Absolutamente abandonado. As fraldas indicam, com o choro incessante, que é um bebê. Pessoas passam e encontram aquela criança na porta de um bar. Aqueles corações, moles, sentem dó do pequeno; se perguntam o motivo de tamanha atrocidade. Ninguém entende, eles não sabem explicar, mas apenas observam que há uma vida ali, no meio daquele nada, junto com a solidão.

É com essa reflexão que inicio esta resenha. Quantas crianças são largadas pelos pais? Quantos pequenos são abandonados, sem sequer ter o poder de escolha, o poder de demonstrar a sua vontade e de clamar por ajuda? Danilo foi um desses garotinhos. Um menino lindo, saudável, mas que foi largado por pessoas que eram consideradas seus pais. Até que ponto somos capazes de chamá-los dessa forma? Afinal, entende o Supremo Tribunal Federal que pai é quem cria, pai é aquele que possui um laço afetivo, independentemente do sanguíneo. Então, volto para consertar a expressão: Danilo foi um desses garotinhos abandonado pelas pessoas que o colocaram no mundo.


Ao se deparar com aqueles olhos puxados, aquele jeitinho cativante e o olhar sofrido, aquele casal decide acolhê-lo como um filho e então vão registrá-lo no Cartório. Danilo passa ter a atenção que não tinha, porém, ele cresce num ambiente não muito apropriado para um garoto naquela idade: num bar. Podemos ver imagens dele encostado numa mesa de sinuca e, constantemente, frequentando-o.

Nuha foi quase tudo o que uma pessoa poderia imaginar: jornaleiro, balconista de bar, açougueiro, limpador de fossa, descarregador de caminhão, operário, jornalista, muambeiro, professor de história, instrutor de yôga, fiscal de concurso público, assessor de imprensa, operador de teleprompter, produtor e traficante. Com apenas 16 anos, ele se tornou bandido no Japão; tornou-se contrabandista em Bali.


Quem está do lado de fora apenas pensa em apontar e condená-lo. Porém, quem lê esta obra compreende seus momentos de fraqueza, é claro que acha umas coisas absurdas, mas queremos abraçar o autor, dizer o quanto lamentamos por tudo o que ele passou e o quanto comemoramos por sua superação. Afinal, é fácil julgar quando estamos observando a vida alheia, difícil é passar por tudo aquilo e dar a volta por cima.

Hoje, com uma vida diferente, escrevendo sua obra, o autor nos ensina que é possível sermos melhores do que fomos e do que somos. Parece clichê dizer isso, mas muitos reclamam de barriga cheia, não enxergam que o problema do outro é maior do que o nosso. É isso que aprendemos ao ler este livro. Qual é a sua dificuldade no momento? Ouvir uma reclamação da sua mãe, um descontentamento do pai e ter notas baixas nos estudos? Ser abandonado pelos próprios pais parece mais pesado do que isso, mais triste. O autor tinha muitos motivos para ficar depressivo e entrar num quadro debilitado.


Podemos ter muitas dificuldades físicas, emocionais e diversas outras... Mas será mesmo que é o fim do mundo? Nuha nos mostra que não. Nada é o fim do mundo, nem mesmo o final.

Essa obra nos prepara de muitas maneiras e deveria ser leitura obrigatória para abrir nossos olhos. Nos fazer observar as pessoas de forma mais humana, realista e solidária. Quantas vezes uma pessoa não quer nosso abraço, carinho e atenção? Quantos são rejeitados por seus familiares e só queria um tratamento diferenciado de um desconhecido? Vamos olhar ao nosso redor, ajudar mais as pessoas, tratá-las como humanas e nunca esquecer: se caímos, podemos levantar.

Esta resenha saiu mais como um desabafo, uma lição, e não poderia ser diferente. Nuha nos proporciona isso. Só lendo para entender e para sentir. Você gosta do gênero? Indico para que leia agora. Você não gosta do gênero? Indico para que comece por este, imediatamente.

