SINOPSE: Durante a cruel época escravocrata do Brasil Colônia, histórias aterrorizantes baseadas em crenças africanas e portuguesas deram origem a algumas das lendas mais populares de nosso folclore. Com o passar dos séculos, o horror de mitos assustadores foi sendo substituído por versões mais brandas. Em O Escravo de Capela, uma de nossas fábulas foi recriada desde a origem. Partindo de registros históricos para reconstruir sua mitologia de forma adulta, o autor criou uma narrativa tenebrosa de vingança com elementos mais reais e perversos. Aqui, o capuz avermelhado, sua marca mais conhecida, é deixado de lado para que o rosto de um escravo-cadáver seja encoberto pelo sudário ensanguentado de sua morte. Uma obra para reencontrar o medo perdido da lenda original e ver ressurgir um mito nacional de forma mais assustadora, em uma trama mórbida repleta de surpresas e reviravoltas.

Resenha: Vamos começar pela parte mais interessante desse livro: Marcos DeBrito explora nosso folclore para criar sua história tenebrosa, e isso é o mais relevante, afinal, quantos autores nacionais exploram nosso vasto e rico folclore? Oi, Lobato, sumido! O fato é que DeBrito foi longe e é notável todo o trabalho do autor para entregar um material de qualidade ao seu leitor e é fato também que DeBrito provou que é possível criar terror nacional arrepiante e que não precisamos importar monstros para isso.

A ideia é simples e muito bem executada. Um personagem sombrio ambientado na escravatura brasileira e que não poupa em detalhes. Sangrento, tenebroso, pavoroso e macabro. Previsível? Sim e não. Mais para não. DeBrito surpreende no momento certo e consegue prender a atenção do leitor em diversos momentos.
“Por mais aguda que seja a inquietação, ela fraqueja na urgência de um coração alvejado pela flecha envenenada de um cupido.”
Na história, acompanhamos a família Vasconcelos (conhecida no país inteiro, diga-se de passagem) que vive na fazenda Capela com seus escravos. Antônio, capataz da fazenda, é um homem cruel e uma persona odiosa que sente prazer em violentar os escravos. Em um desses abusos é que conhecemos a figura encapuzada que faz justiça contra aqueles que abusaram dela no passado. 


As tonalidades do livro são profundas e os personagens são bem construídos e críveis. Algumas coisas clichês me incomodaram, como o batido “patrão se apaixona pela escrava”, mas vale ressaltar que o autor surpreende no final. 

A construção do clímax é tensa e sufocante, o que revela a incrível capacidade criativa de DeBrito que com revelações e reviravoltas agonizantes constrói um final firme e consistente. Apesar de não me agradar em alguns pontos e situações que poderiam ter sido mais bem explorados, o autor entrega um material de ritmo alucinante que prende o leitor ate o final, além de proporcionar um – leve – aprofundamento na história do Brasil.

Apesar de dito tudo isso, receio salientar que a história não me agradou e apesar da ótima escrita de DeBrito, a linguagem formal está excessivamente marcante no texto. Se a ideia era levar o leitor até o século XVIII, foi uma ótima sacada, mas se a ideia era trazer a época até o leitor atual, a linguagem foi forçada demais, no entanto, O Escravo de Capela é um ótimo livro e com certeza vai ficar marcado no meu acervo de lembranças de leituras nacionais.


Sobre a edição: Preciso dar o alarde para as outras editoras, é notável o esforço que a Faro Editorial está tendo com cada edição que ela publica. O Escravo de Capela é um livro bonito e que chama a atenção na prateleira, o que já é meio caminho andado. Tenho edições de obras mais antigas, como As Crônicas dos Mortos, e são perceptíveis as diferenças no material. A edição é simples, mas com detalhes de luxo, e sabemos que as editoras do nosso país são um pouco nem aí para isso, não é mesmo? Por isso vamos valorizar a editoras que se preocupam em entregar material bom e BONITO visualmente, sim!


Título: O Escravo de Capela (exemplar cedido pela editora)
Autor: Marcos DeBrito
Editora: Faro Editorial
Páginas: 290
Ano: 2017

16 comentários:

  1. Oi, Paulo.

    Essa parece ser uma leitura bastante intensa e forte, por retratar uma época muito sofrida.

