Com ela em minhas mãos, estava prestes a cortar os fios de meu cabelo e com ele, ir embora, toda minha esperança. A esperança que sempre tive para viver, que sempre tive de manter-me feliz. Agora, se esvaía tudo de mim: o cabelo, o amor por mim, a felicidade e a vida. Estava perdendo-a a cada dia.
A vida escorria de minhas mãos e se perdia no vasto chão, que não conseguia ter forçar para agachar-me e pegá-la.
- Não faça isso, filha – disse minha mãe, ao abrir a porta do quarto.
- Já estou fazendo, mamãe. Meu mundo está se acabando.
- Querida, isso é só uma fase que você está passando. O médico disse que se você fizer o tratamento direitinho, poderá ficar boa.
- Já estou cansada dessas conversas. Estou num quadro muito avançado. Não tem mais cura e estou ficando careca. Cada dia fito um punhado de cabelo em minhas mãos. Prefiro cortar logo do que outra pessoa fazer isso, a vergonha seria maior.
- Você vai melhorar, filha. Confie em mim.
- Mãe, é triste... Mas você acha que eu não posso ver como estou piorando? Não tenho mais forças, meus cabelos se perderam, meu sangue está, cada vez, mais fino. Estou morrendo e só você não consegue ver isso. Porque escondeu minha doença? Por que disse que não era nada grave? Não poderia ser algo banal com todos esses remédios que tomo. Eu descobri tudo. Tenho leucemia e você escondeu isso de mim, achou que eu seria curada, antes de descobrir – no mesmo instante que falava, lágrimas molhavam minha face – Você me feriu muito com essa atitude.
- Não, por favor, não diga isso. Nada em toda a minha vida me magoou tanto quanto saber que havia ferido você. Achei que não fosse um quadro tão sério. Jamais quis te ferir, me perdoe, Judith. Eu te amo e lutarei pela sua cura.
Ela ajoelhou-se perante meus pés, agarrou-me e implorou meu perdão.
- Entendo sua atitude, mamãe. Nem tudo funciona assim: escondendo as coisas. Você me magoou muito, mas perdoarei porque consigo te entender, apesar de tudo – levantei-a, levando para perto de meus braços.
- Vamos cuidar de você, querida. Obrigada por entender minha atitude.
Ela abraçou-me e a esperança de viver tomou conta, novamente, de mim.