Olá amigos,

Kambili e Jaja são dois irmãos criados duramente pelas regras impostas por seu pai, um homem fanaticamente religioso que enxerga o pecado e a maldade em todos os lugares, que pune severamente esposa e filhos quando estes saem da linha e entram no caminho do diabo.

O pai, chamado Eugene, mas que chamado pelas crianças de Papa, é muito rico. Dono de um jornal, que só publica as verdades, e de uma fábrica de biscoito e sucos. A família vive muito bem, comem do bom e do melhor e as crianças tem como prioridade os estudos. Seria a vida dos sonhos, se Papa não tivesse sérios problemas de achar que tudo é pecado.


Papa, além de muito rico, é muito generoso, paga a faculdade de mais de 100 pessoas, faz doações a hospitais. Em datas especiais ele abre a sua casa para a comunidade comer de graça, ajuda a todos que pode desde que sigam a “verdadeira” religião e peçam perdão por seus pecados.

Mas com sua própria família ele é muito menos justo: possui uma irmã viúva e com três filhos que estão passando por apertos, e um pai que vive na extrema miséria. Eugene não o ajuda, pois ele é considerado pagão. Já sua irmã não se converteu totalmente, por isso não é merecedora de ajuda e piedade. A casa de Eugene é silenciosa, seus filhos são pequenos bajuladores, procuram constantemente a aprovação do pai, e nunca expressam sua verdadeira opinião, se esta estiver contra o que papa acha. Neste caso, eles dizem o que papa gostaria de ouvir, aquilo que o faz sorrir.


Certo dia, sua tia aparece e consegue convencer Eugene de que seus filhos precisam conhecer melhor os primos, e os leva junto para sua cidade. Ali Jaja e Kambili aprendem a sorrir, a se expressar, a ter opinião, a falar livremente. Mas devido a um acontecimento que desagradou Papa, ele castiga Kambili e Jaja, queimando seus pés em uma banheira. Este fato vai marcar uma série de acontecimentos que irão mudar as coisas, e nada mais será como antes.

Existem diversos outros episódios narrados por Kambili que nos fazem ter uma noção de como Papa era em suas punições, sempre explicando o motivo delas, sempre pedindo para que os filhos voltassem para o caminho de Deus.


A mama Beatrice tem medo de ser abandonada por Eugene, pois sabe que o mundo lá fora pode não ser muito indulgente com as mulheres na atual situação de revolta do país. Com isso em mente, obedece as regras, sofre as sua próprias punições e sente-se grata por ter um marido rico e que lhe é fiel, pois as mulheres da comunidade constantemente oferecem suas filhas a Papa, para que este as engravide, coisa que ele não aceita e não faz.

Este homem, generoso e com boas intenções para com toda a comunidade, ajudando a todos que precisavam, era ao mesmo tempo um marido e pai terrível e inescrupuloso. Usando da fé para justificar seus atos, agindo em nome dela, como se soubesse exatamente o que Deus espera de um ser humano.

Este é simplesmente o melhor livro que li este ano até o momento. Com uma escrita leve e fluida, Chimamanda te envolve para dentro daquele mundo de medo e silêncio, sem te fazer querer largar o livro de nojo, mas sim criando uma ânsia de justiça e vingança. Um livro sobre revolta, perdão e fanatismo.

Abraços.



Quotes:
“Papa estava andando na direção de Jaja. Falara a última frase toda em igbo. Achei que ia puxar as orelhas de Jaja, que ia segurá-las e sacudi-las com a mesma rapidez com que andava. Que ia dar uma bofetada no rosto de Jaja e que a palma de sua mão ia fazer aquele som, que era como o som de um livro pesado caindo de uma prateleira da biblioteca da escola. Depois ia me esbofetear também, com a tranquilidade de quem estica o braço para pegar o pimenteiro em cima da mesa”.

“A notícia passara na televisão. Os homens haviam sido amarrados a postes, e seus corpos continuaram tremendo mesmo quando as balas não estavam mais entrando neles. Contei a Jaja o que uma menina da minha sala dissera: que sua mãe desligara a TV deles, perguntando por que alguém gostaria de ver outro ser humano morrer, perguntando o que havia de errado com toda aquela gente que tinha ido assistirá execução”.

“Medo. Eu já conhecia o medo, porém quando o sentia ele nunca era o mesmo da outra vez, como se viesse em sabores e cores diferentes”.


Título: Hibisco roxo
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das letras
Páginas: 328
Ano: 2011

14 comentários:

  1. Esta e a primeira vez que me deparo com uma estória que retrata de forma tão aberta o fanatismo, isto e algo muito real ainda em nossa sociedade, mas que não e questionado, e muitas famílias principalmente os filhos, são punidos quando foge da regra ditadas pelas religiões, por isto vejo que esta obra retrata exatamente isto. O homem tão rico ajuda tantas pessoas desconhecidas, mas seu próprio pai, e irmã que passam pro miséria, ele finge que não vê, por apenas uma questão de orgulho, e diplomacia. Quero muito ler este livro, mas tenho certa que vai gerar uma revolta, então tenho que preparar meu emocional.