    A maneira como o autor escolheu para reproduzir a história, ainda assim, é capaz de transpor fatos tão reais, e trouxe um diferencial para o livro.

    É um livro que tô querendo ler há um tempo. Espero curtir a leitura, quando eu tiver a oportunidade de lê-lo.

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    1. Vale a pena conferir, Daiane. Eu me surpreendi bastante com essa leitura.

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  2. Oi Paulo,
    Com toda certeza, eu não compraria, nem leria esse livro apenas pela sinopse, mas sua resenha me animou um pouco. Fiquei interessada!

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  3. Eu já havia lido sobre o livro em algum blog, mas não com tantos detalhes. Realmente é louvável ter um escritor nacional trazendo nosso folclore em um bom enredo de terror. Quanto a alguns elementos clichês nem chegam a me incomodar, e sim como se desenvolve a partir deles surpreendendo o leitor. Diante das considerações que poderiam ser melhoradas e também das muitas qualidades, acabei ficando curioso com a leitura. Parabéns à Faro pela edição, realmente está muito bonita.

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  4. Paulo!
    Foi um dos melhores que li no ano passado.
    Deu para notar que é um livro completo, com atrocidades evidentes, mistérios que vão sendo desvendados, suspense em trechos que aceleram o coração, romance que faz o leitor torcer pela felicidade em meio a tanta maldade e uma linguagem totalmente envolvente que não faz o leitor largar o livro até o final.
    Desejo que a semana seja abençoado!
    “Nunca sei se quero descansar porque estou realmente cansada, ou se quero descansar para desistir. “ (Clarice Lispector)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA JUNHO - 5 GANHADORES
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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    1. Que bacana! Uma ótima semana para você também.

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  5. Ainda não li mas pelo que li na sua resenha já gostei desse autor e a escrita parece ótima, mas o enredo infelizmente não chamou a minha atenção o suficiente para querer ler logo, mas se acontecer de eu ter a oportunidade poderia dar a chance.
    A capa tambem não me agradou muito.

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  6. Olá Paulo,
    Por mais que eu concorde com suas palavras sobre o autor trazer vida a história do nosso país, não gosto do enredo, não vejo clima para romance algum nesse meio, e talvez isso seja o que me incomode um pouco! Não tenho tanta vontade de ler o livro, mas fico contente em saber como a escrita do autor se destaca..
    Beijos

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  7. Não sabia que esse livro era uma releitura de uma lenda do folclore brasileiro e nem me soa familiar Mas como eu já acompanhei alguns trabalhos desse autor Eu tô bem interessada em conferir a sua obra visto que tantos blogs Falaram bem a respeito dele e o talento do autor se faz fama

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  8. Quero muito ler os livros do Marcos DeBrito, ele é um grande autor de suspense nacional, só ouça coisas boas de suas obras e esse livro, Escravo de Capela não fica atrás!! A edição está lindíssima, sem duvidas que temos que dar valor a essa editora, tenho um outro livro da Faro e o acabamento é lindo!!

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  9. Eu adoro terror nacional, apesar de ter lido poucos, por abordar crenças do nosso país parece que fica muito mais realista e me deixa pensando mais na história, se ainda não leu eu recomendo o “quando o mal tem um nome” da Glau Kemp, é incrível.
    Apesar da história não ter te agradado sua resenha me deixou com muita vontade de ler meeeesmo, adorei, nunca tinha ouvido falar nesse livro e fiquei super interessada agora, então obrigada hahaha

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  10. Creio que esse livro seja rico em conhecimento, é um livro que quero muito ler, mesmo com essa linguagem formal, algo que deveria ser informal, me incomodar também. Mas acho que leria esse livro a nível apenas de aprendizado.

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  11. Adoro livros de terror! Estou bem curiosa para saber como o autor utilizou como pano de fundo de uma época tão cruel, que foi a escravidão no Brasil. E ainda fico me perguntando como ele colocou o Saci, uma lenda folclórica do nosso país, nessa estória fantástica!Sempre vi muitos elogios, e espero poder ler em breve!

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  12. Nossa parece ser uma leitura bem forte e intensa, fiquei com medo já nas primeiras linhas. Acostumada com o Saci dos quadrinhos nem imaginaria uma história assim. Adorei o uso do folclore, é tão rico e tem muita história pra contar. Não leria mas com certeza é um baita livro

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