Li Onde está Elizabeth? tem alguns meses e acabei esquecendo de resenhar para postar aqui para vocês. Contudo, o fato de esquecer de fazer a resenha não quer dizer que eu tenha esquecido do livro e da história tão emocionante e impactante.

A narrativa é feita por quem a gente menos imagina: uma senhora chamada Maud de 82 anos. Ela sofre de Alzheimer e quase tudo o que dizem é esquecido, mas se tem algo que ela não tira da cabeça é sua amiga Elizabeth, que, por sinal, onde ela está? Esse é o mistério no decorrer da obra.

O surpreendente em ter isso como suspense é que quanto mais a idosa indaga, mais queremos saber o que aconteceu com essa pobre mulher e, o que é pior, parece que ninguém além dela tem interesse em saber onde Elizabeth está.

Parece uma pergunta simples ou até mesmo uma conclusão lógica, se refletirmos quem é a remetente da pergunta incessante. Ocorre que durante toda a leitura a gente sente muita dó de Maud. É uma idosa que demonstra ter sentimentos, mesmo sofrendo de Alzheimer ela não consegue tirar das lembranças a doce Elizabeth.


Por vezes Maud confunde a filha com a neta e em outras a senhora sequer sabe quem são elas; vai ao mercado e esquece do que ia comprar. Pelo fato de Maud não ter uma memória confiável, ela escreve vários bilhetes que lhe lembram o que precisa saber ou o que não pode esquecer, no entanto, nem sempre isso dá certo, já que às vezes os bilhetes a confundem. Os papéis se transformam em enigmas, com o passar do tempo (e seu esquecimento surge), já que não são sempre claros. Um dia, um dos bilhetes informa que sua amiga Elizabeth está desaparecida. Embora todos lhe assegurem que ela está bem, Maud embarca numa missão para encontrá-la.

Em alguns momentos temos a sensação de que Maud está confusa com os acontecimentos. Porém, uma coisa é certa: ficamos nos perguntando o que de fato aconteceu com Elizabeth, pois temos a certeza de que algo muito grave pode ter ocorrido e ninguém tenha dado ouvidos às súplicas da adorável senhora.

Além de angústia, esse livro nos proporciona uma reflexão acerca da perda da memória e as consequências dela em nossos relacionamentos. Até que ponto somos dependentes dela? Como fazer para que nossas relações não sejam prejudicadas por não lembrarmos das coisas? Aliás, é possível ter algum tipo de relacionamento sem nem recordarmos, por diversas vezes, da outra pessoa?


É difícil imaginar como é acordar sem saber onde estamos, sem saber quem está ao nosso lado e sem reconhecer o que fizemos, o que somos e o que precisamos fazer assim que levantar. Como é possível viver de forma leve e feliz sem ter carisma, sem ter um afeto forte por pessoas que nos amam, mas que mal sabemos quem são?

Enquanto lia esse livro refleti muito sobre como somos dependentes e vulneráveis. O quanto um ínfimo detalhe pode se tornar um verdadeiro iceberg e modificar toda rotina de uma vida. Quem conhece Para sempre Alice, seja o livro ou o filme, com certeza fez alguma relação entre as histórias. É emocionante e angustiante como Alice descobre sua doença e os momentos que ela passa com a família sem saber quem são.

Tratando-se deste livro, com Maud não é diferente. O leitor fica atado e esperançoso para que tudo se resolva, que ela seja curada, que volte a lembrar das coisas. Mas não é sempre assim que acontece – e os livros, cada vez mais, nos ensina isso.


O desespero em querer encontrar a amiga parece ser o centro da questão, mas a verdade é que fui mais afundo e levei a doença como foco principal. A causadora de muitos males, mas que nem sempre é capaz de apagar algo que uma senhorinha está tão convicta. Afinal, algo aconteceu com Elizabeth, segundo Maud, mas o quê? Vocês precisam ler para descobrir.

Quotes:
“Tenho todas as horas do dia para me ocupar, e em algum momento vou ter que ligar a televisão. Está passando um desses programas matinais. Duas pessoas em um sofá se dirigem a uma terceira pessoa, que está sentada em uma poltrona no lado oposto. Elas sorriem e gesticulam e, eventualmente, a pessoa que está na poltrona começa a chorar. Eu não consigo saber do que se trata. Depois tem o programa das pessoas que percorrem várias casas procurando coisas para revender. Aquelas coisas horríveis que são surpreendentemente valiosas.”

