O dia começa como qualquer outro. Rachel Klein deixa sua filha de 13 anos no ponto para ir à escola e volta à rotina. Seria tudo normal, se algo não saísse dos trilhos e devastasse para sempre a vida daquela mãe e daquela garotinha.
Vítima
Rachel se depara com a pior notícia que poderia receber: sua filha foi sequestrada. Não há muito o que entender e assimilar sobre o assunto. É um fato incontestável que a deixa sem reação. Não sabe se ultrapassa a ligação telefônica, se aciona a polícia, se deseja vingança ou o que quer que seja… Ela só quer a sua filha de volta. E, acredite, ela precisará lutar muito pra isso.
Sequestrador
No momento da ligação, a voz de uma mulher avisa que Kylie está no banco de trás de seu carro, e que Rachel só verá a filha de novo se pagar um resgate. E não apenas isso, para ter a sua filha de volta ainda será preciso sequestrar outra criança. Rachel não sabe nada sobre quem é a outra pessoa do outro lado da linha, mas ela sabe tudo sobre Rachel. Com quem vive, o nome e a idade da Kylie, onde estuda, o que fazem da vida. Tudo.
Criminoso
Com a filha em risco, não há alternativa a não ser fazer tudo o que é exigido. Rachel, aos olhos da lei, passa a ser uma criminosa. Afinal, no lugar dela você faria diferente? Você chamaria a polícia e arriscaria a morte de seu filho? A lógica desse jogo é justamente te fazer pensar, ou você sequestra ou perde aquela pessoa tão querida. Rachel prepara suas armas, estuda o caso e, o tempo todo, recebe ligações dessa mulher com algumas instruções. Não pode sequestrar filhos de policial, não pode ser aposentado na área policial, nada que envolva a polícia. Não pode. É necessário estudar a família antes de partir para o ataque. E Rachel faz. Precisa fazer.
Sobrevivente
Rachel e a filha sobrevivem apenas se ela conseguir sequestrar a criança e fazer com que a família dessa criança sequestre outra. Não parece fácil, pois, se os pais da pessoa que ela sequestrou fizer alguma coisa errada, Kylie ainda pode morrer. Então ela precisa lidar com o próprio sentimento e controlar o sentimento da família que está em seu poder. É um jogo, não há outro nome.
A corrente é o típico livro para você ler sem preocupações com outras coisas, pois, acredite, você é capaz de esquecer qualquer coisa quando embarca na história. Li tão rápido que precisava saber o que acontecia, como que essa corrente foi criada, como poderia ser desfeita ― se é que existisse um jeito para isso.
Você pode dizer que leu esse livro e que não gostou. Respeito. Porém, duvido você me dizer que essa história não é criativa. Fiquei o tempo inteiro indignada, refletindo como o autor teve uma ideia tão mas tão genial. O desfecho é, sim, bem previsível. Mas, convenhamos, muitos suspenses estão assim agora, até mesmo pelo excesso de histórias. Acredito que o autor poderia ter modificado o final. Porém, eu gostei tanto da criatividade dele para desenvolver uma história assim que nem me importei com a conclusão.
Às vezes somos críticos demais com algumas coisas, por pequenos detalhes e não nos deparamos com a imensidão do que está por trás. Digo isso porque muitos não gostaram do final de Game of Thrones. Já disse isso numa resenha e repito, o fato de o final não ter agradado você, ou qualquer outra pessoa, não quer dizer que a série toda perde a sua importância, a sua essencialidade em ser vista. É uma série para aplaudir de pé, independente se o final tenha agradado. Não se baseie na história apenas pelo seu final, veja o caminho percorrido, a ideia por trás.
Pode ser que o autor tenha tido uma ideia tão boa e não tenha conseguido finalizá-la. É entendível, mas cabe a você ler e fazer uma avaliação. Deixei esse adendo porque vi muitas pessoas dando 1, 2 estrelas apenas por causa do final. Peço que não se prendam a isso, leiam e depois venham conversar comigo.
Outra coisa que vi e PRECISO ressaltar… Algumas pessoas comentaram sobre a personalidade da Rachel, que ela foi fragilizada pelo autor, que dependia de outras pessoas para realizar o crime, que o autor deveria ter mostrado uma jornada mais ardilosa, com uma protagonista assassina. Mas, espera aí, gente! Você querer que o personagem seja uma coisa, tudo bem… No entanto, não se pode impor que ele seja assim.
Pensemos: você conseguiria ser um assassino frio, calculista e não errar nenhum detalhe no momento do sequestro para livrar seu filho? Se você respondeu que sim a essa pergunta, parabéns! Acontece que o fato de você ser assim não quer dizer que todos sejam. A mulher ao telefone deixou que Rachel chamasse UMA pessoa para ajudá-la, mas essa mesma mulher estudou detalhes antes de liberar a ajuda e já deixou claro para a Rachel que não poderia ser o ex-marido. O motivo vocês vão entender lá na frente… Mas, enfim, existem pessoas que reagem de forma mais bruta, fria, independente. Há outras que não conseguem, que a reação é desmaiar, ou denunciar, ou simplesmente agir como Rachel, com medo em alguns momentos e em outros ela já está um pouco mais forte, lidando mais com a ideia criminosa.
Não deixe de ler o livro porque algumas pessoas falaram isso. Acredito que você precisa ler, conhecer e ter a sua opinião. Não deixe a oportunidade passar. Já indiquei para alguns amigos e eles compraram porque falei bem. Espero que você faça o mesmo também.
Quotes:
“Como todos eles. Vítimas e cúmplices. É isso que a Corrente faz com você. Ela te tortura e te obriga a torturar outras pessoas.” (p. 233)
“A Corrente é um método cruel de explorar o sentimento humano mais importante ― a capacidade de amar ― para ganhar dinheiro. Não iria funcionar em um mundo no qual não houvesse amor entre pais e filhos ou entre irmãos ou entre casais.” (p. 357)
Título: A corrente (exemplar cedido pela editora)
Autor: Adrian McKinty
Editora: Record
Páginas: 378