Eu tentei, por infinitas formas, mostrar para mamãe o quanto eu sofria com a decisão que ela tomava para si e acabei sendo a principal vítima nessa consequência.
Aqueles olhos arrebatadores destruíam a minha pequena e medrosa visão. Ele me consumia, me devorava, abusava do meu medo e nada podia fazer ou morreria com ela.
Mais uma noite e essa foi fatal, obrigou-me a coisas absurdas e as lágrimas, que antes escondia, foram reveladas aos olhos de mamãe. Não falei superficialmente. Contei tudo. Cada detalhe, cada forma de agonia e sofrimento. Ela nunca acreditou, mas agora, com detalhes precisos e o sofrimento de rancor no meu olhar, ela acreditaria em mim. Mais uma vez me enganei.
"Eu odeio te ver chorar, portanto, acabe com suas lágrimas e escute: Não acredito em nada do que você diz. Você não vai destruir o meu amor, a minha felicidade. Jamais acabará com a minha vida!". Aquilo foi o fim para os meus ossos que ainda permaneciam de pé, pois a carne já estava acabada. Usada, desgastada. Morta!
Ela odiava meus choros, meus sorrisos. Ela me odiava por completo e jamais acreditaria em mim.
Tentei alertá-la e não consegui. Tentei odiá-la, mas ainda amo-a mais do que a força que se esvaiu de mim.
Não posso deixá-la, mas não aguentaria sofrer mais uma noite e dar a ela mais uma lágrima em forma de raiva.
Resolvi partir em silêncio com um fruto que está dentro de mim. Aquele canalha deu-me um filho e destruiu a felicidade que eu tinha: O amor da minha mãe.
Natalia Araújo, 14/07 – 12h14
Nada no texto é real... Foi um dos textos mais fortes e marcantes que já escrevi. Só pelo fato de saber que isso existe. Uma dor e tanto...
“Do que adianta chorar agora?”, eu me pergunto em meio às lágrimas que rolam pela minha face e se perdem ao encontrar o copo em meus lábios.
“Uma dose, por favor”, é o que peço para o garçom, querendo que a coragem venha junto com ela. Nada vem. Nada aparece. Você não ressurge.
Outra dose de uísque. Não consigo parar de olhar para a porta, desejando que você venha e mude tudo como fez antes. Mas as doses não te trazem de volta e nem, tampouco, amenizam a sua ausência.
Era tão bom quando vivíamos juntos e tua presença mudava todo o ritmo da minha vida. Destruía todos os desânimos que minha mente poderia chegar a imaginar. Tuas palavras eram como um estímulo para chegar ao ápice das minhas vontades.
Você poderia surgir por aquela porta, mas a dúvida prevalecia. “Nossas conversas não seriam trocadas aqui e nem em qualquer outro lugar que fosse”, eu pensava, alimentando minha tristeza.
Tuas mãos alentavam as minhas, quando me tocava. Teu olhar me transmitia forças, enquanto notava o brilho tremeluzente neles.
Eu poderia dizer que isso é um passado que deve ser esquecido, mas não dá. Os melhores momentos que tive foram os que vivi ao seu lado e agora tudo não passa de apenas uma ansiedade e desejo de vê-lo outra vez e mudar minhas atitudes, como você sempre fazia.
Não posso esquecer. Não seria capaz de apagar lindos momentos e fingir que tudo passou de apenas um passado que devia ser apagado. Não! Cada instante é levado comigo, por mais que você não reapareça. Por mais que já tenha esquecido de mim e das nossas conversas. Não paro de sentir sua falta. Cresci ao seu lado e sinto necessidade de estar perto de ti. Te busco numa dose, em outra, ou até mesmo por entre a porta aberta do salão. Você não vem.
Enquanto te procuro, me perco por entre o oceano de lágrimas que se perpetuam em minha face.
Espero você aqui! Gostaria que pudesse ouvir minhas súplicas por telepatia.
Eu te amo, pai e sei que voltará para me buscar. Eu sei!
A porta foi aberta e os meus olhos voltaram a brilhar. Sabia que ele voltaria e não esqueceria nosso passado juntos. Mudaria minha vida, mais uma vez. Como ele sempre soube fazer e estava certa disso!
Fixei meu olhar
E parei minhas mãos na direção das tuas.
Eu prendi a respiração,
Parei meu corpo
E imobilizei meus lábios frente ao teu.
Parei meus passos para ter aquele momento contigo;
Fixei meu olhar para que o brilho dos seus fossem refletidos nos meus;
Parei as minhas mãos para que eu pudesse sentir suas carícias nas minhas;
Prendi a respiração para que eu pudesse sentir a sua;
Estacionei meu corpo para sentir o calor do teu;
Imobilizei meus lábios para sentir o gosto do teu beijo;
Fiz nossas vidas pararem no tempo para que vivêssemos um momento juntos,
Mas você não me compreendeu e ficou parado também, esperando por mim.