“Algumas mulheres mais velhas têm dentaduras manchadas e pálpebras pretas e os rostos vermelhos de blush, as sobrancelhas altas e mal desenhadas. Prefiro morrer a ser uma delas.”

“Mas não é verdade, eu esqueço as coisas — eu sei disso —, mas não estou maluca. Não ainda. E cansei de ser tratada como se estivesse. Estou farta dos sorrisinhos simpáticos e tapinhas nas costas que as pessoas dão quando me confundo, e estou extremamente irritada com o fato de todo mundo dar mais atenção à Helen em vez de ouvir o que tenho a dizer.”

“— Não fui à casa errada — retruco com tranquilidade e firmeza; a afirmação faz com que eu me sinta uma criancinha. — Não sou burra. Elizabeth está desaparecida. — Respiro fundo, trêmula. — Por que vocês não se importam? Por que ninguém faz nada? — Acho que estou gritando, mas não consigo evitar. — Qualquer coisa pode ter acontecido a ela. Qualquer coisa. Por que ninguém faz nada para encontrá-la?.”

Título: Onde está Elizabeth?
Autora: Emma Healey
Editora: Record
Páginas: 308
Ano: 2016

26 comentários:

  1. Já li uma resenha sobre esse livro e não tive vontade de lê-lo, mas sua resenha me deixou curiosa. Parece que a história é bem interessante, e quero muito saber o que aconteceu com Elizabeth, mesmo sem ter lido o livro ainda. E imagino que a forma como a história é contada deva ser diferente, já que é uma idosa com Alzheimer que conta tudo.

    Abraços :)

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    1. Que bom que ficou curiosa depois da minha resenha, Ingrid.
      Alguns livros têm essa função, mesmo que alguns resenhistas não consigam passar.

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  2. Nath...Vi uma resenha dle há um tempinho, qria tanto ler, eu gostei mto do enredo...
    Realmente é de se refletir mto msm...
    Bjs

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    1. Leia mesmo, Aline. É uma história para se refletir.

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  3. Uma narradora bem diferente, principalmente pelo problema de esquecimento e tudo o mais. A capa é bem legal e fiquei curiosa em saber se tem o formato físico. As fotos estão maravilhosas como de costume, a que eu mais gostei foi a da casinha. Mas sobre o desfecho, meu deus, até eu fiquei desesperada, preciso saber o que acontece.
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada, Duda.
      Esse livro é lindo e merece ser lido.

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  4. Oi Natalia...
    Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas só de saber que a protagonista sofre do mal de Alzheimer, já fiquei super curiosa para ler essa obra... Já houve um caso na minha família dessa doença e realmente é triste a pessoa não te reconhecer ou não saber onde está. Realmente lendo o início da sua resenha, de cara me lembrei de "Pra sempre Alice", que traz essa doença tão precocemente. Quero muito ler esse livro e descobrir se Maud encontra Elisabeth ou descobre se algo aconteceu com sua amiga... Fiquei curiosa para saber do desfecho da história.
    Beijinhos...

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    1. A gente fica curiosa mesmo, pois a história é marcante.

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  5. Oi Natalia, onde está Elizabeth? Menina, agora quero saber! O fato de ser uma senhora de 82 anos quem narra a história por si só já é um diferencial para mim. Nem li a sinopse pra ser sincera, a resenha que me fez querer ler o livro.
    Beijos
    Quanto Mais Livros Melhor

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    1. Hahaha. Eu fiquei assim o tempo todo para saber rs

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  6. Gosto de uns livros assim e o que achei interessante nesse é ter uma idosa com essa doença contando a história. Às vezes deve ser até difícil acreditar nela, não? Porque a gente sabe o que essa doença faz com a pessoa e uma história assim fica até mais instigante, acho que ganha um grau maior de curiosidade pra se saber o que aconteceu com a tal Elizabeth. A trama parece ser bonita também, tem umas partes que devem dar um aperto no coração da gente só de ler. Acho que iria gostar.

