Fala galera, hoje eu vim trazer para vocês a resenha do livro Por que crianças matam. Um livro pesado, porém, reflexivo, que merece toda a atenção possível.

O caso (sinopse)
Em 1968, Mary Bell, de 11 anos, foi julgada e condenada pelo assassinato de dois garotinhos em Newcastle upon Tyne, Inglaterra. Antes mesmo de ir ao tribunal, Mary Bell foi apresentada como a encarnação do mal, a “semente ruim”. Mas a jornalista Gitta Sereny, que cobriu o julgamento sensacionalista, nunca aceitou essa explicação. Ao longo dos anos, Sereny se deu conta de que, se quisermos entender as pressões que levam crianças a cometer crimes hediondos, precisamos voltar nosso olhar para os adultos que elas se tornaram.

Passados 27 anos de sua condenação, Mary Bell concordou em falar com Sereny sobre sua infância angustiante, os dois terríveis atos cometidos no intervalo de nove semanas, o seu julgamento público e os doze anos de detenção. Em Por que crianças matam, Mary Bell e Sereny discutem o que ela fez e o que foi feito a ela, bem como a criança que era e a pessoa que se tornou.

Nada do que Mary Bell disse nos cinco meses de conversas intensas serve como desculpa para seus crimes: ela mesma rejeita qualquer atenuação nesse sentido. Mas sua história devastadora nos força a pensar na responsabilidade da sociedade sobre crianças que são levadas ao limite.


O julgamento
Logo quando peguei esse livro achei que ele iria contar a história das mortes provocadas por Mary Bell, por uma parte eu estava correto, mas por outra estava enganado. O livro conta, sim, em partes o ocorrido, porém, este não é o foco. A autora - Gitta Sereny - já tem um livro onde relata sobre o caso, mas por muito tempo ela que muitas vezes acompanhou o julgamento na época se sentiu incomodada com o ocorrido, não por achar que a garotinha era inocente, mas por achar que a forma que tudo ocorria estava errado.

Ao ver como as pessoas rotulavam a criança de monstra, psicopata ou até mesmo de “semente do mal” - fazendo referência ao livro* do autor William March lançado em 1954 - Sereny logo percebeu que elas perguntavam o que acontecia, mas não se perguntava o principal… Por que isso aconteceu?

Com isso, a necessidade de escrever um livro buscando respostas para essa questão e, também, sobre as consequências desse processo na vida da garota, fez com que Sereny resolvesse escrever esse livro. E ninguém melhor para ajudar nisso do que a própria Mary Bell, que depois de vários anos passando de instituição para instituição e para a prisão, acabou sendo solta por bom comportamento. E, depois de certa insistência por parte da jornalista Mary, concordou em conversar com Sereny para juntas escreverem sobre o assunto.

Por que crianças matam é, acima de tudo, um livro pesado, que mostra não só como Mary Bell teve uma infância totalmente conturbada - principalmente devido a sua mãe - como o sistema penal não está preparado para lidar com casos de crianças e adolescentes que cometem atos infratores.


A vida de Mary se tornou algo público desde o dia do julgamento, onde o seu nome que deveria estar oculto foi revelado e ainda por cima foi julgada em um tribunal para adultos. Somando a isso existia uma mãe que não perdia oportunidade em ganhar dinheiro com o nome de Mary, vendendo histórias inventadas por ela ou a localização de sua filha para jornalistas.

Aliás, é notória a influência de Betty - a mãe de Mary - na vida da menina. Uma mulher extremamente perturbada que tentou por várias vezes matar a criança quando pequena, e a abusava sexualmente com seus clientes. Por muitos anos ela teve sucesso em manipular Mary, inventando histórias em que a garota acreditava e a proibindo de falar com qualquer um, com medo de que alguém fizesse qualquer associação de algo a ela.

Isso com certeza foi um fator muito importante nas ações e comportamentos da garota não só na infância como na vida. E o outro lado influenciador da moeda foram as instituições pelas quais Mary passou. Todas elas causaram efeitos significativos na garota, seja pelo local ou principalmente pelas pessoas que passaram por sua vida neles, sendo talvez o mais importante Red Bank, a primeira instituição que Mary foi enviada e que cuidava exclusivamente de garotos. Foi lá que Mary conheceu o Sr. Dixon, a primeira pessoa que ela amou e que a ajudou de muitas formas, sendo alguém constante nos pensamentos da garota.

A instituição
O livro da Vestígio tem uma boa fonte, espaçamento e folhas como todo mundo gosta, não tem do que reclamar. É tudo certinho.


