Olá,
Recentemente tive meu primeiro contato com um autor moçambicano, Luís Bernardo Honwana. O autor, nascido em Maputo em 1942 (na época a cidade se chamava Lourenço Marques), escreveu vários contos que retratam o quadro econômico e social do país, com a colonização portuguesa. 

Aos 17 anos, estudou jornalismo e em 1964 se tornou um militante da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), onde o objetivo era libertar Moçambique de Portugal. Devido a isso, foi preso e ficou encarcerado por três anos pelas autoridades. Quando enfim conseguiram a libertação do país, ele virou funcionário do governo e presidente da Organização Nacional dos Jornalistas de Moçambique. Seu conto de maior sucesso foi Nós matamos o cão tinhoso!, publicado em 1964. Quando, em 1969, a obra foi publicada em inglês, obteve grande reconhecimento internacional.



Esse seu conto, de maior reconhecimento, foi lido e emocionou diversas crianças e gerações em escolas. O autor Ondjaki mencionou que certo dia, na sua infância, uma história de um cão tinhoso ,que foi morto por outras crianças, pôs sua sala inteira em prantos. Esse conto era o de Honwana.

Na história nós temos um cão repleto de feridas pelo corpo, que nunca é acariciado por ninguém, e que é frequentemente hostilizado por outros cães conhecido como o cão tinhoso. Correm os boatos de que esse cão atravessou vários países, fugido da grande bomba, e por esse motivo ele está repleto das feridas que são um nojo. Esse cão vive perambulando pela escola e existe uma aluna em especial que tem muito carinho por ele, inclusive divide seu lanche com o cão tinhoso. 

Certo dia, o administrador decide que o veterinário deve sacrificar o cão. O veterinário por algum motivo, não quer executar a função, e pede para os meninos da escola fazerem. Sabendo que a garotada gosta de dar uns tiros, resolve que será uma boa ideia dar essa tarefa a eles. A garotada se anima com a ideia no início, porém, conforme a narrativa avança, você percebe que todos estão com medo de fazer isso ao pobre cão. Porém, mesmo não querendo fazê-lo, as crianças se sentem na obrigação, pois foi o administrador quem mandou. Esse é um retrato claro de quão submisso aquele povo era aos portugueses.



Temos outro conto que chamou muito a minha atenção, onde um trabalhador de plantação, já idoso, tem sua filha estuprada pelo capataz na frente de todos. Os trabalhadores, com dó do velho pela situação, se colocam à disposição para fazer lhe vingança. O velho, porém, morto por dentro, decide que é hora de voltar ao trabalho.

Apesar do tema pesado, é um livro escrito de forma leve, temos alguns outros contos que relatam essa situação do domínio e exploração dos portugueses, e todos são muito interessantes. Porém, senti certa dificuldade em me acostumar com a escrita, visto que temos bastante expressões não utilizadas no português do Brasil. É uma edição muito caprichada, e senti que a editora deu toda uma atenção especial a ela. Não temos economia de folhas, e a diagramação é muito confortável. Indico muito para quem ainda não leu muito sobre o tema, pois é de certa forma esclarecedor, nos concedendo um panorama geral de como as pessoas sobreviviam naqueles tempos de trabalho árduo.

Abraços.






Título: Nós matamos o cão tinhoso! (exemplar cedido pela editora)
Autor: Luís Bernardo Honwana
Editora: Kapulana
Páginas: 145
Ano: 2017

13 comentários:

  1. Silvana, apesar de um pouco pesado, fiquei bem curiosa com esse livro!

    Beijo!
    Cores do Vício

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  2. Achei o título do livro bem curioso hahahah!
    Mas não sou muito de ler :/

    https://heyimwiththeband.blogspot.com.br/

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  3. Não conhecia o título e achei a capa muito bonita. Achei interessante a proposta do livro e ainda mais o engajamento do autor. E o livro retrata uma triste realidade daquele povo, né?

    Beijos
    - Tami
    http://www.meuepilogo.com

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  4. Primeiro: Adorei as fotos,
    Quando vi o título da postagem achei que era sobre comédia, mas percebi logo que não era o caso, me cortou o coração as duas histórias que você expôs, vou ficar um bom tempo pensando se leio ou não esses contos, mesmo você dizendo que é escrito de forma leve.

    Hiattos

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  5. Aparenta ser um livro maravilhoso!
    Ótima resenha, não conhecia.
    Beijos.
    https://vinteedoisdemaio.blogspot.com.br/

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  6. Nossa, mas pesado esses que contou. O do cachorro me daria uma tremenda pena porque adoro esses bichinhos, mas é interessante as coisas que ele faz pensar. E esse da garota estuprada é horrível só de pensar. Se tiver mais coisa no estilo seria tenso de ler, mas achei interessante pela reflexão que pode trazer. Não conhecia o livro.

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  7. Muito triste os contos é uma crueldade fazer isso com o cachorro, coitado, deve ser uma agonia esse conto. O do estrupo também, já vi que é uma leitura que mexe com as emoções do leitor, ainda mais por saber como as pessoas eram tratadas. Mas também deve ser uma leitura gratificante saber mais sobre a colonização portuguesa e sobre essa escrita do autor que deve ser diferente.

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  8. Os contos me pareceram bem pesados mesmo, apesar de serem uma analogia a toda questão politica do lugar de nascimento do autor acho que me emocionaria muito lendo o conto do cachorro, não tenho estrutura nenhuma pra nada relacionado a bichos.
    Mas o livro no geral parece ser muito bom.

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  9. Silvana!
    Adoro livros de contos e tenho lido muitos.
    Parece que os contos, mesmo escritos há mais de 50 anos, mostra as dualidade políticas e que podemos até trazer para nossa atualidade.
    Cão tinhoso deve se referir a alguém ou alguma coisa muito perspicaz e esperto.
    Gosto quando o lado emocional é abordado.
    Parece um bom livro para ser lido.
    cheirinhos
    Rudy

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  10. Poxa, parece ser um livro bem pesado e um pouco triste. Gosto um pouco de contos, e quero saber mais sobre o pobre cão. Mas, não entendi porque o livro tem vários outros contos e o título do livro é o mesmo que o do primeiro conto...

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  11. Oi, Silvana!!
    Li esse conto o ano passado pois um amigo fez uma artigo sobre esse autor mais o conto principal escolhido para o trabalho dele foi justamente esse.
    Bjoss

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  12. Interessante essa ideia de mostrar o que passaram nas mãos dos portugueses naquela época através dos contos. Fiquei com o coração apertado lendo sobre esses dois que você citou, creio que apesar da linguagem leve alguns assuntos apresentados são bem pesados

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