Na noite do dia 23 de outubro, ele foi assassinado. Arrancaram-lhe os olhos: é até difícil entender o motivo, mas como me disseram e você sabe muito bem como ele ficava olhando as mulheres casadas; cortaram-lhe a língua: por falar tantas coisas para elas e ia além, ainda desafiava seus maridos, chamando-os de “moles”, “frescos” e “chifrudos”; cortaram-lhe os dedos: ainda não entendi o porquê, mas dizem as más línguas que era porque ele vivia apontando os erros alheios.
De fato, Christoffer, não estou feliz com o ocorrido. Talvez, pelo meu pressuposto, pela forma que lhe escrevo, venha estar convencido que era o que eu queria. Mas não é. Você sabe o quanto o amava e ainda o amo. Ver aquele corpo desfigurado trouxe o gosto da morte perto do meu ventre.
Seus pés foram cortados e encontrados esquartejados, ao lado da sua cabeça. Talvez ele estivesse ultrapassando os limites, não sei. Realmente não tenho ideia quais razões levariam alguém a matar outro de uma forma tão exacerbada.
Ainda tem mais e acredito ser o pior, tiraram-lhe a pele; rasgaram seu corpo com uma gilete e escreveram: “eis a minha vingança por tudo que me fez passar”.
Sabe do que mais sinto falta? De quando ele corria para os meus braços gritando, chamando-me de mãe e pedindo que eu o pegasse no colo e fizesse carinho. Ele encostava sua cabeça em meu ombro e eu sentia as lágrimas queimarem minha pele, a pele de uma super mãe protetora.
Sinto falta de quanto passeávamos, procurando o melhor lugar para comprarmos seu presente favorito.
Hoje, a tristeza é tamanha que prendo-me a ela, no conjunto interminante da saudade e das lágrimas que impedem a minha liberdade.
Não assassinaram nosso filho, não assassinaram seu corpo, não arrancaram seus olhos, sua língua, seus dedos... Não!
Assassinaram a minha felicidade, a minha vida. Assassinaram a minha alma e isso não há perdão.
Sim, Christoffer, foi Jeffrey, o nosso caçula que o matou.O por quê? Algumas de suas justificativas foram empregues nesta carta, o restante eu deixo para você mesmo perguntar a ele.