O veredicto
Assim como Favores Vulgares, que foi lançado em 1999, mas só saiu por aqui ano passado, Por que crianças matam também é antigo, tendo sido lançado em 1998. Porém, apesar disso, eu poderia escrever mil coisas aqui sobre ele e ainda assim não seriam suficientes para descrever a importância que tem.

Como eu disse antes, um dos principais questionamentos do livro é sobre como a sociedade não está preparada para lidar com casos de crianças e jovens infratores e como as pessoas julgam sem saber o que acontece por trás. Claro que assim como Sereny e a própria Mary Bell fazem questão de deixar claro, isso não é de forma nenhuma uma tentativa de fazerem pensar que ela ou quem comete o ato não é culpado e nem deve ser punido.

O que acontece é que mostrar esses relatos são importantes para se fazer refletir sobre por que não tentamos entender como e por que essas coisas acontecem, além de buscar respostas para obter soluções, para evitar, assim, outros casos do tipo ou até mesmo para saber como lidar melhor com isso, e, dessa forma, evitar que um futuro, que possa ser salvo, seja perdido de vez por falta de competência.

Felizmente, Mary Bell é um caso que a vida concedeu uma nova esperança, mas que com outros podem não ocorrer devido a esses erros. Por que crianças matam é um livro que recomendo demais para todo mundo, um daqueles livros que abrem a mente das pessoas para certos assuntos, possibilitando um conhecimento e/ou uma reflexão certeira. Não tem como terminar de ler sem sair como uma pessoa diferente.

Que venham muitos livros assim pela frente. Beijos e Abraços. =*


*O livro tem uma versão brasileira chamada Menina Má lançado pela Darkside Books


Título: Por que crianças matam (exemplar cedido pela editora)
Autora: Gitta Sereny
Editora: Vestígio
Páginas: 400
Ano: 2019

19 comentários:

  1. Por tantas vezes é mais fácil julgar do que tentar entender. Mesmo que muitas coisas não tenham justificativa ou explicações, sei lá, o caminho para se ter chegado até aquele lugar,é muito importante, ainda mais quando se envolvem crianças.
    Já tinha lido por cima sobre este livro, aliás, li Menina Má e amei na época, não há uma explicação lógica para a maldade infantil, se é que exista maldade numa criança, mas talvez seja apenas o reflexo da criação.
    Penso que nunca entenderemos de fato como é tudo isso.
    Há diferenças nítidas em uma criança e outra, pelo simples fato da família ao redor.
    Se puder, quero muito conferir este livro e não encontrar respostas, mas sim, abrir mais o coração!
    Beijo

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    1. Olá =D

      O ambiente influência assim como influenciamos o ambiente, é algo reciproco, não tem jeito. Mas com certeza é muito mais devastador quando trata-se de uma criança, pode causar sérios danos psicológicos e elas cresceram com uma noção deturpada de valores morais e etc. É algo que deve ser muito bem avaliado. A leitura vale muito a pena.

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  2. É um caso bizarro pra se lidar, criança cometendo atos extremos assim. Mas a gente logo imagina o tipo de vida e o que isso faz com a cabeça de alguém quando algo assim acontece. Só consigo pensar no quanto é difícil um julgamento assim. Lidar como se fosse um monstro? Lidar pelo lado que passou, ouvir esse lado e entender como as coisas chegaram onde chegaram? É tanto pra analisar e só consigo pensar em alguém conseguir ajuda pra essa criança e entender o que se passou na cabeça dela pra fazer isso. Ajuda. Nem consigo pensar em ver adultos julgando uma criança como um monstro. Sei lá, mas não entra na minha cabeça que isso é possível. Li esse outro livro que citou e só imagino a influencia que ele pode ter tido. Mas nossa, pelas coisas que já deu pra perceber da mãe dessa garota, de como lidaram com o caso e o despreparo é de servir de alerta mesmo contar uma história assim. É complicada e a maneira de lidar com isso tudo tem que ser mas muito bem feita mesmo. Parece um livro que deixa uma mensagem forte.

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    1. Olá Cristiane.

      Realmente, é algo que não deixa de ser muito sinistro. E ai é que está a coisa, ela não teve esse apoio, foi julgada em um julgamento para maiores e nem tinha noção do que estava fazendo ali. As pessoas só ficavam preocupadas em julgar e chamar de monstro em vez de ajudar. Com certeza é um livro forte e muito bom. Vale a pena mesmo ter, ler e guardar na estante. E acredito eu que seja um daqueles livros quase atemporais.