Se eu tivesse de definir este livro em duas palavras seriam: intenso e indelével.

Quote:
“(...) dois meses é muito para quem não sabe quanto tempo ainda tem.”

Outras fotos:


 

Título: Nada consta (exemplar cedido pela editora)
Autor:
Danilo “Japa” Nuha 
Editora: Geração Editorial
Páginas: 168
Ano: 2017

20 comentários:

  1. E a primeira vez que leio a resenha desse livro, e não posso negar que consegui sentir a forma como o personagem se senti, e não e pelo fato de já ter passado por isso, mas que pela sua descrição e possível sentir empatia pela sua estória de via, no qual passou por uma denegação, de pessoas das quais lhe deveriam dar amor, e carinho, e na verdade simplesmente lhe viraram as costas. Existem muitas pessoas por ai, querendo esse tipo de vínculo, já que existe tanto a falta dela na sociedade. Esse e um livro, que nos faz refletir, e questionar nossos valores.

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  2. Oi, Naty
    Que livro intenso e reflexivo! Confesso que pela capa ele não me atrairia, mas como muitos livros que acabamos julgando pela capa, já li ótimas obras. Gosto de história com essa questão humanitária, que nos fazem pensar no outro. Adoraria ler.

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  3. Olha, se não visse resenha dele nem acabaria dando atenção pra esse livro, confesso. Mas adorei saber mais. Parece um desses livros que a gente lê e tem vontade de mudar muita coisa em si mesmo. Que faz pensar, ver as coisas de outra forma e abrir os olhos para diversas situações. Gosto dessa ideia. O livro parece ser muito bom por isso e com certeza se tiver a chance de ler não vou exitar mais.

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  4. Não conhecia o livro e admito que não fiquei com vontade de conhecer, parece um livro bem reflexivo e cheio de ensinamentos mas não é o tipo de leitura que me agrda.

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  5. Olá.
    Linda resenha, parabéns.
    Não conhecia o livro, mas percebe-se um tema reflexivo, com mensagens que enriquecem mais a leitura.
    Apesar de não ser um estilo de que eu esteja acostumada a ler, espero um dia poder conferir.
    Obrigada pela dica.
    Abraços.

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  6. Oi.
    Eu achei a premissa do livro bem interessante mas confesso que ele não faz muito Meu gênero não O que é uma pena realmente já que curtir bastante o pouco que descreveu sobre o livro.
    Bjs.

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  7. Primeira vez que leio sobre esse livro e já de cara a capa não me interessou e infelizmente lendo a sua resenha tambem não, mas isso é por causa que não é meu genero e acho que infelizmente não irei apreciar. A sua resenha ficou ótima.

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  8. Natália!
    Nossa! O autor/protagonista trabalhou em muitas coisas, hein? Deve ter adquirido uma grande experiência.
    Uma pena ter acabado no mundo da criminalidade.
    Acredito que naquela época não tinha tanta burocracia para apenas registrar as crianças.
    Bom ver que podemos refletir sobre as intituições e como o Brasil tem sempre aquele jeitinho para tudo, né?
    E que bacana ter ilustrações/fotos.
    Deve ser um livro interessante.
    cheirinhos
    Rudy

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  9. Eu não conhecia este livro, mas lendo um pouco sobre do que se trata a história dele, fiquei bem interessada em lê-lo, acredito que é uma história que faz o leitor refletir. Adicionei este livro em minha lista de leituras.

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  10. Não conhecia e gostaria de ler, fiquei impressionada com tudo que aconteceu na vida do autor, fez de tudo um pouco, todos nós erramos, mas é maravilhoso quando se consegue dar a volta por cima e mudar para melhor. Uma grande lição de vida e perseverança essa historia.

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  11. Olá, Natalia.
    Não conhecia nem o livro, nem o autor ainda. E quanta coisa ele já fez hehe. A leitura deve ter sido incrível. Mas não sei se leria porque prefiro ler ficção, não sou muito fã de histórias reais, mesmo sendo ela um choque como você disse hehe. Infelizmente a maioria das pessoas que estão no crime hoje, são adultos que foram crianças abandonadas. Tem tanta mulher querendo ser mãe e outras abandonam seus filhos.

