Fácil demais para um Philip Dick!

Eric Sweetscents é um cirurgião muito renomado que faz transplantes de órgãos naturais por órgãos artificiais. Sua capacidade técnica faz brilhar os olhos de Gino Molinari, secretário-geral da ONU e, no momento, o homem mais importante do planeta; mas que sofre severamente de hipocondria.

O ano é 2065 e o planeta Terra está em guerra com uma raça alienígena denominada Reeg. Sweetscents tem uma mulher que o detesta e ao mesmo tempo tenta ser controladora. Quando Molinari o chama para ficar junto de si, Sweetscents abandona a esposa. Porém, um dia antes, ela estava sendo observada por autoridades enquanto experimentava uma nova droga. Essa droga, desenvolvida para ser uma arma de guerra, tem o incrível poder de levar o usuário para outro tempo, mas, em contrapartida, é altamente viciante. Uma dose é suficiente para o usuário se tornar dependente dela. Agora ela está sendo chantageada e obrigada a ficar perto de Eric, observar seus passos e se tornar uma espiã. Mas ela vai muito além e o faz tomar da mesma droga. 


Eric Sweetscents encontra-se agora em uma verdadeira batalha pessoal. Não sabe se foi contratado para curar Gino ou para não deixá-lo morrer. Está completamente envolto na guerra. E precisa encontrar uma cura para o vício da droga. Para isso, porém, ele terá que tomá-la mais vezes, uma vez que a cura pode encontrar-se no futuro. Mas, como toda viagem no tempo traz suas consequências, a busca pela cura pode custar caro para Sweetscents.

Espere agora pelo ano passado é muito mais do que um sci-fi que faz quebrar a cabeça, como estamos acostumados com os livros de Philip Dick. Nessa história, apesar do tema futurista, Dick explora o que de mais comum há na vida das pessoas: um casal com problemas de relacionamento; um homem bem sucedido, mas pouco feliz; uma mulher que busca a felicidade na dependência química; uma sociedade política que faz da guerra motivo para passar sobre os outros e tomar o poder. 

Com uma linguagem que vai de encontro ao que estamos acostumados e uma história, não fosse pelas viagens no tempo, muito linear, Philip Dick nos apresenta um dos seus livros de leitura mais fácil, tanto pela escrita, pelo foco narrativo ou mesmo pela pouca descrição do que envolve os personagens. Estes que também vêm em números pequenos, contribuindo ainda mais para a fruição da leitura.


Porém, o prazer não fica só na leitura que flui tranquila. Dick também é mestre na arte de escrever e inventar histórias, e corroborando com isso, encontramos uma conteúdo cheio de indagações, surpresas e reviravoltas. Além disso, acredito que a genialidade dele está em tratar de temas atuais (levando-se em conta que o livro foi escrito em 1966), mas mesclar a busca por soluções no esquema futurístico. Não obstante, ele ainda é capaz de nos mostrar que somos seres humanos e nunca mudaremos nossas escolhas.

Vocês podem encontrar pessoas por aí dizendo que o final não foi agradável ou mesmo que não teve um final. Mas, quem presta atenção na história é capaz de desvendar o final muito antes de o livro acabar. 

Sobre a edição: agradeço à Suma por estar trabalhando nos livros do Dick assim como trabalha nos do King. Com capa dura, as ilustrações parecem a mente perturbada do escritor: colorida e abstrata. Livre de desenhos no interior, as letras aparentam estar sempre em negrito, contrastando fortemente com as páginas amareladas.



Título: Espere agora pelo ano passado (exemplar cedido pela editora)
Autor: Philip K. Dick
Editora: Suma
Páginas: 296
Ano: 1966 / 2018

16 comentários:

  1. Dick é um autor para poucos! E afirmo mais ainda: poucos selecionados! Sua mente genial não deixa que nossa mente, por vezes, fechada e pequena, se adentre realmente no que ele quis transmitir!
    Apesar de conhecer bem pouco de suas letras, já é suficiente para ter essa paixão e este respeito por tudo que ele escreve, por mais simples que possa parecer, há sempre algo ali, feito e escrito para nós!
    Ainda não consegui ler esta obra do autor, mas o livro está na lista de desejados e espero fazer isso em breve!
    Beijo

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    1. Penso da mesma forma rsrs. Mas, pra ser bem sincero, eu me vejo em um paradoxo: não gosto muito do autor, mas adoro os livros dele. De fato, as histórias parecem não ter um fim adequado, mas sempre têm coisas para nos mostrar.