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  3. Realmente a sociedade não está preparada para lidar com crimes cometidos principalmente por crianças, isso se dá principalmente pelo estereótipo de criança inocente e consequentemente incapaz de fazer essas coisas, mas as pessoas muitas vezes se esquecem que o meio onde vivemos de certa forma vai influenciar quem somos e quem nos tornaremos. Não fiquei nem um pouco surpresa em saber que a Mary tinha uma infância conturbada antes de cometer os assassinatos, assisto muitos documentários criminais e percebi um certo padrão nesses casos. É triste o fato de muitas crianças não terem a oportunidade de usufruir de uma infância saudável, casos desse tipo é de partir o coração.

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    1. Olá Pamela

      Concordo com tudo que você disse. Não espanta mesmo saber que a infância foi bem traumática. Influencia demais.

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  4. Fábio!
    Acho importante livros que trazem uma abordagem mais voltado para uma avaliação psicológica sobre que crianças que podem se tornar assassinas e ela ter trazido o exemplo de um caso real, é ainda mais fascinante porque tem como evidenciar tudo.
    cheirinhos
    Rudy

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    1. Olá Rudy

      Sim, esse é um livro muito importante. Eu recomendo que todo mundo leia. =D

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  5. Oi, Fábio!
    Confesso que não curto livros pesados, principalmente sobre crimes cometidos por crianças... mas nossa, coitada da Mary Bell, quantas crianças sofre/sofreram maus tratos por aqueles que deveriam cuidá-los?! E o pior é a sociedade não está preparada para lidar com casos de crianças/jovens infratores, claro que crime nenhum tem justificativa mas é sempre muito bom conhecer os dois lados, os motivos...
    Enfim, Por que crianças Matam é um livro que eu não leria mas não tenho dúvidas de que essa é uma ótima dica para quem gosta desse estilo de leitura... Bjos!

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    1. Olá Any.

      Olha, talvez até você conseguisse ler, porque foca mais no que aconteceu e as consequências do que no crime em si. Mas eu te entendo sim viu, realmente é meio pesadinho e pensar em uma criança fazendo essas coisas deixa a gente meio bolado.

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  6. Olá! Trabalho em uma escola com crianças entre 10 e 5 anos, e sei o quanto é complicado lidar com situações adversas e o quanto é importante entender tudo o que está por trás, daqueles comportamentos, muitas vezes, controversos e discutíveis deles. O livro parece ser bem forte e um verdadeiro tapa na cara de quem ainda continua a julgar, sem ao menos saber a história completa, muito interessante.

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    1. Olá Elizete.

      Concordo, é preciso entender o que está por trás disso ai, procurar soluções para evitar esse tipo de comportamento e não só para remediar o estrago depois.

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  7. Nossa, que leitura forte. Não conhecia o caso, estou vendo pela primeira vez e fiquei arrepiada com essa história e em como ouvir os dois lados sempre esclarece muitas coisas. Com certeza nada justifica os crimes mas quando pensamos numa criança no meio disso tudo e no lado do criminoso é impossível não pensar na criação que ela teve e nos problemas que passou. Sem duvidas uma leitura que eu não faria, mas somente porque não me sentiria bem.

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    1. Olá Luana

      Eu entendo, é algo que incomoda, uma criança fazendo esse tipo de coisa é bem chocante. Ma é uma leitura bem interessante, vale muito a pena a leitura.

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  8. Oi, Fábio!!
    Realmente o livro traz um tema bem pesada, e fico me perguntando o que leva uma criança cometer assassinados. Mesmo não sendo o tipo de livro que leio atualmente fiquei bem curiosa para saber mais sobre essa história.
    Bjos

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  9. Olá, Fábio
    O tema do livro é pesado, mas se faz necessário.
    Sem justificar o comportamento de Mary Bell, mas ser criada por uma mãe que só aproveita da filha em todos os sentidos não é fácil.
    E nos leva a refletir como estamos educando as crianças de hoje, seja mãe, pai, tios, avós, professores, enfim todos aqueles que tem contato com a criança. Ter um olhar sobre o comportamento e atitudes das crianças, muitas vezes pode nos revelar o que ela passa em casa.
    Quero muito ler o livro, beijos!

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  10. É sem dúvida uma história pesada. Acho super importante a discussão do tema muito mais para pararmos de sermos tão taxativos. As pessoas e sua ações são muito mais cinzas do que preto e branco. O que não justifica nenhum tipo de absolvição. Porém, como mencionado a compreensão de um cenário poderia, talvez, ser evitado.

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  11. Que livro forte, trazendo algo que foge doque estamos habituados a ler, mas que nos ensina a julgar menos e pensar mais no que leva uma pessoa a cometer certos crimes. Esse é um livro que gostaria de ler, assim que surgisse uma oportunidade.

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  12. Realmente uma leitura pesada e incomoda mas necessária para entendermos o que levou Mary a cometer tal ato bárbaro.

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