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  2. Ainda não conhecia o livro, amei sua resenha e essas fotos ficaram lindas :D

    http://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/

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  3. Esse tipo de leitura geralmente não me agrada e admito que fiquei brava só de ler as coisas que o cara faz. Odeio quem usa religião para justificar atos absurdos e que não consegue enxergar nada além disso.
    Mas ao mesmo tempo fiquei com vontade de ler, saber os acontecimentos e ver se os filhos em algum momento conseguiram escapar desse pai.

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  4. Passo longe desse livro.
    Todo livro de King é possível identificar um personagem assim, ou fanático religioso ou superprotetor e etc, mas fanático religioso é bem comum e pessoas assim me irritam de um jeito que só vendo kkkkk. Então eu não ia conseguir ler esse livro acho. Ia querer era jogar ele longe kkkkkk

    Mas a resenha está ótima, no fim me fez ter esperanças de que esse sujeito ia se estrepar kkkkk. Ps: Poderia achar uma Cersey no meio do caminho e falar "Confesse" kkkkkkkkkkkkk

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    1. Kkkkkkk pois é!!! Seria bom mesmo se tivesse uma Cersei pra ele kkkk

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  5. Este livro é meio a prova do que o extremismo de uma religião ou crença é capaz de fazer com uma pessoa. Nem acreditei quando disse que ele queimou os pés das crianças....É importante termos umas leituras mais profundas e creio que este apesar de ser uma historia de fanatismo traga de alguma forma uma reflexão. Excelente resenha!

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  6. Fiquei horrorizada com o comportamento desse pai em casa, a leitura deve ser envolvente e ao mesmo tempo triste, comovente e revoltante, aliás deve despertar todo tipo de sentimento no leitor. Por um lado o personagem ajuda as pessoas por outro renega os parentes que precisam devido a sua crença, que pra mim é uma obsessão dele.

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  7. Oi Silvana, tudo bem?
    Já vi outras resenhas deste livro e sempre fico cada vez mais curiosa para lê-lo. Sempre penso que o papa não é muito diferente dos falsos moralistas que querem espalhar a vontade divina, mas que não passam de pessoas terríveis por trás das palavras de "Deus".
    Adorei a resenha.
    Beijos

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  8. Silvana!

    Acredito que o livro seja rico no sentido de mostrar toda arbitrariedade que o país passa com a interferência do governo.
    E ainda mais rico em mostrar como as famílias são 'iguais' em alguns aspectos em toda parte do mundo, porque existem muitos Eugene por aí...
    Desejo um final de semana mais que tranquilo e abençoado!
    “Deus com Sua infinita Sabedoria, escondeu o Inferno no meio do Paraíso para que nós sempre estivéssemos atentos.” (Paulo Coelho)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE AGOSTO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  9. Olá, Silvana!

    Esse livro se torna muito atual nesse tempo de opiniões e religiosidades extremas. O mais curioso é que sempre o objeto de nossa crença (Deus, Jeová, Alá, etc.) não está no nosso campo de visão, mas quem o usa para impor sua religiosidade acha que ele irá punir quem se desviar do caminho, sem pensar se ele iria ter misericórdia ou não dos pecadores. E ironicamente, ao impor esse regime de medo aos outros, essas pessoas, de um certo modo, também acabam pecando, pois matam e maltratam para impor sua religiosidade. E mesmo assim, repetem o erro, pois primeiro foram as Cruzadas e a Inquisição na Idade Média, depois as Guerras no Oriente Médio e agora os ataques terroristas pelo mundo, tudo isso, independente da religião de quem o faz, acaba no mesmo resultado: aumentando o ódio as religiões atacantes e atacadas e não a quem o faz isso.
    Tive uma professora no meu curso de crisma que me falou: Todos os erros cometidos pela Igreja Católica no passado são culpa dos homens que a cuidaram na época, não de Deus. E concordo com ela e estendo essa opinião a toda violência que ocorre por causa de religião até hoje. Pois todos os milagres que ouvi não envolviam punição ou sangue, mas sim amor e redenção.
    Chimamanda abre os olhos para isso e, além de denunciar a exploração, subordinação e a violência contra a mulher, deixa claro o que eu falei sobre isso e sobre o quanto a fé não tem nada a ver com a violência.

    Um abraço!

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  10. Olá, li esse livro não faz muito tempo e é sensacional! Eu viajei pra Nigéria sem sair do Brasil, e ao ler o livro eu vivi todos os aspectos culturais, religiosos e regionais que o envolvem. Lembro que ao ler esse livro – o qual eu fiquei muito em duvida- eu não gostei da capa, não me agradou tanto, então li a sinopse, gostei e peguei pra ler, e foi a melhor escolha que eu fiz!
    Recomendo a todos!

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  11. Não gosto de livros assim, até por que é pròximo da realidade com tanta religiosidade que existe no mundo a fora. Acho que não conseguiria ler esse livro, pois ficaria revoltada.

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  12. Oi! Nunca ouvi falar do livro, mas eu ficaria bem incomodada se eu o pegasse para ler. Tenho muita raiva de pessoas que usam a religião como desculpa para seus atos horríveis, e ver um pai queimando os próprios filhos "em nome da fé" me deixaria muito revoltada. Fiquei bem curiosa para saber a mudança dos filhos depois desse acontecimento horrível. Beijos

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  13. Oi, Silvana!
    A capa é linda demais!! Mas não é o tipo de leitura que gosto muito. Então fica a indicação!!
    Bjoss

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