    Prefácio

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  12. Éu já amei de primeira pelo título do livro, que me deixou com a cara no chão: amei mesmo, quero ler um dia e esse com certeza já entrou na frente de minha lista de desejos como o primeiro a ser lido logo! Sobre a adoção, eu estou pra entrar na lista, quero adotar uma criança e sei que é bem assim mesmo! tudo é difícil. Ai quero esse livro!

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  13. Oi Nati, tudo bem?
    Olha eu não acho muito interessantes os livros dos Youtubers, mas o do Japa eu leria com certeza. Ele tem uma história de vida de dificuldades e vitórias, e é bonito de se ver. Essa questão de abandono de crianças é um tema complicado de se falar, pois nunca entenderemos o que uma mãe sente ou pensa quando toma esta decisão.
    Beijos

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  14. Parabéns pela resenha Naty, deu para sentir através de suas palavras a carga emocional desse livro.Uma história de vida e superação desse autor que nos traz um sentimento tão necessário hoje em dia: a empatia. Somos induzidos a apontar e condenar os erros dos outros, sem tentar compreender o que realmente esta acontecendo, a triste e cruel realidade de julgarmos sem nos colocarmos no lugar da outra pessoa. Um livro com uma carga reflexiva intensa e que trás uma lição e tanto, com certeza vou querer ler.
    Beijos

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  15. Oi Naty! AMEI. Essa indicação de livro veio em perfeita hora. Eu estou estudando direito de família esse semestre, e tudo o que você disse está corretíssimo. Nós estudamos muito sobre a dignidade da pessoa humana, e eu pergunto: onde está a dignidade do Nuha? Abandonado pelos pais e exilado, de certa forma, pelo mundo. Cadê a dignidade dele como criança e pessoa? Essas questões a gente fala muito. Tudo que é discutido e abordado em sala é pra preservar o melhor interesse da criança. Também não se pode deixar de falar do Estado que é responsável pela tutela da criança e adolescente.
    É uma obra que eu com certeza vou ler por que é a visão dele de vida, do que ele passou e sofreu. Gostei demais que apesar de tudo, ele não terminou como muitos terminam em nosso país.
    Amei tua indicação!
    Obrigada mesmo.
    Bjus

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  16. Oi! É realmente muito triste pensar que milhares de crianças são abandonadas por aqueles que deveriam ser seus pais. Nunca li um livro desse tipo, mas pretendo ler por ser algo que vai me proporcionar uma grande reflexão. concordo contigo que muitos apontam o dedo sem nunca ter passado por tal dificuldade. Pretendo ler. Beijos

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  17. Olá, Natalia!

    O que o Danilo passou ao ser abandonado por seus genitores (pois concordo que não deveriam ser chamados de pais) é terrível e o que ele passou depois também.
    Mas superar a violemência e o tráfico são possíveis. Danilo mostrou isso e no livro isso é visto de modo a gerar empatia e nos abrir os olhos para outros Danilos que estão por aí, sem família e carinho, esperando ajuda e conforto. Espero que mais gente leia e começe a ver o outro e seus problemas com mais amor e compaixão.

    Um abraço!

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  18. Oi, Naty!
    Concordo completamente com você, é fácil julgar quando estamos observando a vida alheia, difícil é passar por tudo aquilo e dar a volta por cima, e apesar de Nada consta não fazer meu estilo de leitura, admiro Nuha por ter superado tudo e ter dado a volta por cima e se eu tiver a oportunidade de ler esse livro vou ler sim...
    Valeu pela dica. Amei sua resenha.
    Bjos!

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  19. Oi, Nathy!
    Essa foi a primeira resenha que li sobre esse livro é devo confessar que gostei muito da premissa da história e vou sim dá uma chance para esse livro!!
    Bjoss

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