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  2. Sou louca pra ler os livros dele e esse parece mais um com aquela cara de atual mesmo pelo tempo de escrita. Uma coisa que adoro em livros assim. O futurista da trama chama atenção e tem pessoas que a gente vai se identificar, ver esses dramas acontecendo e tudo mais. Fora essa questão politica e de guerra. Gostei que ele tenha semelhanças com problemas de pessoas reais , brinque com o imaginativo e ainda solte umas críticas no meio. Parece bem legal de ler.

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    1. Oi, Cristiane.
      Se ainda não leu algum, sugiro começar por esse. Como eu disse, ele é bem fácil e a história é agradável, muito ao contrário dos outros.

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  3. Acredita que até hoje não li uma obra dele? Essa parece ser ótima, anotei a dica!

    https://www.kailagarcia.com

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  4. Olá! Apesar de ser super recomendado, por várias pessoas, até hoje não tive contato com a escrita do autor, conheço sua originalidade e o quanto sua escrita é interessante, mas ainda tenho receio em começar algum livro e acabar não curtindo muito, até porque não sou muito fã do gênero. A história parece ser bem interessante e gostei de saber que foge um pouco do que ele normalmente escreve. Quanto à edição está realmente linda e no capricho, bem difícil de resistir.

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    1. Oi, Elizete.
      Dick realmente não é autor que agrada a muitos. Sua linguagem é bem complicada e as histórias costumam dar nós em nossas cabeças. Acredito que seria mais difícil ainda, por não te agradar o gênero. Mas se um dia estiver disposta, sugiro começar por esse. Vai ser bem tranquilo.

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  5. Oi, Marcos!

    Esse não é um gênero que tenho o costume de ler, mas achei demais a parte de transplante de órgãos, a pessoa científica em mim despertou e ficou bem curiosa com a história hahaha ótima resenha!

    xx Carol
    https://caverna-literaria.blogspot.com/

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    1. Oi, Carol! Aproveita a curiosidade e leia rsrs mas tenha em mente que é um livro bastante futurista e a parte dos transplantes (que tanto te interessa) pode ser um pouco frustrante.

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  6. Marcos!
    Não tive oportunidade de ler nada do autor ainda, mas gostei da sua análise.
    Gosto de livros de ficção e pelo jeito, ele soube inserir direitinho problemas triviais do nosso cotidiano com a evolução de drogas experimentais que podem fazer mal.
    Quero conferir.
    cheirinhos
    Rudy

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    1. Oi, Rudy! Ele trabalha tão bem a questão dos problemas sociais, que quase não os percebemos. Se não pararmos um pouco e analisarmos mais friamente, passa batido. Aí focamos nossa atenção no sci-fi que ele nos proporciona.

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  7. Adoro essa coisa de viagem no tempo e quando vi que o futuro era em 2065 fiquei até intrigada pensando no quanto esta perto mas depois vi que o livro foi escrito em 1966, que gênio é esse autor escrevendo uma obra totalmente atemporal. Adorei a premissa, fiquei bem curiosa pra saber se o personagem encontra a cura para o vício. A edição esta linda!

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    1. Olá, Luana.
      Viagem no tempo sempre me interessou também. Dick, Asimov sao autores que sempre estão nas minhas prateleiras. E o mais interessante é isso mesmo que vc citou: eles escreveram há tanto tempo atrás e às vezes nem nos damos conta que esse tempo está bem pertinho.

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  8. Oi, Marcos
    Ainda não tive contato com os livros do autor. Porém tenho muita curiosidade para conhecer seus livros.
    A Suma esta caprichando nessas edições com capas e diagramações maravilhosas.
    Quanto ao enredo esse livro é o que mais estou interessada em ler do Dick com órgãos artificiais, drogas em teste e viagem no tempo.
    Ele era um escritor a frente do seu tempo, espero ter oportunidade de conhecer seus livros.
    Beijos

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  9. Oi, Marcos!!
    Ainda não li nenhum livro do Philip K. Dick e pelo que li acho que esse é o livro ideal para começar a ler suas obras!!
    Bjs

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