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    1. Eu também achei isso muito interessante. Quando comecei a ler não sabia que a narrativa seria assim e curti muito

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  7. Natália!
    Minha mãe tem Alzheimer e é muito triste ver toda confusão que ela faz, troca meu nome com da minha irmã, diz que quer voltar para casa, acabou de comer e diz que não deram comida para ela, sem contar com a perda motora que se agrava a cada dia, é bem doloroso.
    Gostaria de ler esse livro e saber porque a família não está ao lado dela e o que aconteceu com Elizabeth...
    “A missão suprema do homem é saber o que precisa para ser homem.” (Immanuel Kant)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de NOVEMBRO com 3 livros + BRINDES e 3 ganhadores, participem!

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    1. Que história triste, Rudy. Mais triste do que qualquer livro.
      Eu sinto muito por você e espero que ninguém mais passe por isso ao seu redor.
      Acredito que seria muito choro ler essa obra, então melhor passar para outro.

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  8. Falou drama estou dentro, adoro. E quando li sua resenha fiquei encantada com a possibilidade de leitura que posso ter aí. Eu já passei por isso com o livro e não dei a devida atenção a como ele era bom porque foquei no tema e não no livro em si. Mas achei bem interessante mesmo a proposta, Alzheimer é uma doença cruel demais, e deve ser assustador não se lembrar das pessoas que amamos!

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    1. Eu também gosto de um bom drama e esse está na lista.

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  9. Olá.
    Ganhei um exemplar desse livro,em um sorteio, mas ainda não recebi. Tenho curiosidade sobre o enredo, pois sei que é bem reflexivo e um tema importante.
    Espero ler em breve.
    Ótima resenha, lindas fotos.
    Beijos.

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    1. Aproveite e leia quando chegar, mulher.
      O livro é lindo.

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  10. Olá, Natalia.
    Acredito que esse seja um livro marcante por causa do tema. Achei muito interessante que a narrativa seja feita pela doente, isso deve dar ainda mais veracidade a história. Eu não leria porque perdi meu pai esse ano para essa doença terrível e as lembranças ainda doem. O pior acho que nem é esquecer as pessoas, é esquecer as coisas que fazemos automaticamente como deitar na cama por exemplo e que meu pai não lembrava mais como fazer.

    Blog Prefácio

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    1. Sinto muito, Sil.
      Deve ser algo muito difícil lidar com isso. Eu li esse livro e me dava vontade de chorar e só chorar. Uma obra muito marcante e em todos os momentos eu me colocava no lugar dessa senhora que se desesperava.
      Desejo que você não passe por isso com mais ninguém ao seu redor, pois passar uma vez já é ruim, imagine outras...
      Enquanto lia pude perceber o quanto é destruidor.
      É verdade, melhor você não ler, seria uma emoção muito carregada.
      Não consigo imaginar o tamanho de sua dor ao se deparar com isso, mas sei que não é fácil. A gente nunca supera, eu sei. Mas espero que você tenha um conforto a cada dia. Que Deus conceda isso, pois só Ele é capaz de nos confortar de verdade e intensamente

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  11. Nunca tinha ouvido falar desse livro mas já quero ler e conhecer melhor a história. Achei muito interessante alguém com uma doença tão grave ser a responsável por pensar no sumiço da amiga e além do mistério tem toda a questão da doença e eu achei incrível esse enredo.

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  12. Nossa que mistério gira em torno da Elizabeth, fiquei muito curiosa em saber o que aconteceu com ela, se realmente aconteceu algo, já que dizem que ela esta bem. Doença horrível me coloquei no lugar da personagem imaginando acordar e não se lembrar de nada e ninguém que desespero, da uma aflição.

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  13. Oi Naty,
    Estou com vontade de ler esse livro há meses, mas ao mesmo tempo fico apreensiva por ter uma protagonista que tem essa doença aterrorizante. Felizmente, não conheço ninguém com Alzheimer, mas tenho um medo enorme dessa doença tão cruel. Tem tudo para ter um bom drama, com essa protagonista idosa proporcionando uma leitura emocionante e muito angustiante. Também quero ler Para sempre Alice, ambos os livros estão na lista de desejados.
    Beijos

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  14. Parece ser um livro ótimo, que além de trazer um ótimo suspense (fiquei bem curiosa para saber o que aconteceu com Elizabeth) também traz como pano de fundo uma discussão sobre uma doença tão triste. Gostei muito da sua resenha, realmente deve ser horrível não se lembrar de nada. Ótima dica.
    Abraço!
    A Arte de Escrever

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  15. Não conhecia esse livro mais gostei muito da resenha!! Também achei interessante a história do livro!! Espero que no final do livro descubra onde está Elizabeth?!!
    Beijos

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