Acabei de ler Raio de Sol, de Kim Holden. Confesso, estou com dificuldades de escrever no momento. A leitura acabou comigo. Simplesmente, acabou comigo.
O livro conta a história de Kate, uma jovem mulher que já passou por muita coisa. Precisando Respirar novos ares, precisando reorganizar a própria vida, ela aproveita uma bolsa de estudos que recebeu e se muda da ensolarada Califórnia para a fria Grant, em Minnesota.
O livro inicia justamente quando essa mudança acontece, e cada capítulo retrata os acontecimentos de um dia na vida dos personagens, alternando entre os pontos de vista de dois deles. Embora os capítulos sejam dispostos desta forma, penso que o livro possui três protagonistas. Cada um desempenha um papel fundamental na história.
Como eu disse, Kate já passou por muita coisa. Mas enquanto uma vida difícil é capaz de embrutecer o menor dos corações, com a protagonista as circunstâncias fizeram com que seu coração fosse do tamanho do mundo. Ela é alegre, é positiva, não entrega os pontos facilmente. É o tipo de personagem que faz a diferença na vida de todos os outros, incluindo os secundários. E o melhor dela? Ela vai plantando sementinhas durante todo o livro. E quando a gente percebe, as flores estão ali, prontas para serem colhidas.
Gus é o amigo inseparável de Kate. Um músico talentoso, um cara lindo, grande, com o coração do tamanho do mundo. A amizade deles é abordada em todos os capítulos até, pelo menos, metade do livro. O leitor consegue se envolver com eles. Consegue ter uma dimensão do amor e da admiração que transita entre os dois. Eles se apoiam, eles se instigam a fazer melhor, eles suportam a dor do outro. Eles são abrigo, proteção, refúgio. Eles são almas gêmeas. Eles são tudo um pro outro e, embora a distância entre eles doa, um motiva o outro a continuar seguindo em frente, a continuar correndo atrás dos próprios sonhos. E, ao conhecer Gus, é impossível não se apegar e se apaixonar.
Embora se conheçam no início do livro, a relação de Kate e Keller vai amadurecendo conforme avançamos na leitura. Há sim uma atração imediata, mas o que o leitor percebe é que o amor que surge entre eles é maior que qualquer coisa. Mais um encontro de almas. Puxa, será que isso é possível? Acho que sim. O Keller chega e passa a ocupar um espaço que nunca fora preenchido no coração de Kate. Eles se tornam amigos, mas mais que isso. Eles se tornam amantes, mas é muito, muito mais do que isso. Ambos têm segredos, que são revelados lá pela metade do livro. O dele um pouco antes, na verdade. E quando eles estão assim, inteiramente expostos, o que vemos é lindo.
Raio de Sol é um livro que não tem encheção de saco. É uma história que não tem mimimi. Não tem aqueles dramas adolescentes, tão comumente encontrados nos YA por aí. Não, neste livro tem drama de verdade. Drama com D maiúsculo. Tem aquele tipo de situação que faz o leitor chorar. Chorar a ponto dos olhos incharem e a garganta arder, e a gente se perguntar por que decidiu ler o livro logo hoje, logo agora. Eu respondo: porque sim. Porque é épico.
É um livro que vai, aos poucos, nas entrelinhas, mostrando que a vida é um dom. Que merece ser vivida, sem arrependimentos. Que é importante confiar, não julgar, acolher e estar ali para as pessoas que amamos. O livro mostra que às vezes a única coisa que o outro precisa é que a gente estenda a mão. Que ouça com atenção.
Às vezes, tudo o que a gente precisa, é se permitir ser quem de fato é. Às vezes, a gente só precisa aproveitar as pequenas coisas da vida. Elas podem vir na forma de uma boa música, ou quando é possível dançar até sentir os joelhos doerem. Quem sabe a possibilidade de comer um chocolate enquanto assiste o pôr do sol. Ou, talvez, poder tomar um café quentinho enquanto lê um livro. Essa para mim foi a grande sacada do livro, mostrar que é possível encontrar amor, felicidade, vida, nas pequenas coisas.
Não, não é um livro de autoajuda. E também não é o tipo de história estilo Pollyana. É na verdade uma obra capaz de nos fazer enxergar a vida de maneira diferente. O livro nos apresenta todas as possibilidades, e nos mostra que cabe a nós decidir o que fazer a respeito delas. Pretensioso? Talvez. Pode ser que a história não seja absorvida da mesma forma por todo mundo, mas digo uma coisa, impossível terminar a leitura e não pensar em ser épico. Impossível conhecer essa história, esses personagens, e não querer fazer o épico.
A diagramação está simples, objetiva. Encontrei poucos erros, apenas de digitação (letrinha faltando na página 234, uma letrinha trocada na página 373, uma palavrinha intrusa na página 382). Mas acho que o que mais me incomodou foi a espessura da capa. Parece tão fininha, principalmente levando em consideração que a obra tem 448 páginas, que muitas vezes deu a impressão que a capa ia soltar, rasgar. Ficou torta, mesmo eu tomando o maior cuidado com o livro. Um pequeno viés, que não é capaz de tirar o brilho do livro, mas que pode ser melhorado em futuras edições.
Quotes:
“Sei que muitas pessoas adoram coisas chiques e respeito isso, mas acho supervalorizado. Faz com que eu deseje o simples. O chique esconde muito, enquanto o simples mostra tudo sem tentar justificar”.
“Sei que é estranho, mas gosto de pensar em Deus como meu amigo. Não só religiosa; só falo co ele com frequência. Peço muitos favores. Às vezes, as coisas funcionam a meu favor, e às vezes, não. É a vida. A gente só precisa aproveitar ao máximo”.
“Faça épico”.
Outras fotos:
Título: Raio de Sol
Autora: Kim Holden
Editora: Planeta
Páginas: 448
Ano: 2016