Comecei a leitura de
Tudo pelos ares intrigada com a proposta do autor. Um caso de amor e um crime horrendo em pleno cenário de Lava-jato. Porém, não foi bem o que eu esperava.
O livro é narrado em terceira pessoa e temos como protagonista JB (sim, seu nome não é citado na trama, apenas a forma como é chamado), um homem de negócios que tem uma vida dupla, pois para sua família é um homem respeitável e correto, mas ele esconde uma amante e negócios não tão corretos assim.
Na noite de Revéillon, toda sua família vai para Nova York passar a virada de ano lá e ele tem passagens áreas compradas para o último dia do ano, porém ele não planeja ir a essa viagem para passar sua virada com Elisa, a mulher por quem se apaixonou.
Na sinopse do livro, entende-se que há um amor desenfreado na trama, porém em momento algum esse relacionamento me convenceu. JB conheceu Elisa em um voo e se sentiu atraído por ela, mas ela o recusou a todo custo. Eles transaram algumas vezes e ele sempre procurou por ela e embora ele estivesse “apaixonado”, Elisa só ficava com ele porque ele era sósia do seu ex-marido. Sim, JB era muito parecido com Tino, um investidor e agiota barra pesada que foi casado com Elisa. Tanto que nos momentos dos dois, ela sempre chamava JB de Tino. Não senti química entre os dois nem nada arrebatador, então para mim o autor pecou nesse aspecto.
Mas voltando à história, JB deixou Elisa em um quarto de hotel para ir a outro hotel onde estava hospedado para manter as aparências, ligou para sua família e disse que estava resolvendo assuntos urgentes e logo estaria com eles. Quando voltou ao quarto de Elisa para passarem a melhor noite juntos, ele foi surpreendido.
Ele não encontrou sua amada o esperando, ao invés disso, encontrou dois corpos ensanguentados estirados pelo quarto: o de Elisa e de seu ex-marido, Tino.
Será que o alvo do assassino era mesmo Tino ou seria JB, já que se pareciam tanto? E o que Tino estava fazendo naquele quarto se os dois já não tinham mais nada?
A partir desse acontecimento, toda a narrativa do livro é voltada para o que aconteceu desde que JB conheceu Elisa até chegar naquele assassinato.
E é nessa hora que o livro fica confuso, pois a história alterna entre presente, passado, muito passado e você fica perdido em que parte da história está, pois não existe uma separação em si. O leitor vai deduzindo de acordo com os acontecimentos, confesso que isso me deixou bastante perdida na história.
Ah, e você deve estar se perguntando onde entra a Lava-jato nessa história, certo? A proposta do autor foi criar uma ficção em cenário verídico, ou seja, ele criou esse romance de JB e Elisa e o assassinato dentro do escândalo da Operação Lava-Jato que chocou todo o país.
Acontece que nosso querido JB, que, como eu disse, tinha seu lado oculto, era pago (e muito bem pago) para sumir com as provas que incriminavam os políticos e empresários que estavam envolvidos no escândalo. Em tempos de delação premiada, o que ele precisava fazer é com que a justiça não conseguisse provar o que os delatores testemunhavam.
E sem provas, dificultava todo o processo. JB tinha um parceiro, o Máscara, e agiam com cautela e precisão, de forma a nunca deixarem pistas.
Em meio a todo o cenário de confusão no país e intervenção da Polícia Federal, JB corta um dobrado para não ter seu nome envolvido no escândalo e no assassinato.
A proposta do livro foi interessante, realmente me despertou interesse, já que é uma crítica à bagunça que o nosso país se encontra. Entretanto, não me senti ligada à história, pois além do romance ter sido raso, a linguagem do livro é muito formal e confusa de forma que, para mim, a narrativa não fluiu.
O livro é curto, todavia, é muito denso e dessa forma eu não consegui ler com rapidez. Acho que se tivesse uma linguagem mais leve, uma narrativa mais fluída, a leitura teria sido mais prazerosa para mim.
Mas, como sempre digo, se não deu para mim não significa que não vai dar para você, então acho que vale muito a pena dar uma chance à obra. Pois, por mais que tenha pecado na narrativa, você ainda fica curioso para saber no que JB está envolvido e tudo que tem por trás do tal assassinato.
Sobre a edição: A edição da Bagaço é simples, o tamanho da fonte e a disposição dos capítulos são ótimos. O que me incomodou foi a cor das páginas, que são brancas, eu sempre prefiro as amareladas. Além disso, os diálogos são inseridos dentro dos parágrafos em itálico, não tem aspas e nem travessão separando, o que deixa muito confuso. Eu custei a entender que eram falas e muitas vezes temos perguntas e respostas colocadas juntas que me deixaram perdida quanto de quem era cada fala.
Título: Tudo pelos ares (exemplar cedido pela Oasys)
Autor: José Nivaldo Junior
Editora: Bagaço
Páginas: 143
Ano: 2018