Rose McGowan esteve nas telas das nossas TVs por décadas. Ela foi Paige Mathews, meio irmã das Halliwell no seriado de TV Charmed. Além disso você já viu Rose em filmes como Pânico, Fantasmas e Grindhouse de Quentin Tarantino.
Mas o que você talvez não saiba é que Rose rompeu com Hollywood, se rebelando contra os poderosos e encontrando sua própria voz.
Coragem conta sua história.
Sinopse: ROSE McGOWAN nasceu em um culto e o trocou por outro, mais visível: Hollywood.Rose McGowan se tornou uma das atrizes mais desejadas de Hollywood da noite para o dia quando foi "descoberta" nas ruas de Los Angeles. O estrelato logo se tornou um pesadelo de exposição constante e sexualização. Todos os detalhes de sua vida pessoal se tornaram públicos, e as realidades de uma indústria inerentemente machista emergiam a cada roteiro, papel, aparição pública e capa de revista.Hollywood esperava que Rose ficasse quieta e cooperasse. Em vez disso, ela se rebelou e impôs sua verdadeira identidade e voz. Ela reemergiu sem roteiros nem desculpas, corajosa, controversa e sempre verdadeira. Liderando o movimento de denúncias de assédio sexual na indústria de entretenimento ao expor os crimes de Harvey Weinstein, Rose é hoje um dos rostos do movimento feminista e não hesita ao disparar verdades inconvenientes e exigir mudanças.CORAGEM é seu livro de memórias em forma de manifesto - um relato sem censura nem piedade da ascensão de um ícone millennial, uma ativista sem medo e uma força de mudança imparável determinada a expor a verdade sobre a indústria do entretenimento, trazer à luz uma indústria multibilionária construída sobre a misoginia sistêmica e empoderar pessoas ao redor do mundo a acordarem e terem CORAGEM.
Biografias não são meu estilo de leitura e tirando a do meu amado Ozzy Osbourne, nenhuma chegou a me chamar a atenção. Porém, quando a Harper Collins me enviou Coragem e eu me encontrei encarando os olhos de Rose, que eu tanto admirava desde Charmed, me vi compelida a ler e a entender o que ela tinha para me contar. E ela tinha muito para contar, muitas aventuras e muitos sofrimentos. Descobri que ela nasceu na Itália, dentro de uma seita chamada Meninos de Deus, e posso afirmar que, depois do que li, nada ali era realmente de Deus.
Enquanto esteve dentro dessa seita, Rose foi uma criança que sofreu abuso psicológico, que passou fome e que apanhou. Não tinha acesso às coisas do mundo e ia percebendo, a seu jeito, como tudo que acontecia ali dentro era errado. A seita era sexualizada, chegando a explorar meninas e jovens para que essas trouxessem novos membros masculinos para dentro da Meninos de Deus.
Em um dado momento seu pai "acordou" e fugiu para os Estados Unidos levando Rose e seu irmão. A vida nos EUA não se provou fácil, e ela odiava a cultura local com seu queijo laranja e seus hábitos barulhentos. Rose era uma criança reflexiva e empreendedora, e aos poucos foi se encaixando, a seu modo, em toda essa nova vida que o pai a enfiou. Quando sua mãe reapareceu em sua vida e a levou para morar com ela, Rose teve mais decepções. As escolhas amorosas da mãe sempre envolviam homens violentos e abusivos e ela lutava contra isso em casa com unhas e dentes.
Ter voz e ser ouvido é um direito humano básico e essa injúria estabeleceu um tipo de padrão em minha vida. Pág. 56
Com todo um histórico de violência familiar, Rose virou uma fugitiva, drogada e acabou internada. Aos 14 anos trabalhou em uma funerária, depois em um cinema e foi com essa idade que começou a perceber que seu corpo chamava a atenção dos homens. O desenrolar de sua história parece com a de tantas outras moças que desembarcam na Cidade dos Anjos em busca de um lugar na indústria cinematográfica. A diferença é que Rose não estava buscando ser atriz, isso apenas aconteceu com ela. Assim como o estupro e abuso por parte de um dos figurões de Hollywood, e também como as obscenidades que ela e outras mulheres eram obrigadas a ouvir dos diretores e produtores.
A diferença é que eventualmente, Rose encontrou sua voz.
E em meio a tudo isso, houve também a comoção da mídia quando ela, uma moça linda, começou a namorar Marilyn Manson, o músico esquisitão. Nada parecia se encaixar, mas ela sabia o que tinha ao lado dele. Finalmente era compreendida, amada e respeitada. Será?
Rose foi uma pioneira no quesito "não me importo com o que você pensa". Sofreu slut shamming (1), assinou contratos que causaram muitos danos a sua saúde física e mental até que, finalmente encontrou sua voz nas redes sociais, principalmente no twitter.
A guerra de Rose é a guerra de todas nós. Não podemos ser definidas por homens e seus desejos. Não podemos nos deixar manipular ou subjugar. Temos nossa voz, somos donas do nosso corpo e não apenas objetos de luxo/lixo para alguns seres que se comportam como donos do mundo.
Esse é um livro que retrata cruamente o que acontece nos corredores de Hollywood e em suas festas mais hypadas. Rose é direta, sem não me toques e não poupa ninguém.
Mais do que uma biografia, CORAGEM é um manifesto, uma declaração de que é possível se rebelar e sobreviver. Mas não sem algum sofrimento.
A sociedade dominada por homens nos faz perceber que em último caso somos nós, as mulheres, que salvam. Nós somos o cavalo branco e temos que contar com ninguém além de nós mesmas. Pág. 57
Sobre a edição: A Harper Collins reproduziu com capricho a mesma capa que o livro teve no exterior. As páginas amareladas facilitam a leitura e a diagramação está muito boa. Ainda acho a letra pequena, mas... estou ficando meio cega mesmo. Encontrei alguns erros de revisão, mas nada que atrapalhe o curso da leitura.
Título: Coragem (exemplar cedido pela editora)
Autora: Rose McGowan
Editora: Harper Collins
Páginas: 288 páginas
Ano: 2018
(1) - Em sexualidade humana, slut-shaming (do inglês, slut, gíria para se referir a mulher promíscua, prostituta, e shaming, de shame, verbo que significa "envergonhar, causar vergonha", em tradução livre, seria "[pôr] pecha de prostituta" ou "tachar de prostituta" ou "de vadia") é uma forma de estigma social aplicada a pessoas, especialmente mulheres e meninas, que são percebidas por violar as expectativas tradicionais machistas de comportamentos sexuais. Alguns exemplos de casos em que as mulheres são "envergonhadas por ser vadias" incluem violar os códigos de vestimenta aceitos por vestir de forma percebida como sexualmente provocativas, o pedido de acesso ao controle de natalidade, ter sexo casual antes do casamento ou ser estuprada ou sexualmente agredida (o que é conhecido como culpabilização da vítima). Fonte- Wikipedia