinha lido resenhas dele, mas as expectativas estavam altíssimas, pois adoro livros LGBT ♥ Simon vs Agenda.Pelo que vi é um livro que trás lições de vida.
ResponderExcluirOlá, Josi!
ExcluirSimon está na minha lista, acredita? Acabei passando o Apenas um garoto na frente, mas Simon terá seu lugar muito em breve, principalmente porque a autora estará na bienal, e espero muito vê-la.
Beijo
Tenho um fraco por esse tipo de livro. Acho que pelas questões que levantam, pela forma como faz você ver pelo lado deles, entender o que sentem, perceber o quanto sofrem ou o quanto amam. Não sei ao certo, mas livro com tema assim me faz ter a impressão de ser um livro de amor, que espalha a amor. Ou coisa do tipo, se é que entende onde quero chegar. E parece que esse tem tudo isso. Cheio de sentimentos, dilemas, confusão e uma forma bem feita de causar empatia no leitor, fazer entender os personagens mesmo. Além de uma narrativa inteligente e divertida, sarcástica...Estou animada com ele, parece ser muito bom.
ResponderExcluirCris, tudo bem?
ExcluirVocê falou exatamente o que senti durante a leitura. É nesse sentido que o livro segue mesmo ;)
Beijo
Olá.
ResponderExcluirAinda não li nenhum livro com esse tema, mas já tenho alguns na minha lista e esse também será adicionado. A capa está muito bonita. E a premissa é sensível e com uma mensagem de conscientização e reflexão. É preciso abrir o coração e a mente, para livros com essa temática. Com certeza quero na minha estante. Ótima resenha, passou muito bem os sentimentos envolvidos na leitura. Beijos.
Márcia, tudo bem?
ExcluirFico tão contente quando alguém fala que consegui passar meus sentimentos na resenha... É exatamente isso que busco passar. Gosto de mostrar pro leitor de que forma a leitura mexeu comigo.
Concordo que é necessário abrir o coração para livros (ou outros tipos de arte) com temáticas diferente daquilo que estamos acostumados... Às vezes é bom sair da zona de conforto ;)
Beijo
Olá, Krisna.
ResponderExcluirEu sei bem como é ser rotulada onde quer que você vá. As pessoas só veem o rotulo. Por isso achei esse livro muito interessante e vou querer ler ele. Eu não solicitei para esperar as resenhas e ainda bem que estou vendo umas bem positivas como a sua. Acho fundamental termos livros como esse.
Blog Prefácio
Sil, querida! Também sei bem como é viver com peso de rótulos.. Coisa chata e triste, né?
ExcluirQuero ler sua resenha dele, espero que seja em breve.
Grande abraço!
Resenha perfeita!!! Fiquei interessada e curiosa pela obra, vou colocar na lista para eu ler!!
ResponderExcluirBeijos ❤
Jardim de Palavras
Olá Krisna,
ResponderExcluirEstou cada vez mais fascinada por livros nesse estilo, e não apenas pelo enredo LGBT, mas especialmente pela carga emotiva presente nas histórias e pelas mensagens de reflexões de várias questões tão atuais. Já li dois livros nesse estilo, Aristóteles e Dante Descobrem Os Segredos do Universo e Simon vs. a agenda Homo Sapiens (muito amor por Simon), mas quando vi o lançamento de Apenas Um Garoto já coloquei na lista de próximas compras.
Adorei sua resenha, parabéns! Concordo e muito com o que você disse sobre a reflexão de quando uma pessoa é rotulada, sei muito bem como é viver sendo rotulada e o peso que isso traz para nossas vidas. Resumindo, quero muito ler esse livro!
Beijos
A capa é bem interessante e o enredo também. Parece ser uma estória bem construída e que nos faz viver os dramas do personagem. Talvez igual ao filme Não quero voltar sozinho, que conseguiu ir além da temática.
ResponderExcluirwww.atraentemente.com.br
Desde o lançamento quero muito ler o livro. Adorei a capa e a sinopse e pela resenha o livro é tudo aquilo que espero dele. Quero conhecer a sutileza da escrita de Bill Konigsberg. Adorei os quotes e as fotos.
ResponderExcluirO livro é lindo e essas temáticas existenciais me chamam muito a atenção. Pretendo ler!
ResponderExcluirGosto muito de ler livros polêmico, ainda mais com temática gay, pois nos ajuda a compreender mais o tanto de preconceito latente que existe nos dias atuais.
ResponderExcluirQueria ler esse livro, antes. Agora, depois dessa resenha linda, quero é devora-lo!!! rs
Parabéns! Amei saber mais sobre o livro,entender quais pontos serão trabalhados e claro, assim que puder, vou comprar o meu!
bjss
A edição está bem bonita mesmo, e pela quantidade de divulgação que esse livro tem tido, me sinto cada vez mais curiosa pra conhecer. Eu amo livros que abordam questões existenciais, e como ainda não li nada sobre o tema homossexual, acho que seria uma boa história por onde começar. Gostei demais da sua resenha.
ResponderExcluirUm abraço!
http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/
Oi Krisna, tudo bem?
ResponderExcluirEu estou doida para ler este livro. Me apaixonei primeiramente pela capa, e depois pela premissa do livro que é muito boa. Todos deveriam ler este livro independente da posição que tem sobre o assunto, pois o preconceito precisa ser quebrado na nossa sociedade.
Beijos
Que fotos lindas!! Adorei os quotes também!! Principalmente esse "Você pode ser o que quiser, mas não vai se sentir bem quando for contra o que é de verdade"
ResponderExcluirBeijoss
Olá!!!
ResponderExcluirRealmente é complicado tratar de um tema visto como polêmico para outras pessoas, porém acho que as pessoa tem que ver que os tempos mudaram e que isso é a coisa mais natural do mundo.
Eu gosto de livros com temas assim, pois dar pra termos consciência de como a pessoa se sente em relação a sua sexualidade e o que passa.
Tinha uma curiosidade sobre o livro e fico feliz por saber mais sobre ele ^^
lereliterario.blogspot.com